Com o dinamismo do negócio acelerado, no Porto aposta-se cada vez mais na criatividade da oferta. De forma a adaptar-se às exigências dos que residem na cidade e dos que por ela passam, vindos de fora, os espaços multifuncionais estão a ganhar expressão.

Aqui, aliam-se vários conceitos num só local. Como resultado, aliciam clientes e abrem novas portas num mercado cada vez mais competitivo, juntando-se o útil ao agradável. Fomos conhecer alguns espaços singulares, que se espalham pelos cantos da Invicta.

Nem café, nem livraria

Situado na Rua Formosa, uma das perpendiculares à Rua de Santa Catarina, está um espaço de energia e características únicas na cidade. O Alambique junta num só espaço as vertentes de coffee shop, livraria, galeria de arte ou até loja vintage. Isto e mais, num conceito que, na verdade, não se define.

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No Alambique há um pouco de tudo, para todos os gostos. Foto: Cláudia Freitas

Luís Félix é o proprietário do espaço. Esta “casa aberta”, como a caracteriza, existe desde 2016 e correspondeu ao concretizar de um sonho de longa data. O espaço é famoso pelas variedades de café e alguns dos bolos, com receitas pensadas ao pormenor; além disso, no Alambique impõe-se uma estante carregada de livros e as paredes forradas de arte, que servem não só para ver mas também para comprar.

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Alambique Foto: Cláudia Freitas

Apesar de juntar num só espaço elementos que não parecem estar relacionados, Luís acredita “que as pessoas, depois de conhecerem, conseguem perceber a ligação de umas coisas com as outras, embora sejam diferentes.”

O público mais fiel do Alambique “são os estrangeiros,” mas também são muitos os portugueses que por lá passam. Por isso, Luís considera este tipo de espaços multifuncionais, independentemente do propósito que sirvam, “importantes para o Porto e para as pessoas que o frequentam diariamente, oferecendo espaços diferentes que rompem com o tradicional.”

Mas, portugueses ou não, os que frequentam o espaço procuram-no com um objetivo comum: o de ter uma “experiência diferente,” escapando dos locais mais movimentados que preenchem as ruas da Invicta.

Um espaço para tudo e todos

Para quem vê de fora o número 61 da Rua das Oliveiras, pressupõe que seja só mais um edifício recuperado; no entanto, o seu interior surpreende. De portas sempre abertas, com o propósito de convidar quem passa a entrar, o Selina oferece alojamento, restauração e cowork aos que lá entram, aliando a cultura e a animação num só espaço de forma singular na cidade.

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Além do alojamento, há um café e um espaço de trabalho à espera de quem visita o Selina. Foto: Cláudia Freitas

O conceito Selina nasceu no Panamá, tendo unidades espalhadas pela América Central e do Sul. A 23 de setembro abriu pela primeira vez um espaço na Europa e a escolha recaiu sobre a cidade do Porto. Nuno Silva, Operations Manager do Selina Porto, revela-nos que a classificação da Invicta como melhor destino europeu fez com que fosse escolhida para a conceção do primeiro projeto da marca na Europa.

Para Nuno, o principal objetivo do espaço “é conciliar alojamento, diversão, trabalho e tentar incluir os habitantes da cidade do Porto neste tipo de atrações.” O espaço conta com cerca de 198 camas e é caracterizado por ser um hotel-hostel, devido à diversa tipologia de quartos. O bar aberto ao público, a cafetaria e a zona exterior, ideal para descansar, conferem um ambiente relaxado; além disso, o espaço é pet-friendly e todos os animais de estimação são convidados a entrar.

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As 198 camas, espalhadas por dezenas de quartos, têm vista para o jardim interior do Selina. Foto: Cláudia Freitas

A privilegiada localização no centro brinda a cidade do Porto com festas, sunsets e brunches para todos os gostos. Há ainda salas aptas para conferências e um espaço de coworking, para os “nómadas” (assim chamam os seus visitantes) que têm as viagens e o trabalho de mãos dadas. No futuro, a aposta passa pela ampliação do espaço de trabalho coletivo, que será passado para um edifício adjacente.

O Selina vai continuar a apostar no mercado europeu. Em Portugal, abrem novas unidades já no início do próximo ano em Lisboa, Ericeira e Vila Nova de Milfontes.

Trabalhar de forma criativa

A CRU, localizada no quarteirão das artes da cidade do Porto, é um espaço de cowork apto para criativos das mais diversas áreas. Dividido em oficinas de trabalho, loja e áreas de lazer, este espaço oferece ao cliente a possibilidade de conhecer o criador das peças que estão para venda.

