Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, e Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Gaia, vão marcar presença esta quinta-feira, às 11h00, no Laboratório Edgar Cardoso, à beira da Ponte de São João, em Oliveira do Douro.

Numa nota enviada às redações, a autarquia da Invicta revela que vai ser feito “um importante anúncio para as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, bem como para toda a Região”.

O JPN juntou uma lista de quatro projetos relacionados com ligações das duas cidades, equacionados nos últimos anos, mas que não chegaram (ainda) a ser concretizados.

Vai o Douro ter mais uma ponte? Ou é o elétrico que vai voltar à Dom Luiz? Vai o tabuleiro da Ponte Maria Pia ser finalmente reabilitado? Ou  é o tabuleiro inferior da Ponte Luiz I que vai ser alargado? Estas são as hipóteses que reunimos e às quais juntamos a opinião do geógrafo Rio Fernandes e do ex-vereador Manuel Correia Fernandes.

Elétrico no tabuleiro inferior da Ponte Luiz I?

Das quatro possibilidades que aqui deixamos, esta é a mais recente. O assunto foi notícia na sequência de uma reunião ordinária da Área Metropolitana do Porto (AMP) na última sexta-feira.

Na sequência da aprovação de uma proposta da Câmara do Porto no sentido de municipalizar a gestão do carro elétrico – a par do que já aconteceu com a STCP -, Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da AMP e da Câmara de Vila Nova de Gaia, manifestou no final do encontro a sua vontade de ver os elétricos a ligarem novamente Porto e Gaia, através do tabuleiro inferior da Ponte Luiz I.

“Gaia vê com bons olhos a articulação com o Porto na gestão não só deste processo de municipalização do carro elétrico, mas também na eventual extensão deste serviço ao seu território”, disse Eduardo Vítor Rodrigues numa declaração registada pela Agência Lusa.

Recorde-se que Gaia já teve elétrico, antes de o tabuleiro superior da Ponte Luiz I ser entregue ao metro. A hipótese parece ganhar força perante uma outra, também para o tabuleiro inferior – sobre a qual se falará adiante – que por implicar alterações na estrutura da ponte – ainda para mais localizada em zona classificada pela UNESCO – parece ter perdido força.

“Fizemos uma proposta muito concreta para alargar o tabuleiro inferior com criação de zona de peões exterior ao existente. Levantou muitas dúvidas, empecilhou-nos, mas hoje temos a possibilidade de avançar ou exigir às IP que avancem” com a obra, ainda que “eventualmente tendo em conta as novas realidades que aqui se estão a pôr”, concluiu o autarca gaiense.

José Rio Fernandes, geógrafo e professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), tem sérias dúvidas sobre a medida: “Fazem falta elétricos rápidos e confortáveis”, em locais como a Avenida da Boavista e a Foz, cujas linhas foram abandonadas.

Contudo, o professor considera que a passagem de elétricos na Ponte Luiz I poderá “causar imenso transtorno por causa das filas que vai criar numa área já congestionada” além de ficar “muito caro”.

A mesma opinião é partilhada por Manuel Correia Fernandes, arquiteto e ex-vereador do Urbanismo da Câmara do Porto

“A ponte tem limites como estrutura. Não me parece que sem obras de fundo seja possível introduzir a linha do elétrico. Não me parece que tenha pernas para andar”, concluiu.

Sétima ponte sobre o Douro?

A 18 de dezembro do ano passado, Rui Moreira assumiu, na Assembleia Municipal do Porto, que as autoridades colocavam “fortíssimas dúvidas” ao projeto de remodelação da Ponte Luiz I que previa a construção de passeios exteriores para peões e ciclistas no tabuleiro inferior.

A construção de uma nova ponte a montante da Ponte Luiz I, insistiu o autarca, aparece assim como uma solução “mais viável”. Segundo a Lusa, Rui Moreira explicou nessa altura que, com a eventual construção de uma travessia, a Ponte Luiz I ficaria interdita à circulação automóvel, destinando-se apenas a peões e ciclistas.

Quanto à nova ponte, “poderia ser rodoviária e pedonal”, esclareceu aos deputados municipais, deixando em aberto a possibilidade dessa nova ligação poder também ser a jusante da Luiz I, muito embora esta opção encerre problemas no que toca à circulação dos barcos.

José Rio Fernandes considera a possível construção de uma nova ponte “interessante”, porque, desta forma, as pessoas poderiam ir por uma ponte e regressar por outra. No fundo, percorrerem as duas ribeiras.

O anúncio de uma nova travessia será uma “surpresa” para Manuel Correia Fernandes, “a não ser que seja um estudo exploratório, porque acho que não houve tempo de fazer um estudo de impacto”.

