Exibição de gala do FC Porto, esta quarta-feira, no Dragão, deixou água na boca aos adeptos para a fase a eliminar da Liga dos Campeões. De bola parada e de bola corrida, os dragões marcaram, jogaram e fizeram jogar, sobretudo na segunda parte. Uma das melhores exibições da temporada que culminou com uma vitória por 3-1 sobre os alemães do Schalke 04.

Danke Lokomotiv

“Às vezes é mais fácil passar num grupo com um tubarão e dois golfinhos do que num grupo como o nosso. Arrisco-me a dizer que este será o jogo mais difícil de toda a fase de grupos”.

As palavras são de Sérgio Conceição e foram ditas no lançamento do jogo frente a um adversário que já eliminou os dragões desta mesma competição em pleno estádio do Dragão, ainda que há um pouco mais de dez anos. Se seria o mais difícil, apenas o jogo o diria, mas não foi, de todo, tão decisivo como se esperava.

Lançado como um match point na luta pelo apuramento para a fase a eliminar da Liga dos Campeões, o FC Porto – Schalke 04 perdeu interesse aos  olhos do adepto neutro, mas nenhum do FC Porto ou Schalke 04 se importou com isso. Notícias vindas de Moscovo retiraram pressão dos intervenientes e reforçaram uma realidade anunciada: a FC Porto e Schalke 04 restava lutar pelo primeiro lugar do grupo, porque o apuramento, esse, foi o Lokomotiv que entregou de bandeja a portugueses e alemães, vencendo o Galatasaray em casa e mantendo, ainda, a esperança de continuar na Europa do futebol. Sem tubarões nem golfinhos, este grupo de quatro “trutas” revelou-se uma pescaria bem mais fácil para os dragões do que seria de prever.

Afinal, há mesmo uma “fórmula Champions”

Ainda sem saber que entraria em campo qualificado, Sérgio Conceição escalou um onze que acentua uma tendência: no campeonato joga-se com dois médios e, na Liga dos Campeões, joga-se com três.

Decisivo jogo frente ao Belenenses, Otávio foi o sacrificado em favor de uma estratégia com um meio-campo reforçado e, assim, Herrera saltou para o onze. Também Marega e Maxi estavam de regresso à equipa, substituindo a dupla de avançados que jogara para a Taça de Portugal: Soares e André Pereira. Do lado esquerdo do ataque, mais uma alteração: Brahimi (de regresso ao onze) substituiu Adrián López. Assim, o trio de ataque Corona-Brahimi-Marega, que tantos frutos tem dado na Europa, estava refeito e protegido por um meio-campo com o pêndulo Danilo, o transportador Herrera e o criador Óliver.

Schalke transformado

O Schalke que o FC Porto enfrentou em Gelsenkirchen nada teve a ver com o que o FC Porto enfrentou esta quarta-feira: montado no mesmo 3-5-2, os comandados de Tedesco chegaram ao jogo da primeira jornada numa posição pouco cómoda na Bundesliga, mas chegavam ao Dragão tendo perdido apenas dois dos últimos onze jogos mas, mais do que isso, apenas quatro jogadores repetiam a titularidade do jogo da Alemanha. Di Santo e Konoplyanka apareciam na frente e prometiam causar muitos problemas aos dragões por terem características complementares: o poder físico do argentino e a técnica em velocidade do ucraniano.

Início sonolento

Talvez por já terem o passaporte para os oitavos-de-final garantido, os jogadores de ambas as equipas pareceram entrar um pouco desconcentrados. Sucessivas perdas de bola fizeram o jogo apático nos primeiros dez minutos. Ainda assim, podia dizer-se que os alemães estavam melhor e obrigavam os centrais Felipe e Militão a dobras constantes aos defesas laterais.

Com o passar do tempo, a boa exibição da dupla de centrais foi contagiando, no bom sentido, os colegas ao ponto da primeira boa oportunidade de golo ter sido azul e branca. Depois de um mau alívio da defesa alemã, Danilo, de primeira e de fora da área, remata para grande defesa de Fahrmann aos 14 minutos.

O lance de Danilo foi um tónico importante para o FC Porto. Depois desse remate, a equipa instalou-se definitivamente no meio-campo alemão. O trinco internacional português, Danilo, voltou a estar por duas vezes perto do golo e Marega, em jeito, também obrigou Fahrmann a uma defesa magistral. Tudo isto antes dos 20 minutos.

Marasmo total

Se parecia que o FC Porto, depois de um momento em que criou várias oportunidades de golo, partiria para uma exibição relativamente avassaladora, essa aparência esfumou-se. Na verdade, quem se deslocou ao Estádio do Dragão não terá dado por bem gasto o dinheiro do bilhete para o jogo. Do Schalke pouco se via porque o FC Porto estava bem a defender, mas muito pouco empreendedor a atacar. No final da primeira parte, as duas equipas tinham feito muito pouco e o nulo justificava-se.

