A entrada para a faculdade traz consigo a pressão, os trabalhos, os exames, a que acresce em muitos casos as saudades de casa e o cenário desconhecido de uma nova cidade. Nesta nova etapa há amigos diferentes, ambientes diferentes, uma vida diferente. Em muitos casos, a adaptação não é fácil.

Segundo a psicóloga Adelaide Telles, dos Serviços de Ação Social da Universidade do Porto (SASUP), “qualquer jovem na fase adolescente ou jovem adulto é mais vulnerável. A essa vulnerabilidade, normal dessa época da vida, os jovens universitários veem acrescentadas necessidades, confrontos, conflitos, e mais situações não normativas.”

Certo é que os pedidos de consultas de psicologia nas universidades têm aumentado. De acordo com o “Diário de Notícias”, que em abril recolheu dados junto de vários serviços de atendimento psicológico em instituições do Ensino Superior, esse aumento verificou-se em Coimbra, Aveiro e no Porto, só para dar alguns exemplos.

Na Universidade de Coimbra, em 2017, foram prestadas 1.411 consultas, um grande aumento face aos números de 2014 – 774 consultas. Já em Aveiro, foram dadas, em 2016, 1.936 consultas a estudantes da universidade – mais 1092 do que em 2014. Do Porto, não há números comparativos, mas a responsável pelo gabinete de apoio aos estudantes da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto (FPCEUP) nota que a rpocura pelo serviço “tem vindo a aumentar”.

Segundo o Inquérito sobre Estigma em Saúde Mental, realizado entre maio e julho deste ano por uma empresa farmacêutica junto de estudantes do Ensino Superior de vários graus e zonas do país – cerca de mil respostas foram validadas – 51,5% dos alunos afirmam ter colegas ou amigos a quem foi diagnosticada uma doença mental. No mesmo inquérito, 16,8% dos estudantes admitiram que lhes tinha sido diagnosticada uma doença mental durante o período da faculdade. Contudo, apenas 22,9% das pessoas diagnosticadas estavam a ser acompanhadas por um psicólogo ou psiquiatra.

Destigmatizar as doenças mentais

No mesmo inquérito, a maioria dos universitários (95,2%) concorda que qualquer pessoa pode vir a ter uma doença mental. Todavia, existe uma pequena percentagem de estudantes que acredita que “uma das principais causas de doença mental é a ausência de auto disciplina e força de vontade”. Quanto às principais fontes de estigma e preconceito, apontam a falta de literacia em saúde mental e a necessidade de campanhas de sensibilização, políticas educativas nas escolas e intervenção do governo.

De forma a terminar com esse estigma, dois alunos da Escola de Medicina da Universidade do Minho criaram o projeto “Informar para desestigmatizar” – uma séries de vídeos informativos para acabar com os mitos sobre a saúde mental. O primeiro vídeo é sobre depressão e conquistou o primeiro lugar nos prémios Angelini University Award, destinado a jovens universitários em Portugal.

João Lima e Nuno Castro trabalharam em conjunto com médicos do Serviço de Psiquiatria do Hospital de Braga.

Acompanhamento Psicológico

Cada vez mais, as universidades disponibilizam organismos e plataformas para ajudar os estudantes ao nível psicológico. Criam também várias iniciativas de prevenção, alerta e eliminação do estigma. A psicóloga Adelaide Telles relembra que “há sempre mais a fazer. As universidades, sendo um foco de mudança e inovação, fazem parte disso.”

SASUP

Os Serviços de Ação Social da Universidade do Porto possuem um Núcleo de Saúde que permite ao estudantes da UP usufruir de cuidados não só ao nível de saúde mental, mas também noutras especialidades médicas, como, por exemplo, Clínica Geral, Ginecologia/Obstetrícia e Nutrição.

Como técnica deste núcleo de saúde, Adelaide Telles confessa que “neste momento, os SASUP não estão com grandes atividades. Os técnicos não têm tempo e dão prioridade às consultas. Mas elas existem. E são muito importantes”, afirmou ao JPN.

SOS Estudante

A SOS Estudante é uma secção cultural da Associação Académica de Coimbra, que pretende informar e apoiar a comunidade académica quanto às diferentes problemáticas que os afetam emocional e psicologicamente. A linha SOS de Apoio Emocional funciona todos os dias das 20h00 às 01h00 (exceto férias escolares). A linha é gerida por estudantes preparados para auxiliar quem precisa de desabafar de forma anónima e confidencial, sem qualquer tipo de preconceito ou pontos de vista parciais.

Linha: 239 484 020; 969 554 545; 915 246 060

 

LUA

Também a Universidade de Aveiro criou uma Linha de Apoio ao Estudante, disponível das 21h00 à 01h00. É constituída por alunos voluntários com formação específica para o efeito, que atendem as chamadas de alunos que procuram ajuda. Caso se considere que o aluno necessita de um acompanhamento profissional, será encaminhado para o serviço de consultas  LUA Face-to-Face, onde será seguido por psicólogos clínicos.

Linha: 800 208 448

 

 

Artigo editado por Filipa Silva