Se o Porto tem, todos os anos, um mini-festival de música a acontecer em finais de janeiro, deve-o aos amigos de Luís Salgado, o atual programador do Maus Hábitos. Foram eles que o provocaram: “Eu fazia um aniversário redondo [em 2012] e eles, num misto de desafio e de bullying, disseram-me que eu não conseguia fazer um festival”.

Estavam enganados. E para o provar Luís Salgado escolheu o Maus Hábitos, onde ainda não trabalhava. A primeira edição meteu, essencialmente, bandas de amigos, mas correu bem. Um ano depois, estavam a pedir-lhe novo evento.

“Aí, esforcei-me um bocadinho mais. Já não foram só os amigos, convidei umas bandas mais conhecidas e essa edição meteu mil pessoas cá dentro e mais mil lá fora que não conseguiram entrar”, conta Luís Salgado ao JPN. “Isto foi em janeiro. Em abril, eles convidaram-me para fazer a programação do Maus Hábitos.”

De lá para cá, o aniversário do programador da casa é sempre motivo de celebração musical, uma espécie de montra da colheita que Luís Salgado faz a partir do que viu e descobriu no ano anterior. Este ano, O Salgado Faz Anos… FEST acontece no sábado, a partir das 22h00, no Maus Hábitos.

Quis colocar o foco em novas bandas”, comenta o programador a propósito do alinhamento, no qual a presença de bandas do Porto e do Norte do país saiu reforçada. São mais de 20 projetos musicais espalhados por três palcos e outras áreas da casa (ver caixa).

O programa é diversificado. Do hip-hop de Chullage, que vem ao Porto apresentar, em estreia nacional, o seu mais recente projeto: Pretu, e que vai contar com convidados como o Cachupa Psicadélica ou Marcus Scuru Fitchadu; ao punk rock dos The Parkinsons, passando pelo garage surf dos Sunflowers.

Veteranos do punk, os Parkinsons vão atuar no Maus Hábitos.

Veteranos do punk, os Parkinsons vão atuar no Maus Hábitos. Foto: Hugo Adelino/Wave Magazine

Luís Salgado destaca ainda MEERA, “uma surpresa muito boa deste ano”, e dois projetos que considera dignos descendentes dos Mão Morta: Sereias e Terebentina. “Até convenci o Adolfo Luxúria Canibal a vir cá de propósito”, conta.

Alinhamento e horários
Abertura de portas 21h30

Palco O Salgado
22H30 Pretu (Chullage)
23H30 Sunflowers
00H30 The Parkinsons
01H30 MEERA

DJsets
02h30 Dias de Blanca (Nuno Dias e La FLAMA Blanca)
04H30 DJ Lynce

Palco Super Bock
22H15 Decibélicas
23H00 P A L M I E R S
23h45 Krypto
00H30 Sereias
01H15 Greengo
02h00 Solar Corona

DJsets
21h30 Paulo Cunha Martins
03H00 Sérgio Hydalgo
04H00 Gin Party Soundsystem
05H00 BENT

Palco Stockhousen
22h30 Julius Gabriel
23h15 Savage Ohms
00h00 Terebentina
00h45 Aquele gajo que vem sempre
01h45 Talea Jacta
02h30 Lonz Dale’s Fantasy
03h15 Vive les Cônes

Mupi Gallery
22H00 O Bom, o Mau e o Azevedo

Instalações
Mupi Gallery Pedro Mkk
Escadas Oupas! design
Escadas Henrique Richard

Do cartaz também consta, como é já tradição, Aquele gajo que vem sempre. Rezam as crónicas que será de Samuel Úria que se está a falar. Luís Salgado não evoca o nome, mas deixa uma garantia: “Esse gajo a gente nunca sabe se ele vem, é sempre uma incógnita. Tem vindo, mas pode não vir. Se não vier, para o ano mudo-lhe o nome para O gajo que se baldou no ano passado”.

Há ainda duas bandas exclusivamente femininas. As Decibélicas, de Braga, e as Savage Ohms, de Lisboa. “As Savage Ohms num espectro mais experimental. As Decibélicas num punk mas de intervenção feminista, com uma série de coisas importantes para dizer”, completa o programador.

Uma celebração do espaço

O público reflete a variedade do cartaz e é também isso, na opinião de Luís Salgado, que faz daquela uma noite especial: “Acabas por ter aqui a comunidade artística, LGBT, do hip hop, do rock-indie-whatever, do experimental, tens uma série de públicos que normalmente não estão juntos no mesmo evento. Há uma espécie de celebração, além dos meus anos, que é só um pretexto, que é também no fundo uma celebração daquilo que é o Maus Hábitos”.

Com uma média mensal de 15 concertos, e muitas noites de casa cheia, Luís Salgado confirma o bom momento do espaço de intervenção cultural: “Tens a parte das artes plásticas, que não passa por mim, mas que se respira no espaço. E depois, em termos de música, é transversal a todos os estilos musicais, das coisas mais experimentais ao rock mais pesado. Temos as duas melhores festas de hip-hop do país, música sul-americana, uma Beyonce Fest, uma programação diversificada e de qualidade”, reflete.

E não falta o que mostrar, com o programador a considerar “que faltam no Porto mais salas de concerto desta dimensão”.

Dimensão é o que o espaço ganha a cada O Salgado faz anos… Fest até porque o mobiliário da casa é retirado. “Só ficam palcos, pessoas e bares”, aumentando a capacidade para perto de mil visitantes.

Uma coisa é certa e Luís Salgado quer deixá-la sublinhada: “Há um mito de que há filas e gente que não entra. Isso é mentira, na minha festa de anos nunca ninguém ficou à porta”.

O que é preciso, claro, é um bilhete. Os que foram colocados em pré-venda a 8 euros já esgotaram. Estão agora a 12 e assim ficarão até ao dia do espetáculo.