O coletivo feminista, que integra várias associações, organizações políticas, sindicatos e pessoas a nível individual, convocou uma greve feminista para o Dia Internacional da Mulher (8 de março) e apresenta, esta terça-feira, o manifesto que lhe serve de base.

O documento foi já aprovado pelos diversos núcleos grevistas constituídos em Amarante, Aveiro, Braga, Coimbra, Covilhã, Évora, Fundão, São Miguel, Viseu, Lisboa, Porto e Vila Real.

Segundo Mariana Falcato, membro da plataforma, a apresentação é feita em Vila Real para garantir a globalidade da rede: “esta rede é global, e a greve é antes de mais nada uma greve internacional”, afirma em declarações ao JPN.

A ativista acrescenta ainda que é “importante que todas as mulheres possam participar [na greve] e se sintam representadas” e que o objetivo do coletivo não é manter-se apenas nos maiores centros do país, mas sim alargar-se ao máximo de cidades possível.

A greve feminista, convocada para o dia 8 de março, convoca as mulheres para manifestarem-se em “defesa dos seus direitos” e a “mobilizarem-se contra a violência, a desigualdade e os preconceitos”, fazendo greve ao “trabalho assalariado, ao trabalho doméstico e à prestação de cuidados, ao consumo de bens e serviços e greve estudantil”.

Segundo o documento, “a desigualdade salarial com base no género está presente em todo o lado, nas empresa e instituições privadas e públicas”.

No que ao trabalho doméstico diz respeito, o manifesto reivindica a distribuição do mesmo e o reconhecimento do valor social do trabalho doméstico e dos cuidados. Propõem, também, que este tipo de trabalho seja considerado no cálculo das reformas e pensões e que se reconheça o estatuto de cuidador/a.

Afirma, também, que “a contratação de serviços domésticos reproduz muitas vezes várias desigualdades – raciais, de género e de classe, porque é um trabalho frequentemente desenvolvido por mulheres migrantes e racializadas, sem contrato e sem direitos”.

A greve é convocada em quatro grandes eixos: greve ao trabalho, greve aos cuidados, greve ao consumo e greve estudantil. Mas, segundo Mariana Falcato, “as reivindicações e questões para as quais” querem “chamar a atenção vão muito para além disso”. “O que queremos chamar à atenção é para a quantidade de mulheres na sociedade de hoje que vivem em condições muito desiguais em relação ao geral”, afirma.

dois sindicatos – Sindicato das Indústrias, Energia e Águas de Portugal e Sindicato Nacional do Ensino Superior – apresentaram pré-aviso de greve para 8 de março, mas Mariana Falcato confirma que mais sindicatos se encontram em conversações para se juntarem à lista.

Movimento internacional

É a primeira vez que a greve se vai realizar em Portugal, mas o movimento já se tem vindo a afirmar em outros países. Seguindo o exemplo de Espanha, que em 2018 contou com uma grande greve feminista no Dia Internacional da Mulher, a Rede 8 de Março está agora a montar a primeira greve portuguesa nesse sentido.

A ativista acredita que o número de “feminicídios” (assassinato de mulheres pelos companheiros ou familiares) ocorridos desde o início do ano – onze no toal – ajudou a perceber que “é realmente urgente tratar destes assuntos que estão a limitar e a dificultar a vida das mulheres”. Mariana Falcato conclui que “a violência está muito presente e provavelmente acabou por dar mais visibilidade a todo este movimento”.

Artigo editado por Filipa Silva