Devido aos desastres de Heysel e Hillsborough a Inglaterra esteve quase a desistir do Mundial de 1990. A viagem até Itália servia por isso como oportunidade para aliviar feridas. Os britânicos foram colocados num grupo jogado entre as ilhas de Sardenha e Sicília, o que limitou os movimentos dos adeptos e acabou por funcionar como a primeira grande operação internacional contra o hooliganismo.

O jogo-chave realizou-se em Cagliari. No papel Holanda e Inglaterra enquadravam o encontro mais temido do torneio. Na prática, os dois países conhecidos pelas torcidas violentas começaram a exercitar a caixa de segurança. À semelhança do que ocorre hoje nos estádios portugueses, cerca de oito mil e quinhentos holandeses e perto de seis mil ingleses foram escoltados até ao Sant’Elia. Todos foram revistados de cima abaixo em postos montados a quase um quilómetro do recinto.

Mas nem tudo foi pacífico. Duas horas antes do pontapé de saída alguns britânicos envolveram-se em escaramuças com a polícia. Houve feridos, detidos e ódio a transbordar. No relvado os jogadores pareciam mais interessados em não fazer nada que pudesse incendiar o rastilho. O jogo terminou empatado a zero e os adeptos deixaram o estádio em silêncio.

Só que a segurança apertada manteve-se, articulada com a lei seca que vigorou nas cidades-sede em dias de jogo. Tudo serviu para cansar os vândalos, que foram regressando aos poucos a casa. No jogo de atribuição do terceiro lugar com a Itália já só sobravam ingleses inofensivos. Os hooligans tinham passado à história.

“Almanaque Mundial” é um rubrica diária do JPN que mergulha em curiosidades da principal competição futebolística de seleções.