O projeto INEX procura identificar talento em jovens de cinco modalidades distintas – andebol, basquetebol, futebol, pólo aquático e voleibol. Surgiu na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto (FADEUP) com o objetivo de colmatar a ausência de estudos no que diz respeito à trajetória de jovens atletas ao nível da excelência desportiva.
O estudo conta com uma amostra de mil jovens, com idades compreendidas entre os 11 e os 14 anos, de oitenta clubes diferentes (duzentos por modalidade), na sua maioria rapazes, da região do Grande Porto. Os atletas vão ser avaliados, nos próximos três a quatro anos, por docentes, estudantes de licenciatura, mestrado e doutoramento da FADEUP.
Em conversa com o JPN, José António Maia, investigador, explica que o programa da FADEUP, surgiu de duas preocupações.
Em primeiro lugar, para “levar conhecimento à comunidade” pelo facto de a Universidade do Porto ter como “terceira missão servir a comunidade”. “Um dos grandes propósitos é servir de um modo distinto o tecido desportivo da região do Grande Porto centrado exclusivamente nos jovens atletas”, afirma.
Outro aspeto está relacionado com a preocupação demonstrada por “uma parte substancial dos colegas da faculdade que lidam com o problema da excelência em termos de prestação desportiva” ligada à “resposta ao treino e à competição”, explica o investigador.
Desta forma, os autores do estudo pretendem entender o que “caracteriza um jovem atleta de sucesso, ou seja, qual é o seu perfil. Se existe “uma espécie de um retrato-robô de atleta por modalidade ou se no seio de cada modalidade existem crianças e jovens com perfis distintos que têm sucesso”.
“…aquilo que caracteriza o sucesso num dado escalão etário não quer dizer que seja digno do escalão etário seguinte”
Ao traçar um perfil é necessário identificar se o mesmo “muda ou não com o tempo” e se, existindo mudança, “quais [são] as variáveis responsáveis [pelas alterações]”.
As variáveis estudadas centram-se em quatro domínios: “de natureza biológica; habilidades e aspetos de natureza percetiva; domínio psicológico e, por último, aspetos de natureza contextual”.
Os investigadores pretendem saber que variáveis estão “mais associadas ao sucesso competitivo dos jovens” e se a “um dado ponto mudam no tempo”.
“É de uma complexidade relacional grande, porque aquilo que caracteriza o sucesso num dado escalão etário não quer dizer que seja digno do escalão etário seguinte e as variáveis que explicam o sucesso neste intervalo de idade [não quer dizer que] sejam exatamente as mesmas no intervalo etário seguinte”.
Para José António Maia a investigação só faz sentido se os resultados forem entregues ao treinador de forma a “otimizar melhor o seu treino e as escolhas que faz dos jovens”.
Com os resultados obtidos, o investigador pretende criar uma base de dados para dirigentes associativos, diretores técnicos, selecionadores e treinadores dos clubes para permitir um desenvolvimento sustentado e jovens atletas rumo à excelência desportiva.
Com a informação dada, o treinador pode gerir melhor o treino.
O investigador realça ainda a “recetividade total” por parte dos pais e espera que com base na informação nova “lidem de forma diferente com as expectativas dos filhos assim como alterem o suporte parental na prática desportiva dos jovens e na sua carreira”.
José António Maia acredita que os resultados são positivos para os atletas: “Tudo isso acaba por influenciar o desempenho do jovem, portanto, ao termos essa informação na mão ela será dada ao treinador de forma a que ele possa gerir melhor o treino, a competição e o aconselhamento dos jovens e dos pais também.”
Como funciona o estudo
O estudo já começou em duas das cinco modalidades envolvidas: futebol e basquetebol. Como é que se processa? Durante o período de férias escolares, os atletas, em grupos de 30 a 40, são sujeitos a uma avaliação que começa às 8h00 da manhã e se prolonga ao longo de todo o dia na FADEUP. Cada jovem começa por ser identificado em função do seu clube, escalão etário e modalidade que pratica.
De seguida passa pela antropometria onde são determinados a “altura, o peso e a composição corporal”. O domínio da psicologia é mais extenso e são realizados “questionários sobre a motivação dos jovens para a prática e prestação de competências assim como informação sobre suporte parental”.
Depois do almoço, dirigem-se ao pavilhão e aí realizam testes de natureza física como testes de velocidade, de resistência e força. Os atletas são também avaliados sobre o “nível de conhecimento que cada um tem sobre a sua modalidade, o conhecimento do jogo e aspetos de natureza técnica e estratégica”.
Em grupos mais pequenos são utilizadas tecnologias como o eye tracker em que o jovem é “colocado em situações muito especificas para ter uma noção do que é que aconteceu à sua visão para o levar a tomar aquela opção, como é que ele processou essa informação face àquela que recebeu visualmente.”
“Se tudo correr bem nestas cinco modalidades é fácil estender para as individuais. Estamos a pensar no atletismo e na ginástica (…)”.
“Esta panóplia de informação faz com que cada sujeito tenha 200 colunas de dados. Vezes mil já estamos a falar em 200 mil vezes em quatro anos. Já está a ver que é uma massa de dados enorme”, explica.
Apesar de terem pensado em desportos individuais, a equipa de investigadores escolheu começar pelos coletivos por considerarem ser “mais difícil”. Outra das razões foi o facto de serem “modalidades que respondem melhor ao reconhecimento e às expectativas dos que estão envolvidos” e também pela “facilidade de acesso”.
“Se tudo correr bem nestas cinco modalidades é fácil estender para as individuais. Estamos a pensar no atletismo e na ginástica, mas se não tivermos estudantes disponíveis para recolher informação isto não vai avançar”, afirma.
Por se tratar de um estudo longitudinal são precisos “no mínimo dois anos” para se verificarem alterações. Para isso afirma que “está a ser pensada a realização de um grande evento internacional” na Faculdade de Desporto “entre outubro e novembro para apresentar os resultados relativos ao primeiro e segundo anos” do projeto.
O estudo está a ser realizado em parceria com várias associações desportivas e clubes da região do Grande Porto.
O Centro de Investigação, Formação e Inovação e Intervenção no Desporto (CIFI2D) lidera o projeto, com a equipa de investigadores formada por José António Maia, investigador principal, tendo como co-investigador Ricardo Fernandes, ambos da FADEUP. Conta ainda com uma equipa de sete investigadores e um painel externo de especialistas.
Questionado sobre o possibilidade de o projeto ser alargado a todo o país, José António Maia acredita que um “programa desta natureza pode ter impacto à escala do país” e que devia ser “implementado a partir das federações”.
“Já temos contactos com o Comité Olímpico de Portugal e com o Instituto Português do Desporto e da Juventude que mostraram uma enorme abertura ao projeto e verão a melhor forma de fazer parte dele e o promoverem”, remata José António Maia.
Artigo editado por Sara Beatriz Monteiro