Com uma exibição segura, o Boavista venceu, este sábado, o Feirense e afundou ainda mais os fogaceiros no último lugar do campeonato. Mateus e Alberto Bueno foram os marcadores de serviço no Bessa. Bom início para Lito Vidigal.

Lito Vidigal entrou com o pé direito no comando técnico do Boavista. Os axadrezados garantiram, este sábado, no Bessa, três pontos cruciais na luta pela permanência no escalão principal do futebol português frente a um adversário direto, com uma vitória por 2-0. Alberto Bueno e Mateus coroaram com um golo cada um duas boas exibições. O Feirense afundou-se no último lugar da tabela.

Jogo da batata quente

Depois de uma série de jogos francamente negativa, voltava ao conforto do Bessa depois de ter sido despedaçado na Luz. O novo treinador, Lito Vidigal, procurava enfrentar, na sua estreia à frente do Boavista, um Feirense ainda mais afundado na tabela. Os comandados de Nuno Manta Santos tinham assumido, no fim da jornada passada, a indesejada lanterna vermelha da Liga NOS e viajavam até à Invicta com a missão de a “passar” ao Boavista.

Na hora de escolher os titulares, a teoria do “tempo de adaptação” não foi critério nem para Nuno Manta Santos, nem para Lito Vidigal. Acabado de chegar do eterno rival FC Porto, Alberto Bueno, avançado espanhol, entrou de imediato para o apoio a Rafael Lopes no ataque do Boavista. Do lado do Feirense, também o extremo Mateus Anderson chegou, viu e jogou. O ataque dos fogaceiros ficou completo com Valencia e Sturgeon.

Defender primeiro e atacar depois. Mas quando?

O Boavista entrou a querer assumir a bola. Idris ocupava, com personalidade, a zona à frente da defesa, recuperando muitas bolas e permitindo que Rafael Costa pressionasse alto e combinasse com Bueno (já se nota algum entrosamento com o espanhol). Este domínio, contudo, era um pouco consentido pelo Feirense que esperava o seu momento.

Valencia, o ponta de lança dos fogaceiros, é um jogador muito rápido e, quando lançado em velocidade, provocava alguma agitação junto dos centrais axadrezados. Esta estratégia de Nuno Manta Santos era arriscada, porque dava confiança ao Boavista, mas só o tempo diria se seria eficaz.

Jogo muito disputado aquele que se viu no Bessa.

Jogo muito disputado aquele que se viu no Bessa.

Aos 21 minutos, Gonçalo Cardoso, na sequência de um canto, esteve perto de marcar para o Boavista. Do lado do Feirense, Briseño estava impecável a defender, principalmente nos lances aéreos (assim como Idris no Boavista).

Quando o melhor que se vê num jogo de futebol são os momentos defensivos, algo está mal. É certo que estavam frente a frente os dois últimos classificados do campeonato e que, perdendo, qualquer uma das equipas seria muito penalizada, mas, ainda assim, esperava-se maior rasgo ofensivo das duas formações. Aliás, a troca de extremos no Boavista (perto da meia hora Mateus foi para a direita e Índio para a esquerda) era um sintoma de que Vidigal queria qualquer coisa diferente no seu jogo.

Oásis no deserto

Foi precisamente numa arrancada pela direita de Mateus, que o Boavista criou real perigo aos 31 minutos, na sequência de uma recuperação de bola de Rafael Costa a meio-campo. O último passe da jogada foi de Bueno a servir Mateus que, depois de ultrapassar Vítor Bruno sem dificuldade, obrigou André Moreira a aplicar-se.

Este lance ainda deve ter acordado um pouco os poucos adeptos que se deslocaram ao Bessa, mas esses mesmos adeptos não terão demorado muito a voltar a bocejar. Até ao fim da primeira parte, a partida desenrolou-se com um futebol carente de qualidade.

Mateus contra a maré

Ao intervalo, Marco Soares entrou para o lugar de Aly Ghazal no Feirense, provavelmente, devido a alguma lesão do egípcio. Do lado do Boavista também houve uma substituição, mas sem recorrer a suplentes: Mateus voltou à esquerda do ataque e Matheus Índio voltou à direita. O jogo, esse, continuou na mesma, fora uns fogachos de Mateus que, a atacar, já tinha sido o mais ativo na primeira parte.

