O segundo dia do Portugal Fashion começou, esta sexta-feira, com a estreia da marca de sapatos CF: Cristina Ferreira, criada em 2014. A apresentação teve quatro momentos diferentes, intercalados com números de dança. Os sapatos vão desde o casual ao formal e incluem uma linha de noiva.

Antes de o desfile começar, a stylist Patrícia Pereira confessava ao JPN que esperava “inovação e informação” e que, por isso, vem sempre ao Portugal Fashion para aprender um pouco mais. Desta plataforma, Patrícia revela que tira sempre “alguma dica nova para tendências para um futuro próximo”. 

Olívia Ortiz, que este ano é o rosto do Portugal Fashion para a TVI e TVI 24, não se conteve nos elogios ao espaço Bloom, do primeiro dia. A apresentadora de televisão concluiu que “há vários nomes de jovens criadores que certamente poderão ascender já numa próxima edição a desfiles individuais”. 

Inês e Júlio Torcato

Inês Torcato estreou-se no espaço Bloom há dois anos e meio. Esta sexta-feira, esteve na plataforma principal do Portugal Fashion juntamente com David Catalán.

Ao JPN contou que está a investir em showrooms em Paris “porque vendem para o mundo inteiro”. Este ano fez duas feiras, uma em janeiro e outra em junho, que contaram com os apoios do Portugal Fashion. “Os clientes precisam de algumas estações até acreditarem na marca, por isso, estou à espera”, refere Inês. A designer assume que produz peças menos comerciais, “para um mercado de nicho”, que existe predominantemente no estrangeiro.

Sobre o seu estilo, a criadora de 28 anos explica que faz “um trabalho de desconstrução”. Pega nos clássicos e desconstrói-os, misturando-os com “materiais alternativos”.

A coleção que apresentou chama-se Alma e, para representar o conceito, baseou-se no paralelismo de perfeito e imperfeito, simétrico e assimétrico. “A alma é aquilo que nós temos de mais perfeito, em teoria, dentro de nós, mas depois temos o nosso corpo e aí ninguém é simétrico, ninguém é perfeito”, explica ao JPN. Nas cores, desafiou-se: “Eu uso sempre tons escuros, tons neutros. E, desta vez, tinha o azul bebé, um rosa muito forte, os verdes, os tons nude, muitos brancos. É uma coisa completamente fora da minha zona de conforto”, afirma.

A jovem saída do Espaço Bloom refere que sempre trabalhou para chegar onde chegou. Foi quando estava no espaço Bloom que começou a receber convites para se internacionalizar. “Quando me surgiu um convite da Vogue Itália comecei a pensar que, se calhar, isto podia correr bem” e não esconde que esse sempre foi um desejo seu.

Inês Torcato

Inês Torcato Foto: Marta Santos

Em relação ao futuro, “daqui a uma ou duas estações gostava de entrar no mercado asiático e países nórdicos, porque já me disseram em Milão e Paris que aquilo que eu faço é muito indicado para esses mercados”, remata.

Como não poderia deixar de ser, Júlio Torcato, também ele designer de moda, marcou presença no segundo dia do Portugal Fashion para ver o trabalho da filha, mostrando-se orgulhoso do seu percurso. “A Inês tem-me surpreendido, tem um trabalho muito rigoroso, é muito focada e profunda no que faz. Tecnicamente, tem uma lacuna que muitos jovens estilistas ainda têm ao lidar com os materiais, saber o efeito que cada material consegue dar. No entanto, pareceu-me uma coleção bastante séria e profissional”, analisou.

Júlio Torcato assegura que a filha só recorre à sua ajuda “na última”, normalmente por “questões técnicas, como por exemplo onde encontrar um material ou quem é capaz de fazer determinada peça”. Confessa ainda que o facto de a filha ter seguido as suas pisadas “foi uma surpresa” na altura, porque “a Inês estava no terceiro ano de Belas Artes e fazia fotografia” e pensava que seguiria esse caminho. Não foi assim.

“Um dia, assim do nada, disse que não queria mais isso e que gostava de fazer moda”. Apesar de ter ficado orgulhoso, ficou ao mesmo tempo preocupado porque “não é uma área fácil, Portugal é um país pequeno. A indústria não é assim tão vasta que consiga absorver todos os designers de moda que saiam das escolas”, confidenciou. Por outro lado, a decisão da filha não o surpreendeu, porque esta acompanhava o mundo da moda desde que nasceu. “Eu faço 30 anos de carreira, a Inês tem 28. Quando ela nasceu, eu já ia para os desfiles, quando ainda fazia Moda Lisboa e depois Portugal Fashion”, recorda.

