O Boavista recebeu e venceu este sábado o Belenenses por 1-0 com um grande golo de Kuca. Uma exibição – como a época -, segura dos comandados de Jorge Simão, que terminou com uma festa no relvado entre jogadores e adeptos.

Personalidade axadreada e Idris imperial

A jogar em casa, o Boavista entrou autoritário no jogo. Se a fluidez de jogo era dada sob a batuta de David Simão, eram  Rochinha e Kuca que confundiam as marcações do trio de centrais do Restelo. Persson, Gonçalo Silva e Cleyton, nos primeiros minutos, tiveram muitas dificuldades em acompanhar um ataque do Boavista imprevisível e sem referências na zona de marcação dos centrais. Na batalha do meio campo, Idris emergia perante os seus opositores conseguindo recuperar muitas bolas a Bouba Saré e Fredy. André Sousa foi-se cotando como a melhor unidade do Belenenses.

Foi assim que, à passagem dos 17 minutos, nasceu a primeira grande oportunidade do jogo: Idris, na raça, impõe-se e recupera uma bola a meio do meio-campo do Belenenses e Rochinha obriga Muriel a grande defesa.

Golaço de Kuca

Se Rochina tinha perdoado, Kuca não fez o mesmo três minutos depois. Perante um meio-campo do Belenenses muito macio, Rochinha completa uma boa jogada individual com um passe a rasgar para Kuca que, depois de tirar Cleyton do caminho, fuzilou a baliza de Muriel.

Tudo muito fácil para os axadrezados.

André Sousa contra o mundo

Só depois de aberto o marcador, os homens do Restelo obrigaram Vágner a sujar as luvas. Como sempre, André Sousa carregou todo o jogo ofensivo da sua equipa e, à entrada da área, deu para Fredy que rematou para boa defesa de Vágner. Esse lance foi um verdadeiro oásis no deserto que era o jogo ofensivo do Belenenses. Licá e Maurides, os avançados do Restelo, praticamente não tocavam na bola. Durante muito tempo, a melhor notícia para Silas era mesmo a desvantagem ser só de um golo.

Pereirinha embala Boavistão

A comunhão visível entre as bancadas e a melhor equipa do Boavista dos últimos anos espelhava a tranquilidade com que o Boavista jogava à bola. Até ao intervalo, o Boavista, não sendo avassalador, podia ter dado um colorido diferente ao marcador. Nunca esteve em causa qual tinha sido a melhor equipa na primeira parte.

Se Silas já tinha preparado uma palestra para atacar a segunda parte, terá levado um forte soco no estômago. Depois de uma perda de bola infantil, Pereirinha travou um contra-ataque do adversário e pôs-se a jeito de um segundo amarelo que o árbitro Rui Oliveira não perdoou.

Por muito pouco que, hoje, houvesse a jogar, ninguém gosta de perder. Ao intervalo, o Boavista fazia por merecer a vantagem e justificava a diferença classificativa entre as duas equipas.

Ponta-de-lança procura-se

A segunda parte trouxe mexidas nos onzes.

Já se sabe que a ideia de jogo de Jorge Simão não pressupõe uma referência fixa na área. Do outro lado, a jogar com dez, Silas também abdicou do seu ponta-de-lança Maurides, lançando a criatividade e técnica de Nathan numa equipa que precisava de alguém que espevitasse o ataque.

Logo após o reatamento do jogo, André Sousa (quem mais?), rasgou a defesa do Boavista com um passe que isolou Licá. O avançado que já jogou no FC Porto marcou, mas o golo foi anulado por fora de jogo. Podia estar aqui um indício de um Belenenses diferente na segunda parte.

Falta o último passe

A tarefa era difícil mas não impossível para os azuis do Restelo, que subiram de rendimento depois do intervalo. O Belenenses enfrentava um adversário visivelmente mais confiante. O Boavista trouxe do balneário a toada dominadora, pragmática e ofensiva da primeira parte. Rochinha despediu-se do jogo com mais um bom remate para defesa de Muriel, antes de dar lugar a Mateus: mais uma seta apontada à defesa de Silas.