Aos 56 minutos, o angolano confirmou a boa exibição e marcou o golo que podia desamarrar o jogo. Depois de uma jogada bem desenhada pelo meio-campo axadrezado, Edu Machado ganhou espaço na direita para o cruzamento que André Moreira não conseguiu afastar. Com a baliza à sua mercê, Mateus só teve de fazer o mais fácil.

Bipolaridade futebolística

Depois de 56 minutos de mau futebol, tudo mudou. Três minutos depois de sofrer o golo, com alguma sorte na finalização, o Feirense esteve muito perto de marcar. Grande jogada coletiva dos fogaceiros, desenhada no início por Tiago Silva, que culminou com uma bola à barra. Sempre sob a batuta de Tiago Silva, o Feirense foi crescendo no jogo e o Boavista, sempre por Mateus, foi ameaçando no contra-ataque.

Inversão de papéis 

Percebendo que os estilos de jogo das equipas estavam a mudar, aos 65 minutos Lito Vidigal lançou o extremo Perdigão e abdicou de Rafael Lopes, a sua referência ofensiva. Com esta substituição o Boavista passava a ser muito ameaçador no contra-ataque porque, na frente, estavam três jogadores muito rápidos: Perdigão à direita, Mateus à esquerda e Índio no meio, servidos por um grande municiador: Alberto Bueno.

Se o Feirense estava a ter mais bola, já não fazia sentido apenas procurar as costas da defesa adversária. Aos 72 minutos, Nuno Manta Santos decidiu lançar João Silva, um homem de área. O sacrificado foi o reforço Mateus Anderson e Crivellaro passou para o lado direito do ataque dos homens da Feira. A partir desta altura, o Feirense passava para 4-4-2 e forçava mais a pressão sobre o Boavista, na busca do empate.

Nervos à flor da pele e xeque-mate

Percebia-se a importância do jogo nas bancadas. Aos 75 minutos, Lito Vidigal foi expulso por protestos, um sintoma dos nervos que se viviam no Bessa. No relvado, apesar do Feirense ter um pouco mais de bola, era o Boavista quem estava mais perto de marcar. O jogo encaminhava-se para o fim e via-se muito pouco da turma de Nuno Manta Santos.

Aos 79 minutos, Mateus sofreu falta e Alberto Bueno executou o livre com classe. Os três pontos já não escapariam ao Boavista. Até ao final do jogo, houve tempo para aplausos a Bueno (o espanhol, ainda sem a intensidade desejada, saiu cansado da partida) e para algumas ameaças sem efeito do Boavista.

O primeiro golo da partida, na sequência de um erro individual, desbloqueou o jogo a favor do Boavista e, depois disso, os axadrezados partiram para uma exibição muito mais liberta. O Feirense, se quiser sair do último lugar do campeonato, terá de fazer muito mais nos próximos jogos.

Vitória justa do Boavista que, com este triunfo, fica fora dos lugares de despromoção.

No final do jogo, Lito Vidigal valorizou “o coletivo”, mas admitiu a qualidade de Alberto Bueno: “é muito bom jogador e estou satisfeito por poder contar com ele”, disse aos jornalistas. Quanto ao jogo, o novo técnico do Boavista começou por admitir que “foi sempre equilibrado”, mas frisou que “o Boavista teve sempre mais oportunidades de golo do que o Feirense”.

Já o técnico do Feirense considerou que o primeiro golo foi crucial no desenrolar do jogo: “Penso que até ao primeiro golo fomos a melhor equipa em campo. Fomos mais equilibrados na primeira parte. Tivémos muita posse, mas faltou mais agressvidade ofensiva. Estamos com dificuldade não só em fazer pontos, mas também em fazer golos.” Quando questionado acerca da atual situação do clube, Nuno Manta Santos foi peremptório: “Sinto-me com força para continuar“.

Na próxima jornada, o Boavista volta a jogar em casa, desta feita para receber o Santa Clara. Já o Feirense vai acolher no seu recinto o Sporting. Ambos os jogos estão agendados para domingo, dia 10.

Artigo editado por Filipa Silva