Júlio e Inês Torcato

Júlio e Inês Torcato Foto: Marta Santos

O próprio Júlio Torcato figura no cartaz da 43ª Edição do Portugal Fashion e desvendou um pouco daquele que vai ser o seu desfile, este sábado. O designer explicou que “mais do que um desfile no seu conceito habitual é mais uma festa, é uma comemoração de 30 anos, que marca também uma reflexão sobre a carreira”.

Em termos práticos, convidou 30 pessoas que foram de alguma forma relevantes nestes 30 anos. “Vai ser um desfile de 30 reinterpretações de peças minhas em que só completo com um look imaginário porque só ontem e hoje tive acesso a essas peças, do mais louco que há ao mais simples que há”, rematou.

A mensagem político-social de Estelita Mendonça

Estelita Mendonça explicou ao JPN que a sua coleção, como já vem sendo habitual, “é uma atitude político-social”. “Procura falar sobre aquilo a que eu chamo uma censura velada, que vai acontecendo já há algum tempo e que cada vez está mais presente. Em Portugal, fala-se de censura no caso de Serralves, por exemplo. Mas lá fora isso acontece no Brasil de forma muito forte, ou na Alemanha”, refere. 

O processo de preparação da coleção foi “muito duro, porque ela mudou muitas vezes de caminho”. Mas, apesar das dificuldades, a coleção ficou “pronta nas semanas de moda internacionais para poder fazer uma internacionalização” à sua maneira, “sem fazer feiras, mas enviando os look books”, relatou Estelita. 

Estelita Mendonça

Estelita Mendonça Foto: Marta Santos

Sobre a sua forma de trabalhar, o estilista refere que “o processo de trabalho da marca é muito intuitivo” e a escolha das cores não tem a ver com o significado que elas trazem. “Não posso dizer que fui buscar o verde porque representa a esperança. É uma coisa que vai acontecendo e vamos percebendo se faz sentido ou não”. E nem tudo sai bem à primeira, reconheceu o estilista. “Houve dúvidas em relação a algumas cores, como o verde fluorescente, mas que no fim tem toda a lógica. A mensagem está exatamente como eu queria passar”, admite o designer. 

O regresso de Maria Gambina

Cinco anos depois da sua última participação no Portugal Fashion, Maria Gambina voltou a pisar as passerelles da Alfândega do Porto. Foi no espaço Brand Up que o JPN conversou com a criadora. A coleção que apresentou, Construção, teve como base três partes construtivas. “Uma tem a ver com a minha construção como designer e qual o caminho que quero seguir em relação à marca e outra com o próprio trabalhar da modelação, que foi uma construção muito trabalhosa, porque não é fazer um molde normal. É perceber como é que aquela ideia em termos de modelação resulta”. Por último, pegou em “alguns elementos da sinalética das obras de construção e pôs “frases relacionadas com a sinalética”. 

Os últimos vestidos resultaram do aproveitamento de todos os retalhos e materiais da coleção. Isso fez com que Maria Gambina começasse a “pensar mais na sustentabilidade, no reaproveitamento”. 

Maria Gambina

Maria Gambina Foto: Marta Santos

Sobre a sua larga ausência, Maria Gambina sublinha que nunca esteve parada, antes pelo contrário. “Se calhar até criei mais nestes cinco anos do que nos meus 25 anos de carreira, porque durante esses cinco anos tive em cada ano 40 alunos com quem desenvolvi as suas coleções, por isso, a minha cabeça esteve sempre a funcionar para lhes dizer como pôr as ideias deles em prática”, contou. Mas porque resolveu regressar? “Comecei a ter vontade de desenhar outra vez há 2 anos. Ainda não tinha era a certeza de que queria regressar ao Portugal Fashion, mas depois percebi que queria realmente voltar e apostar outra vez na marca”, respondeu.

O Portugal Fashion termina este sábado à noite, com nomes como Nuno Baltazar, Luís Buchinho e Júlio Torcato a alinharem as suas coleções na passerelle.

Artigo editado por Filipa Silva