Do ginásio da escola para os ringues do mundial. Artur Karlov venceu, no último sábado, a primeira medalha internacional da carreira, aos 15 anos, depois de ter ficado em terceiro lugar no Campeonato Mundial de Kickboxing de Cadetes e Juniores, que decorreu de 15 a 23 de setembro, em Itália.

O jovem atleta português conquistou o bronze depois de ter sido eliminado na meia-final pelo russo Timur Arslanov que acabou por conquistar o título de campeão do Mundo na categoria younger junior -67kg de full contact.

São poucos, mas intensos os anos que o atleta da escola Lifecombat, de Santo Tirso, tem dedicados à modalidade. Em representação de Portugal, competiu também no Campeonato Europeu de Kickboxing do ano passado. Como tinha apenas 14 anos, acabou por competir, por sugestão dos professores, no escalão acima, destinado a atletas de 15 e 16 anos. Nesta competição, acabou por ser eliminado ao primeiro combate.

A preparação foi, ainda assim, árdua. Trabalhou todos os dias, de manhã e de tarde, fez corrida durante meia hora, saltou à corda e teve também de fazer mudanças na alimentação.

Sendo uma pessoa que adora comer, Karlov confessa que um dos sacrifícios para chegar até ao patamar onde está hoje é o de ter de emagrecer. Em 2017, passou dos 68 para os 60 quilos e para estar em forma para o Mundial deste ano teve de perder, novamente, cerca de oito quilos.

Doze jovens representaram Portugal

Ao JPN, o atleta mostrou ser confiante e valorizar as suas capacidades. Conta que foi mais “chocante” a convocatória para o europeu de kickboxing do que a deste ano. Para o jovem português a realidade competitiva do mundial não o deixou particularmente nervoso, não só pela preparação que levava como também pelo ambiente que encontrou em Itália.

Com grande desportivismo, Artur rematou que “o importante é participar”. “Treinamos todos os dias, mas temos de saber que os [atletas de] outros países também treinam e vão dar o melhor. Somos todos iguais, temos todos duas pernas e dois braços”, concluiu. Há, contudo, diferenças quer no investimento quer na dimensão que a modalidade tem em diferentes países. Artur Karlov dá o exemplo: “A representar a nação tínhamos 13 pessoas, enquanto os russos metem dois por categoria”, sendo assim expectável para ele que dos 240 selecionados russos, um fosse vencer.

Seleção Nacional de Kickboxing, Campeonato do Mundo de Kickboxing de Cadetes e Juniores da WAKO, em Itália. Federação Portuguesa de Kickboxing e Muaythai

Artur chegou de Itália no domingo e aproveita a conversa com o JPN para agradecer a receção calorosa e também o apoio monetário da Junta de Freguesia do Coronado, de colegas e outros contribuintes numa campanha de crowdfunding que a Cruz Vermelha local dinamizou para auxiliar nas despesas da viagem.

“O kickboxing não é violento”

Artur Karlov estreou-se na modalidade em 2013, por intermédio de um amigo. Apesar do interesse por outros desportos de combate, nomeadamente, boxe e karaté, o jovem mostra-se feliz onde está e afirma que ambiciona fazer do kickboxing carreira.

Artur Karlov Galeria de fotografias de Artur Karlov

O jovem de São Romão do Coronado, filho de pai russo e mãe ucraniana, tem uma postura otimista – apesar de uma infância cheia de obstáculos para ultrapassar – e uma visão positiva da modalidade que pratica: “Muita gente pensa que o kickboxing é um desporto violento. É verdade que as pessoas se magoam, mas consegue ser menos perigoso que o futebol”, considera Artur, que enumera os muitos acessórios que defendem a integridade física do atleta: “Há proteções, caneleiras, pés, ligas para os pulsos, proteção para os dentes”, entre outros.

Para o atleta da escola Lifecombat, é também importante desmistificar a ideia de que quem pratica estas modalidades é violento: “depende muito dos treinadores”, diz. A função do kickboxing, na visão do atleta, é aliviar a tensão, relaxar, “não andar a bater em toda a gente”.

Cada atividade tem a sua aplicação prática no dia à dia e, para Artur Karlov, o kickboxing ajuda a ler o outro. Isto porque “em combate tens de prever o que adversário vai fazer para depois defender ou contra-atacar”.

Este jovem vê o kickboxing como uma segunda família e os seus mestres como uma inspiração, mas não descura a escola e a possibilidade de vir a tirar um curso superior, desde que “traga adrenalina”.

 

Artigo editado por Filipa Silva