Na última quinta-feira do mês, já se sabe, é a ciência quem ocupa a cave do Pinguim Café. Com a noite já estendida lá fora, o PubhD (pub de bar, PhD de doutoramento) junta mais dois jovens cientistas que assumem, perante a vintena de curiosos da audiência, a missão de divulgar, de forma criativa e informal, a investigação científica mais atual.

Tudo “para que a ciência possa sair das quatro paredes de um laboratório fechado”, como diz Nuno Francisco, um dos fundadores do PubhD Porto, ao JPN.

À 17ª edição, a carta tinha para oferecer duas investigações: uma sobre o papel da enfermagem no controlo da ansiedade e outra sobre as forças físicas que influenciam a divisão celular.

Controlar a ansiedade

Francisco Sampaio

Francisco Sampaio Foto: Sara Pires

Foi Francisco Sampaio quem abriu a discussão. Enfermeiro, docente na Universidade Fernando Pessoa e investigador no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS), apresentou um trabalho de investigação que tem por base a definição de um modelo de intervenção de enfermagem e a sua posterior avaliação em doentes com ansiedade.

A ansiedade define-se como uma excessiva e persistente preocupação, difícil de controlar, que causa stress e afeta a vida normal do doente. Provoca sintomas como tensão, medo ou pavor de que algo possa correr mal.

Segundo o investigador do ICBAS, “em Portugal há muito investimento nos fármacos, mas pouca intervenção psicoterapêutica feita junto das pessoas com doença mental”.

De uma forma simples, Francisco Sampaio explicou que a investigação que conduziu reuniu 60 pessoas em dois grupos: o grupo experimental – com intervenção de fármacos e de psicoterapia – e um grupo de controlo – com intervenção de fármacos, apenas. O objetivo era comparar o nível de ansiedade e a capacidade de autocontrolo da ansiedade por parte das pessoas dos dois grupos  após cinco sessões.

Ao nível da ansiedade, verificaram-se ganhos mais significativos no grupo experimental do que no grupo de controlo, o que, para o investigador, “não é grande novidade”.

Relativamente ao autocontrolo da ansiedade, também se registaram mais ganhos no grupo experimental do que no grupo de controlo. Isto permite concluir que pessoas abordadas com a conjugação de fármacos e de psicoterapia demonstram maior capacidade para controlar a ansiedade a longo prazo. “Pessoas que tenham só a intervenção farmacológica não adquirem estratégias de autocontrolo e, na melhor das hipóteses, um dia que voltem a ficar ansiosas, tomam mais um comprimido”, remata Francisco.

Dez minutos de apresentação e 20 minutos para perguntas do público. É esta a dinâmica do PubhD Porto. Com Francisco não foi diferente. Apresentou um trabalho de quatro anos em 10 minutos e no fim ainda houve espaço para algumas questões.

O papel da mitose nos tumores

Margarida Dantas

Margarida Dantas Foto: Sara Pires

Margarida Dantas, licenciada em Genética e Biotecnologia com mestrado em Medicina e Oncologia Molecular, está a fazer o doutoramento no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (I3S) e foi a segunda oradora do PubhD #17.

No projeto que está a desenvolver, foca-se em descobrir de que forma as forças físicas influenciam a divisão celular. O objetivo é identificar os processos mecânicos que podem estar envolvidos no aparecimento ou agravamento de tumores.

A investigação está maioritariamente interessada na mitose – processo celular pelo qual uma célula origina duas células filhas com conteúdo genético idêntico e idêntico ao da célula mãe. A cientista descreve a mitose como “um processo altamente regulado” e que “acontece constantemente no nosso organismo”. De acordo com os diferentes órgãos onde estão inseridas, as células estão adaptadas a realidades diferentes. “Uma célula do músculo não está habituada ao mesmo ambiente que uma célula do osso, por exemplo”, explica Margarida.

A investigadora diz que uma das finalidades do estudo é saber “se a mitose vai acontecer de forma correta ou com erros, que tipo de erros e de que forma a célula vai responder às forças que as células vizinhas lhe vão exercer”.

Alguns dos problemas que podem advir de uma mitose errada passam pela origem de tumores. Quando pensamos no caso de um tumor já existente, o espaço que as células precisam para se dividir está muito mais comprimido. Ou seja, uma mitose errada pode não só originar um tumor como agravar um já existente.

A investigação de Margarida está ainda no primeiro ano e, por isso, os resultados ainda são escassos. No entanto, a investigadora diz que dos resultados já obtidos, tem “algumas evidências de que as restrições físicas que impomos na célula aumentam a predominância de erros”.

Público assiste a mais um PubhD.

Público assiste a mais um PubhD. Foto: Sara Pires

A 17ª edição do PubhD terminou com uma dose perguntas e aplausos. A próxima edição está marcada para 29 de novembro.

O PubhD surgiu em Nottingham em 2014 e chegou a Portugal em 2015 (Lisboa). Por iniciativa de três investigadores de instituições de ensino superior do Porto, Filipa Ribeiro, Nuno Francisco e Ricardo Ferraz, o evento chegou à cidade do Porto em janeiro de 2017.

Artigo editado por Filipa Silva