A ideia de habitação colaborativa surgiu na Dinamarca, mas já chegou ao Porto. A Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) vai hospedar a primeira conferência internacional “Cohousing em Portugal | Viver Sustentável“, que vai reunir, na sexta-feira, oradores de vários países e pretende abrir caminho para o debate sobre as possibilidades deste conceito.

Segundo Nuno Cardoso, presidente da associação Hac.Ora, já são quase 300 os interessados, ainda a alguns dias do evento. O antigo presidente da Câmara do Porto considera a conferência “uma oportunidade muito boa para as pessoas que querem estudar e investigar essa área poderem ter acesso a conhecimento do que se passa pela Europa fora”.

Durante o dia da conferência, a Faculdade de Engenharia vai acolher oradores estrangeiros e nacionais, de áreas como psicologia, sociologia e arquitetura e que estão ligados à cultura de habitação colaborativa. Para Nuno Cardoso, as experiências partilhadas serão enriquecedoras porque “de certa forma cada país acaba por ter as suas especificidades próprias”.

A associação

A Hac.Ora foi criada em maio do ano passado e está a dar passos na promoção do cohousing sénior no país. O objetivo é criar uma ponte entre os interessados no conceito de habitação colaborativa e as empresas e instituições a trabalhar na área, bem como de promover, junto do poder político, o cohousing e as suas vantagens.

Nuno Cardoso, um dos fundadores, partilha que esta semana a associação foi ouvida na Assembleia da República, junto da Comissão Parlamentar de Ambiente Poder Local e Habitação, onde defendeu que a habitação coletiva deve ser incluída nas possíveis formas de habitar em Portugal.

O interesse do grupo pelo cohousing sénior surgiu pela perceção de que na sociedade portuguesa não existe uma solução adequada para os seniores ativos, que são cada vez mais. Nuno Cardoso explica que, recuando 20 anos, os idosos iam para os lares com grande autonomia, mas que atualmente os lares estão mais vocacionados para pessoas acamadas ou com grande nível de dependência.

Para os idosos ativos existem serviços de apoio domiciliário “e pede-se para ficarem nas suas casas”, o que faz com que este segmento da população se isole e fique mais vulnerável à solidão e depressão. Segundo Nuno Cardoso, a resposta atual às necessidades dos idosos não é a mais correta e refere que é necessário desenvolver novas estratégias.

Relação win-win entre estudantes e idosos

O local da conferência não foi escolhido ao acaso, pois um dos argumentos da associação organizadora é que os estudantes e idosos têm muito a ganhar com o conceito de cohousing.

Para o presidente da Hac.Ora, o acompanhamento das pessoas com mais idade, que têm mais experiência da vida e do mundo, acaba por ser “uma ajuda na formação dos jovens”, enquanto que os idosos podem contar com a ajuda dos mais novos para as tarefas que já não conseguem completar.

O modelo de habitação colaborativa proposto pela associação baseia-se em espaços autónomos, onde cada indivíduo tem a sua privacidade, mas que incluam áreas comuns, que promovem o convívio e colaboração entre os habitantes. Segundo Nuno Cardoso, esta é uma boa opção para os idosos que ainda se sentem ativos, de maneira a afastá-los do lar de dia, que é “uma situação muito penosa para a maior parte das pessoas”, bem como de ficarem sozinhos em casa.

O presidente da associação Hac.Ora refere a Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) “Os Pioneiros” como um exemplo de sucesso. A IPSS fundou, em 2012, uma “aldeia sénior” para idosos ativos que ainda têm capacidade de viver com independência. Desde então, o projeto foi crescendo e atualmente 18 idosos vivem num aglomerado de pequenas casas, usufruindo da sua independência, mas com profissionais prontos a ajudar nas tarefas que não conseguem completar sozinhos.

Este projeto, criado em Águeda, foi um dos primeiros passos do cohousing em Portugal e tem promovido a integração dos idosos e o combate à solidão. Para a Hac.Ora, os benefícios de viver em comunidade também passam pela poupança de recursos, ao viver em conjunto, bem como por desenvolver valores de partilha, que contrariam as tendências da sociedade atual.

A conferência decorrerá entre as 09h00 e as 18h00 do dia 22 de fevereiro e está sujeita a inscrição gratuita.

Artigo editado por Filipa Silva