Quando, num jogo de futebol, se enfrentam duas equipas com vontade de marcar, o resultado é um bom espetáculo. O ambiente no Bessa empurrava o Boavista, mas os jogadores teimavam em falhar o último passe. Os cruzamentos nem sempre saíam bem e alguma hesitação na hora de definir mantinham o resultado em aberto. O Belenenses, ainda que tivesse melhorado muito depois do intervalo, não criava muitas oportunidades. Silas tentou refrescar o meio-campo, lançando Chaby para o lugar de André Sousa e soltando Fredy, que no meio campo esteve apagado, na frente.

Identificando essa lacuna na hora da definição, Jorge Simão decidiu lançar um homem de área. Leonardo Ruiz entrou para o lugar de Fábio Espinho e tentou dar mais poder de choque ao ataque do Boavista

Alerta azul

Florent Hain terá sido o elemento do Belenenses que mais subiu de rendimento na segunda parte. Foi o lateral francês que, aos 78 minutos, obrigou Vagner a uma grande defesa na sequência de um cruzamento largo da direita. Uma vantagem de um golo é sempre um perigo e, numa fase em que o Boavista já começava a entrar em modo gestão, o Belenenses ameaçou de forma muito efetiva. Os últimos dez minutos estavam aí e o resultado não estava decidido.

Já depois de Silas ter dado minutos a Ricardo Fernandes, quarto guarda-redes da época, Nathan voltou a ameaçar com um remate à entrada da área depois de boa jogada individual. Este era o período do jogo em que o Boavista mais sofria. Ainda assim, não se pode dizer que o Belenenses tenha sido avassalador.

Festa axadredezada coroada com vitória

O final do jogo chegou com relativa tranquilidade e, findo o campeonato, espelhou a época das duas equipas. O Boavista foi seguro, competente e claro no seu processo de jogo. O Belenenses foi uma equipa que reagiu às adversidades criadas por culpa própria e conseguiu deixar a imagem de que pode fazer melhor.

No fim do jogo, houve direito a festa entre os jogadores e adeptos no relvado do Bessa.

O Boavista encerra o campeonato na oitava posição da tabela, com 45 pontos, a dois do Marítimo. O Belenenses encerra a época 2017/2018 no 12º lugar com 37 pontos.

Jorge Simão feliz por contribuir “para um possível ressurgimento do Boavista”

No final do encontro, o técnico do Boavista disse que o balanço da época “é muito difícil de fazer”, mas classificou-o de positivo “em linhas gerais”. “Melhorámos o registo a que nos propusemos”, lembrou.

Sobre a próxima temporada, Jorge Simão diz-se incapaz de traçar já objetivos e mostrou-se satisfeito pelo trabalho feito no Bessa: “estou contente por ter contribuído para o evoluir de um grande clube como é o Boavista e ter contribuído para um possível ressurgimento do Boavista”.

Sobre o jogo deste sábado, o técnico axadezado gostou mais dos primeiros 45 minutos: “Na primeira parte, estivemos melhor no último passe e, com outra definição, podíamos ter feito o 2-0 e estarmos mais tranquilos”, afirmou. “Este jogo carregava muita importância para nós e, por isso, estivemos intranquilos. Este era um jogo para ganhar.”

“O resultado é justo”, diz Silas

“Analisando o jogo, o Boavista foi melhor na primeira parte e nós fomos melhores na segunda. O Boavista até chegou a perder algum tempo. O resultado é justo porque o Boavista marcou no seu melhor período”, declarou Silas depois de fechado o encontro.

No Restelo, assegura, já está a ser preparada a próxima época o que justifica a utilização de alguns dos jogadores que alinharam este sábado pelo Belenenses. A fechar um voto:  “Espero como treinador fazer uma carreira ao nível daquela que fiz como jogador; pelo menos já cheguei à Primeira Liga”.

Artigo editado por Filipa Silva