Há mais de um ano que o festival vinha a dar que falar, desde o seu anúncio. “Não consegues criar o mundo duas vezes” é o filme que além de documentar a origem do hip hop no Porto, conta igualmente a história de uma cidade e de um movimento. Os realizadores, Francisco Noronha e Catarina David, procuraram ultrapassar as fronteiras da música e ir à raiz do movimento cultural.

“Sempre achamos que esta história e estas histórias de todos os intervenientes estavam não documentadas, ao contrário de outros movimentos musicais”, conta Francisco, um dos realizadores, ao JPN.

Na base do documentário esteve a proximidade e o carinho que os dois realizadores nutrem por esta expressão artística. “Crescemos os dois a ouvir hip hop e foi muito natural por sermos do Porto”, explicou.

Como verdadeiros “amantes de um objeto” lançaram-se numa espécie de levantamento antropológico, um “trabalho que estava por fazer”. “Não é só uma questão musical, é uma questão de dinâmica cultural, ou seja, é todo um movimento que estava nas margens”, acrescentou.

O filme contou com um processo de produção alargado baseado em entrevistas, testemunhos e pesquisa em arquivos. Além disso, Francisco Noronha sublinhou que ‘Não consegues criar o mundo duas vezes’ conta com material inédito.

“Há material precioso, algum do qual talvez tivesse ficado onde estava, nas gavetas esquecidas das pessoas que nos deram e nem se lembravam que o tinham.”

Porto, Gaia e Matosinhos são o palco para contar a história e as histórias do rap portuense.

Tudo começou no extinto bar Comix, em Cedofeita, popular à data retratada no documentário, anos 80 e 90. Mais tarde, surgiu o Hard Club, inicialmente situado em Gaia, e que foi um marco para as atuações e concertos de hip hop. Hoje, são muitos os locais na cidade Invicta que se dedicam ao movimento que inclui muito para além da música.

O documentário contou com o contributo de vários nomes bem conhecidos no panorama nacional. Artistas como os Dealema, Mind da Gap, L.C.R, Triângulo Dourado, Conjunto Corona, Capicua, M7, Deau, Minus e Virtus ajudam a contar como tudo tem vindo a acontecer.

Segundo o realizador, a reação do público à passagem do filme no IndieLisboa “foi ótima”. “Só podemos ficar felizes, recebemos mensagens a dar os parabéns de pessoas que ficaram emocionadas”, explicou.

O filme tem data de regresso ao Porto marcada para o dia 25 de maio, às 22h00, no Cinema Passos Manuel, onde será integrado na programação dos cinco anos da iniciativa “Há Filmes na Baixa”.

Artigo editado por Filipa Silva