Melhorar as condições de vida e conhecer de forma aprofundada a realidade dos idosos que vivem nas 13 mil casas geridas pela Domus Social, neste momento, e assim ativar respostas para situações de fragilidade. É este o grande objetivo da iniciativa “Porto.Importa-se” apresentada esta quinta-feira no Coliseu do Porto.

A ideia é desenvolver uma intervenção técnica e social junto dos inquilinos mais idosos, combatendo o seu isolamento. Mais de dois mil estão já identificados.

O projeto envolve a Domus Social, as juntas de freguesia, estruturas locais de solidariedade social, entre outros parceiros. E é também desenvolvido com o apoio técnico do Instituto Superior de Serviço Social do Porto (ISSSP).

O vereador responsável pela Habitação e Coesão Social, Fernando Paulo, realça a necessidade de o trabalho ser “realizado em rede” e “alargado a mais parceiros”.

“Temos, de facto, que ativar as redes sociais que temos nas comunidades. Sozinha nenhuma das instituições pode resolver os problemas todos, mas em conjunto, repartindo e gerando complementaridade, podemos de facto encontrar as respostas adequadas”, afirma.

Pretende-se um maior envolvimento nas rotinas dos idosos com a realização de visitas periódicas. “As equipas, para além do combate ao isolamento, vão estar focadas também em identificar outras carências e caso seja necessário ativar a resposta social” correspondente.

 

“Sozinha nenhuma das instituições pode resolver os problemas todos”, diz Fernando Paulo.

O projeto encontra-se ainda numa fase inicial e o diagnóstico decorre desde setembro do ano passado. Num primeiro levantamento estatístico dos cerca de 30 mil inquilinos dos bairros sociais do Porto, sete mil têm mais de 65 anos e, destes, mais de dois mil vivem em situação de isolamento.

O “Porto.Importa-se” tem como público-alvo idosos em situação de isolamento com mais de 70 anos, que se encontram a viver sozinhos – serão mais de 1.600 – ou integrados em casais com mais de 75 anos. No total, o programa envolverá mais de 2.500 pessoas.

O vereador do Pelouro da Habitação e Coesão Social deixou aos presentes a intenção de, futuramente, alargar o projeto a toda a cidade. Fernando Paulo relembra ainda que por mais “recursos que tenha a Câmara e por mais meios que possa pôr à disposição, sozinha não pode resolver tudo”.

“É necessário junto da saúde, da PSP, juntas de freguesia, instituições particulares de solidariedade social que estão mais próximas dos bairros sociais, conseguirmos construir um modelo assente numa parte de voluntariado para aquelas que são as respostas mais diretas”, observa Fernando Paulo.

Rui Moreira, também presente na apresentação, diz que a resposta que se pretende dar “tem de ir para além da tradicional” e que vai obrigar a “repensar” no que diz respeito à resposta na habitação social.

“Algumas dessas pessoas a quem tradicionalmente a resposta social garantia grande parte das suas necessidades, hoje, já não garante”. “Hoje esta população vive muito desaconchegada e em situações de grande isolamento”, afirma o autarca.

Num primeiro levantamento estatístico dos cerca de 30 mil inquilinos dos bairros sociais do Porto, sete mil têm mais de 65 anos e, destes, mais de dois mil vivem em situação de isolamento.

O autarca termina ainda com a intenção “de que o Porto seja percursor de uma nova forma de olhar um problema”. “Não o podemos confiar às famílias, temos de ser nós”, afirmou.

Joana Monteiro, uma das mentoras do projeto, afirmou durante a apresentação que a iniciativa “surgiu da vontade de ajudar”. “Andamos permanentemente no terreno, conhecemos os inquilinos, os inquilinos conhecem-nos”, afirma.

A técnica da Domus Social aponta também a proximidade como principal contributo de forma a “estreitar os laços com os inquilinos e sobretudo apoiar quem precisa”.

Quanto às situações que merecem atenção fala não só das “dificuldades de mobilidade motivada por questões de saúde, perdas de incapacidade na gestão da casa e das atividades domésticas”, mas também de outras situações como a demência.

Joana Guedes, outra das mentoras do projeto, denota que é preciso um “diagnóstico rigoroso e de atualização permanente com equipas no terreno, com uma rede de parcerias e com o recurso ao voluntariado” no sentido de “perceber as condições de segurança e conforto das pessoas do parque habitacional”.

“Vamos dar especial atenção às atividades diárias dos idosos tentando perceber se sozinhos conseguem fazer um conjunto de tarefas como a alimentação, capacidade de se vestirem e a higiene pessoal”, explicou.

Revela ainda a preocupação com a saúde, fator “importante para uma velhice ativa”. Vai interessar saber se “têm médico de família, se conseguem aceder ao centro de saúde e ainda questões genéricas como hábitos alimentares”.

A equipa do projeto pretende ainda dedicar especial atenção “à perda das funções cognitivas através de rastreios e de avaliações inicias” a fim de perceber se há probabilidade de se estar na “presença de algum défice cognitivo que exige acompanhamento particular dos médicos e todos os profissionais de saúde”, afirma.

Numa fase mais avançada pretendem ainda criar “uma plataforma de informação e comunicação em rede entre os profissionais envolvidos”.

Artigo editado por Filipa Silva