O que é que um padre, um oficial da Polícia de Segurança Pública (PSP) e uma atriz e apresentadora fazem na mesma sala? Esta sexta-feira, no Atmosfera M, no Porto, a resposta foi uma: mostram o que estão a fazer para chegar às pessoas, para comunicarem com o exterior das instituições que representam.

Para comemorar o nono aniversário, a Essência Completa organizou esta “Comunicação (Im)Provável” e convidou para o debate o padre Jorge Duarte, pároco de Mafamude, e Hugo Palma, Intendente da PSP. Filomena Cautela comandou a conversa.

O padre Jorge Duarte afirmou várias vezes que a intenção da Igreja é aproximar as pessoas, numa nova era digital, de comunicação global que, paradoxalmente, está a fazer com que os indivíduos se tornem “ilhas”.

A proximidade com a população é algo também importante para a PSP, frisou Hugo Palma. Por essa razão, “a PSP tem que trabalhar com as redes sociais”, exemplificou.

A Igreja e o avanço tecnológico

O padre Jorge Duarte é pároco em Mafamude, assistente religioso do Centro de Produção do Porto da Rádio Renascença e diretor do Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais.

O padre Jorge Duarte é pároco em Mafamude, assistente religioso do Centro de Produção do Porto da Rádio Renascença e diretor do Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais. Foto: Bárbara Brochado

O padre Jorge Duarte explicou que a comunicação da Igreja na era digital é complicada. O pároco de Mafamude disse que mais do que vivermos numa era de comunicação, vivemos numa era de informação. “Nós temos muita informação e pouca comunicação”, afirmou.

Filomena Cautela deu, a propósito, o exemplo da paróquia de Sande, em Guimarães, que estreou uma emissão da missa em streaming de vídeo no início do mês de novembro. O padre Jorge Duarte disse que não pensa em fazer uma coisa do género, porque considera a transmissão da missa na televisão uma exceção. “Só é legítimo por causa das pessoas doentes”, considerou.

À pergunta da apresentadora sobre se seria possível a existência de um padre youtuber, o orador menciona que já existem. No Brasil, são muitos e em Portugal sabe que “existe pelo menos um”.

Estratégias da PSP nas redes sociais

As redes sociais têm um impacto muito grande no trabalho da PSP. O Facebook desta polícia já conta com mais de 600 mil seguidores e neste momento querem apostar mais no Instagram.

Hugo Palma confessou ao JPN, à margem da sessão, que o alcance é totalmente orgânico, ou seja, não pagam seguidores nem publicações. Acrescentou que a adesão das pessoas às redes sociais da PSP “é ótimo, mas é um desafio”, dada a falta de recursos humanos para gerir o fluxo de informação.

Hugo Palma é diretor do Gabinete de Imprensa e Relações Públicas da PSP.

Hugo Palma é diretor do Gabinete de Imprensa e Relações Públicas da PSP. Foto: Bárbara Brochado

O Messenger da PSP é também muito solicitado. Por dia, recebem de 60 a 70 mensagens. Hugo Palma explicou à plateia que o “Messenger funciona como uma grande porta de entrada para queixas ou questões”. No entanto, as queixas não são consideradas formais. O queixoso tem sempre de se dirigir a uma esquadra para assinar um documento de queixa, caso entenda formalizá-la.

Ainda na conversa com o JPN, Hugo Palma definiu numa palavra a estratégia que a PSP adota nas redes sociais: “humanização”. Para a força policial, isso significa mostrar à população que por trás da farda de um polícia está uma pessoa comum: “a irmã de alguém, ou o pai de alguém”. Para além de apanhar criminosos, “estão [no terreno] para ajudar a comunidade”, sublinha.

Criminalização na era digital

A uma pergunta de Filomena Cautela, Hugo Palma respondeu que os perfis das redes sociais podem ser usados como provas policiais desde que um magistrado o autorize.

Existe também, hoje em dia, muitas fraudes ligadas à Internet. Por essa razão, os ingleses já assumiram há uns anos a chamado Polícia Digital. Este tipo de policiamento ainda não existe em Portugal, mas Hugo Palma diz que estão a trabalhar nesse aspeto e espera que em breve “essa seja uma realidade para a PSP”. O Intendente da PSP explica ainda que o Polícia Digital “apenas patrulha as redes”.

Filomena Cautela lançou mais uma questão: “é possível criminalizar autores de fake news?”. Hugo Palma explicou que a difamação e a injúria constam do código penal. Não existe o crime de falsa notícia, mas, em alguns países, discute-se a sua existência.

O padre Jorge Duarte recorreu ao conhecimento bíblico para lembrar que o problema está longe de ser novo. Um dos 10 Mandamentos, frisou, é “não levantarás falsos testemunhos”. Só que, na visão do pároco, antigamente “não havia a capacidade de divulgar uma notícia falsa com os meios que hoje temos”, acrescentou.

O clérigo concluiu que “a bondade ou a maldade” não são intrínsecas às ferramentas. O problema reside no uso que delas se faz.

Durante o evento, Filomena Cautela não dispensou as perguntas de pressão que habitualmente faz no seu programa, o “5 para a Meia-noite”. O humor acompanhou toda a discussão.

Artigo editado por Filipa Silva