A CRU Cowork aloja designers, ilustradores, fotógrafos e programadores de várias partes do mundo. Foto: Cláudia Freitas

Há seis anos, com um Porto diferente do que conhecemos hoje, Tânia Santos e Miguel Ferreira conceberam o projeto em resposta à falta de valorização das peças de autor nacionais. Juntamente com o espaço de cowork, surge uma loja, que tem como objetivo permitir aos autores, que trabalham no espaço, testar a venda dos seus produtos. 

Na loja da CRU, os criativos podem testar a venda dos seus produtos. Foto: Cláudia Freitas

Três anos depois, Virgínia França, atual responsável pela loja, chega à CRU Cowork. Sempre teve a ideia de criar uma loja de design de criadores independentes, com principal destaque ao que é feito em Portugal de forma sustentável e ecológica. Desta forma, os dois projetos coexistem, sendo “espaços separados, mas que trabalham em conjunto,” refere.

A CRU Cowork arrenda espaços de trabalho, em regime de partilha e colaboração, permitindo aos utilizadores trabalhar num espaço multidisciplinar e criativo. Numa ótica assente na otimização de espaço e recursos, oferecem postos de trabalho a baixo custo, mas com todas as comodidades necessárias para o conforto dos profissionais. Deste modo, o espaço pretende impulsionar criativos e a lançá-los no mercado.

Aqui moram designers, arquitetos, ilustradores, fotógrafos e programadores de várias partes do mundo. Virgínia diz-nos que o espaço concede ao cliente (maioritariamente turistas) produtos únicos e diferenciados, valorizando o que é português. “O cliente está cada vez mais consciente de que se ajudar a economia local também ganha com isso”, conclui.

A colorir o Porto, uma galeria de cada vez

Inaugurada em 2009 por Ema Ribeiro, a Ó! Galeria foca-se na arte e na ilustração, apostando nos trabalhos de auto edição de forma a promover os artistas e os seus projetos; expande-se ainda para o mundo dos livros, zines e peças de autor.

Tina Siuda, ilustradora e colaboradora da galeria há quatro anos, afirma que este projeto é “uma maneira de introduzir o mundo dos ilustradores. Pegar no trabalho deles fora do conceito editorial e colocar na parede como se fosse uma obra de arte.”

Ó! Galeria

A Ó! Galeria abriu portas em 2009, na Rua Miguel Bombarda. Foto: Cláudia Freitas

Localizada na Rua de Miguel Bombarda, destina-se a todo o tipo de faixas etárias. São muitos os clientes que visitam este espaço, principalmente pelos autores, os seus trabalhos e as multifacetadas áreas no mundo da arte. Tina afirma que “toda a cor que reveste as paredes da loja ajuda a fazer a ligação entre a arte e o público”, atraindo também meros curiosos pelo que se faz na Ó! Galeria.

A ilustradora acredita que estes espaços são uma alternativa ao típico mercado e, com certeza, vão nascer mais sítios deste género: “é preciso mais espaços assim para contrastar com a parte mais comercial e mais virada para o turista que só gosta de passear e comprar coisas mais comuns.”

Música underground para todos os gostos

Matéria Prima

Foto: Cláudia Freitas

A Matéria Prima surgiu há cerca de 30 anos, a princípio fundada por um grupo de amigos. Inicialmente, a loja localizada na Rua de Miguel Bombarda não tinha como objetivo ser um negócio, mas sim um espaço para troca de edições musicais.

Carlos Milhazes, um dos atuais responsáveis, refere que após o final do regime salazarista não havia muitos espaços e interessados neste género de música. “Era inicialmente um espaço de amigos que se interessavam pelo mesmo gosto musical,” refere.

Entretanto, o espaço evoluiu; recentemente regressou a Miguel Bombarda (onde antes estivera alojado no espaço Artes em Partes), depois de uma passagem pela Rua da Picaria. Hoje partilha casa com a Galeria Dama Aflita, que, além de ilustrações, também vende livros e fanzines.

Matéria Prima

Além de discos, na Matéria Prima vendem-se livros, revistas e ilustrações. Foto: Cláudia Freitas

O conceito inicial da Matéria Prima acabou por se alterar. Aqui faz-se comércio mais alternativo, uma vez que se destina não só à venda de discos, livros e revistas, na maioria relacionados com a música, como também à organização de eventos musicais e edição discográfica. A multifuncionalidade deste espaço é conferida através dos segmentos a que se destina e o principal fator de diferenciação são os artigos em si, não os formatos.

Carlos Milhazes caracteriza o público-alvo como “objetivo e específico”. Segundo o colaborador, o espaço é procurado sobretudo por “colecionadores e interessados em projetos mais obscuros dentro destas disciplinas artísticas da edição, da música e das artes plásticas”.

Artigo editado por Filipa Silva