A exposição da artista britânica Tacita Dean (n. 1965), inaugurada esta terça-feira, marca o arranque das comemorações dos 30 anos da Fundação de Serralves. Conhecida pelo seu trabalho em filme de 16mm, a criadora recorre à pintura e à fotografia como meio para explorar eventos históricos específicos ligados ao conceito de memória, finitude, empatia e perda.

Depois de uma apresentação a solo em 2002 em Serralves, esta é uma oportunidade para apresentar o filme “Boots” (2003), que, para além de ter sido inspirado e filmado na Casa de Serralves e apenas exposto duas vezes, marca o início das ideias centrais que levaram à criação do seu mais recente projeto, “Antigone” (2018), uma dupla projeção de 35mm com uma hora de duração estreada na Royal Academy of Arts, em Londres.

Acompanhados também por “The Story Of The Beard” (1992), os três filmes encontram-se em exposição, assim como outras obras que marcam uma “manifestação de continuidade” de um percurso artístico que conta com décadas de criação e vários projetos.

Exposição fica até maio em Serralves.

Exposição fica até maio em Serralves. Foto: Pedro Matias

Destacam-se ainda na amostra dois dos seus mais recentes desenhos de grande formato sobre tinta de ardósia – uma “analogia à esperança e a estes estranhos tempos políticos em que vivemos” -, mas também vários postais, fotografias, desenhos e fotogravuras que pertencem à Coleção de Serralves.

Durante uma visita pré-inaugural à exposição, Tacita Dean sublinhou que o seu meio é o filme analógico, um meio que não deve ser visto como antiquado e que tem cada vez mais presença no campo artístico: “Aquilo que precisamos de perpetuar é que este meio não pode ser tratado de forma digital”.  “O que faz [o analógico] é dar-te esta coisa incrível e magnífica, e é arriscado e assustador e maluco, mas é magia. Se ainda acreditam em magia, eu acredito em magia”, afirmou.

A artista defende uma espécie de direito ao esquecimento que o infinito limite do digital pode fazer perigar: “Um mundo que não esquece é um mundo afogado no seu não esquecer”, tem dito sobre o tema.

Conferência de apresentação da exposição "Tacita Dean"

Conferência de apresentação da exposição “Tacita Dean” Foto: Pedro Matias

Marta Moreira de Almeida, a diretora interina do Museu de Serralves – o sucessor de João Ribas ainda não foi anunciado – descreveu a exposição como um “mundo rico em que a realidade se mistura com a história e o passado”, e no qual se evidencia “a questão do esperar, esperar para ver o que vai acontecer, a acumulação das experiências e a importância da cegueira no seu medium de trabalho”.

A exposição “Tacita Dean”, distribuída por seis salas e um longo corredor, abriu ao público esta terça-feira e permanecerá no Museu de Serralves até 5 de maio.

Artigo editado por Filipa Silva