Harit para jogo, FC Porto por cima e KO

No regresso dos balneários, uma alteração no Schalke: Skrzybski deu lugar a Harit e o ataque dos alemães passava a estar mais versátil. Ainda assim, quem pareceu vir com outra atitude foram os jogadores do FC Porto. Logo a abrir, Herrera perdeu uma boa oportunidade para marcar na sequência de um remate de Marega que, depois de ter sido bloqueado, isolou o mexicano. Depois disso, seguiu-se o melhor período dos dragões no jogo. Cheirava a golo.

Éder Militão fez o primeiro ao serviço do FC Porto.

Éder Militão fez o primeiro ao serviço do FC Porto. Foto: FC Porto/Facebook

O anunciado tento chegou, mas em dose dupla. Em apenas três minutos, primeiro Militão e depois Corona atiraram o Schalke ao tapete. Aos 52 minutos, Corona bateu um canto ensaiado para a entrada da área, onde Óliver apareceu a cruzar para o cabeceamento vitorioso de Éder Militão, o primeiro ao serviço do FC Porto. Três minutos depois, na sequência de uma grande jogada coletiva, Corona combinou com Brahimi e, já perto da pequena área, finalizou com classe. Tarefa muito difícil para os alemães a partir daqui.

Vendaval azul-e-branco

Quando chegaria o 3-0?

Se Felipe tem marcado, aos 60 minutos, o seu magnífico pontapé de bicicleta, então, já dava mesmo para tudo. A bola não quis entrar e foi à trave da baliza de Fährmann.  O Schalke estava absolutamente atordoado pelos constantes ataques dos dragões e não conseguia ligar três passes seguidos. As estatísticas confirmavam: na segunda parte, o FC Porto e Sérgio Conceição banalizaram por completo o vice-campeão alemão.

Dança dos bancos

Com o resultado em 2-0, Tedesco queimou as três substituições antes dos 75 minutos e mudou o sistema, passando para 4-4-2. Schopf e Rudy foram a jogo, mas a tendência da partida mantinha-se.

Sérgio Conceição começou por refrescar o lado esquerdo do ataque, substituindo Brahimi por Adrián López.

Algum tempo depois do 2-0, o FC Porto abrandou o ritmo vertiginoso com que começara a segunda parte, mas mantendo uma postura defensiva irrepreensível. Não estando a ser um rolo compressor, o FC Porto nunca perdeu o controlo do jogo e à entrada para os últimos dez minutos, o resultado não podia ser mais justo.

O susto e a estocada final

Já se sabe que uma vantagem de dois golos é enganadora porque um golo do adversário, a qualquer momento, relança a discussão pelo resultado. O golo do Schalke surgiu de penálti, num lance em que a bola vai ao braço de Óliver Torres. Bentaleb foi muito frio na conversão aos 89 minutos e, com quatro minutos de compensação para jogar, já se sabia que o Schalke ia apostar num jogo direto que procurasse resgatar um ponto e manter viva a esperança do primeiro lugar do grupo.

O furacão Marega que, este ano, chegou à Liga dos Campeões, emergiu num dos últimos lances do jogo. Assistência de Otávio e classe na finalização do maliano à saída de Fährmann. Estava feito o 3-1 final.

“Uma vitória consistente”

No final do encontro, Sérgio Conceição era um homem naturalmente satisfeito quer pelo resultado, quer pelo apuramento: “O FC Porto é um clube forte na Europa, estamos habituados a passar esta fase e tivemos essa felicidade nestes dois anos, mas tem a ver com o trabalho que se faz aqui todos os dias e com a ambição”.

O técnico notou as dificuldades enfrentadas pela equipa na primeira metade do jogo, mas considerou que elas foram plenamente corrigidas na etapa complementar: “Na segunda parte, os jogadores perceberam o que estávamos a fazer. Felizmente fizemos dois golos, criámos dificuldades ao Schalke para sair, até pela pressão mais alta. Depois houve aquele penálti saído do nada, que podia fazer abanar a equipa, mas temos uma força anímica grande e ainda fizemos o terceiro golo”.

“Foi uma vitória consistente e que mostrou a maturidade da equipa”, concluiu o técnico do FC Porto.

Quando falta um jogo para completar a fase de grupos da Liga dos Campeões, o FC Porto soma 13 pontos, mais cinco que os alemães. A ronda fecha a 11 de dezembro com a deslocação dos dragões à Turquia para enfrentar o Galatasaray.

Artigo editado por Filipa Silva