No largo da Alfândega, quatro autocarros repousam ao sol enquanto esperam pelos seus passageiros, que estão do outro lado da rua. O centro de congressos atrai milhares de visitantes durante o ano e para os autocarros turísticos esta acaba por ser uma paragem recorrente.

António Carvalho, condutor de autocarros. Foto: Ricardo Rodrigues

António Carvalho é um dos motoristas em espera. Ao JPN, conta que, por hábito, é no largo que aguarda pelos passageiros. O condutor de 65 anos desconhece que a apenas 400 metros tem, desde esta terça-feira, uma nova opção de estacionamento.

Não é por isso de estranhar que, no parque camarário, os estacionamentos exclusivos para autocarros privados estão ainda vazios. Segundo o que o JPN apurou no local, ainda nenhum autocarro tinha entrado no parque de estacionamento da Alfândega na primeira manhã em que as mudanças foram implementadas.

O que mudou 

A Câmara do Porto informou, esta terça-feira, que o parque da Alfândega deixou de ser um parque de rotação de veículos ligeiros para passar a ser exclusivo para estacionamento de veículos de avençados e para autocarros de turismo. A autarquia considera que há um número excessivo de autocarros privados a circularem naquela zona da cidade e, por isso, introduziu esta alteração.

Parque da Alfândega ainda sem autocarros na manhã desta terça-feira.

Os 90 lugares que até aqui eram destinados a estacionamento de não residentes foram transformados em 18 lugares para autocarros privados e o número destinado a avençados aumentou. Contas feitas, comerciantes e moradores que pagam uma mensalidade para deixar o seu carro no parque têm disponíveis, agora, 121 lugares, mais 25 do que no sistema anterior.

Na reunião camarária de dia 5 de fevereiro, quando foram apresentadas as alterações agora em vigor, Manuel Paulo Teixeira, diretor municipal para a Mobilidade e Transportes, afirmou que a extensão do número de avenças naquele parque permitiria a eliminação da lista de espera. Contudo, é nessa condição que ainda se encontra José Luís, proprietário de uma loja que fica mesmo em frente ao parque de estacionamento camarário. Já há quatro anos que o dono do estabelecimento tenta obter uma avença para deixar o seu carro no parque.

O comerciante admite que muitas vezes estaciona de forma ilegal. “O que se passa na minha rua é uma consequência direta da balda que há aqui no estacionamento e de que eu faço parte, porque não tenho outra opção”, confessa José Luís.

Estacionar no parque camarário é algo que o comerciante faz de vez em quando, mas confessa que não consegue “pagar 16 ou 17 euros por dia para ter um carro estacionado”.

Para o comerciante de 56 anos, “a confusão que se passa com os carros em Miragaia devia acabar. É um caos, não há lugares marcados, toda a gente faz o que lhe apetece”.

Caos nas ruelas de Miragaia

Caminhando pela marginal, são recorrentes os casos de infrações no estacionamento. Desde carros parados em segunda fila, em frente a garagens ou até mesmo em locais expressamente proibidos, muitas vezes alguns veículos ficam impossibilitados de sair.

Camilo Brandão vive em Miragaia desde que nasceu e confessa que a sua freguesia se transformou “num parque de estacionamento selvagem”. Atualmente reformado, o antigo camionista internacional relembra os tempos em que deixava o camião em frente a casa e confessa que hoje tem dificuldades em aceder à própria habitação.

Mas o problema não é apenas seu. O morador afirma que os distribuidores que fazem descargas para o supermercado na rua “têm de vir com as peças de carne aos ombros, porque o camião não entra” ali, devido aos carros que estacionam nas ruas apertadas.

São tantos os automóveis indevidamente estacionados que é impossível dar a volta e os condutores têm de recuar pela rampa de marcha atrás. Para Camilo Brandão, a situação é preocupante, porque caso algum dos moradores necessite de assistência médica, uma ambulância não consegue aceder às habitações.

Em caso de emergência, ambulâncias não conseguem passar. Foto: Ricardo Rodrigues

O morador considera ainda que as mudanças no parque camarário vão “mandar ainda mais carros” para aquela zona de Miragaia, o que vai piorar a situação do estacionamento no local. “Já era tempo de se virarem mais para aqui e de arranjarem isto, porque está a ficar insuportável“, desabafa.

Autocarros com nova opção à cota baixa

Voltamos a António Carvalho, condutor de autocarros, para quem a mudança é positiva, porque “quando há coisas na Alfândega” a zona “fica cheia de automóveis” e falta espaço “para parar”. José Luís, comerciante de Miragaia, também concorda com as mudanças, na medida em que podem vir a fazer com que “venham menos carros” para ali. Contudo, considera que a comunicação por parte da autarquia podia ser melhorada, porque os moradores da zona são “parte interessada” e não foram, de acordo com o seu testemunho, devidamente informados.

Segundo a Câmara Municipal do Porto (CMP), chegam a circular 188 autocarros em simultâneo no centro do Porto, que muitas vezes congestionam o trânsito com a descarga de passageiros. A autarquia pensou nesta solução por considerar que falta uma alternativa de estacionamento para veículos longos de passageiros à cota baixa da cidade.

Outras opções consistem nos estacionamentos de rua e no parque subterrâneo da Rua do Infante D. Henrique, com capacidade para cerca de 300 automóveis.

Artigo editado por Filipa Silva