Quanto à localização da ponte, o arquiteto aponta problemas caso a opção seja a de construir a jusante. “Todas as soluções de passagem à cota baixa, à altura do tabuleiro inferior e que sejam feitas para o lado do mar podem afetar a navegação de barcos com mastros elevados. Tudo o que for a montante da ponte Luiz I é possível tecnicamente”.

Alargamento do tabuleiro da Ponte Luiz I?

Em março de 2016, Manuel Correia Fernandes, na altura vereador do Urbanismo da Câmara Municipal do Porto, disse, em reunião camarária, que o alargamento do tabuleiro inferior da Ponte Luiz I era “a solução mais doce” para resolver o problema da travessia de peões e ciclistas naquela ponte centenária.

O tabuleiro inferior da Ponte Luiz I é a única ligação à cota baixa das margens do Porto e Gaia, o que não é suficiente para comportar veículos, os peões e ciclistas.

O projeto então apresentado é dos engenheiros António Campos e Matos e José António Campos e Matos e do arquiteto Virgínio Moutinho que tiveram a ideia do alargamento do tabuleiro, através da criação de dois passadiços exteriores suspensos, um para a travessia dos peões e outro dos ciclistas.

O alargamento da ponte já foi feito no tabuleiro superior, para a passagem do metro que liga Santo Ovídio ao Hospital de São João.

O ex-vereador do Urbanismo acredita que se pode seguir a mesma filosofia no tabuleiro inferior, mas, como Moreira e Vítor Rodrigues notaram, “não houve grande recetividade por parte [das entidades que gerem o] património cultural a essa hipótese”, pelo que esta será uma hipótese mais remota.

Reabilitação do tabuleiro superior da Maria Pia?

Em Dezembro de 2016, a Direção Municipal de Urbanismo da Câmara do Porto estava a finalizar um estudo que tem em vista a construção de uma ecopista sobre o tabuleiro da Ponte Maria Pia, inativa desde 1991, numa ligação entre Vila Nova de Gaia e a Estação de Campanhã.

Ponte Maria Pia

Ponte Maria Pia Foto: Patrícia Garcia

Segundo o JPN, estava também prevista a reabilitação do ramal que fazia a ligação entre a Estação de Campanhã e a Alfândega do Porto.

Os técnicos camarários pretendiam ainda estender a ecopista a oeste, numa ligação entre a Estação de Campanhã e o Parque Oriental da cidade.

O estudo prévio estava previsto ficar pronto na Primavera de 2017, para depois de negociarem com a Infraestruturas de Portugal, proprietária da ponte, a concessão de utilização. Além disso, uma intervenção na Ponte Maria Pia, classificada como monumento nacional, teria ainda de ter o aval da Direção-Geral do Património Cultural.

Para José Rio Fernandes e Manuel Correia Fernandes, a reabilitação do tabuleiro superior da ponte D. Maria Pia é a opção mais provável de ser apresentada esta quinta-feira pelos presidentes das Câmaras do Porto e Gaia.

Do lado da Invicta, desde a saída de Correia Fernandes da autarquia, não mais se ouviu falar do projeto. Do lado de Gaia, Eduardo Vítor Rodrigues admitiu apenas, por altura dos 140 anos da ponte, completados em novembro passado, que a hipótese continuava em estudo apesar de estar “dependente de outros organismos e fontes de financiamento”.

Para José Rio Fernandes e Manuel Correia Fernandes, a reabilitação do tabuleiro superior da ponte D. Maria Pia é a opção mais provável de ser apresentada esta quinta-feira pelos presidentes das Câmaras do Porto e Gaia.

E ainda…

Em matéria de novas pontes sobre o Douro, refira-se também que há algum tempo se fala de uma nova ligação de metro entre o Campo Alegre e as Devesas através de uma nova ponte, ligação essa que foi estudada no âmbito da expansão da rede de metro do Porto recentemente anunciada.

Essa opção foi deixada de fora pelo Governo – que escolheu fazer as linhas Rosa (São Bento-Casa da Música) e Amarela (Santo Ovídio-Vila d’Este) -, mas ficou bem colocada para a próxima fase, já no âmbito das negociações do próximo Quadro Comunitário de Apoio.

Essa nova travessia, apontada como uma das prioridades dos dois municípios em matéria de mobilidade no âmbito de um documento de trabalho assinado em setembro, tem um custo estimado de 30 milhões de euros. “O correspondente, mais ou menos, a meio pilar de uma ponte sobre o Tejo”, ironizou na altura o autarca de Gaia.

Artigo editado por Filipa Silva