As portas de vidro ainda deixam escapar o que está por dentro da Alambique em plena Rua Formosa: livros, mesas e café. Uma placa na rua convida à entrada, mas não por muito mais tempo. A loja vai encerrar em março para dar lugar a um novo hostel.

“Vamos ser obrigados a sair desta casa, que, quando aqui chegámos, era só um lugar vazio, para dar lugar a mais um hostel”, escreveu Luís Félix, sócio da Alambique nas redes sociais. Ao JPN, o proprietário da cafetaria com livros conta que “por lei não era obrigado a sair, mas sabia que ia ser pior” se tivesse que negociar com o novo dono.

O primeiro aviso de que teriam que abandonar o espaço surgiu no ano passado, mas só mais tarde (já depois de várias pressões da, à data, proprietária para sairem) é que ambas as partes chegaram a um consenso. Luís e o outro sócio acordaram, então, em receber uma indemnização para abandonarem o local antes do término do contrato, que tinha validade de dez anos. “O valor é insuficiente para pagar os três anos que passaram e os sete que ainda faltavam”, lamenta.

Alambique

O Alambique junta num só espaço as vertentes de coffee shop, livraria, galeria de arte e loja vintage. Foto: Cláudia Freitas

“Pegamos num pau de giz e começamos a desenhar”

A loja Alambique, que abriu portas em setembro de 2016, foi o resultado de seis meses de trabalho intensivo. Considerado um espaço multifuncional, o espaço nasceu inicialmente como loja, mas a zona de cafetaria viria a completar, mais tarde, o resto do ambiente. “Faria mais sentido assim porque as pessoas sentiam-se mais à vontade. E a ideia sempre foi sentirem-se em casa como nós nos sentimos”, explica.

Mas o encanto não foi um dado adquirido. Foram os sócios que construíram os cantos da casa, desde a pintura das portas, à execução das estantes até ao desenho do balcão. “Viemos para aqui uma tarde, com a loja abandonada. E pegamos num pau de giz e começamos a desenhar a disposição das coisas”, descreve.

Loja Alambique encerra em março

Loja Alambique encerra em março. Foto: Maria Inês Moreira

‘Porto de tradição’ para os mais pequenos?

O nome que a loja conseguiu criar ao longo de quase três anos de pouco serviu para tentar salvar a posição atual. “Vale o que vale, mas neste caso não valeu nada”, afirma. Segundo Luís, “apenas estabelecimentos com mais de 25 anos podem ser considerados históricos” e, deste modo, receber proteção.

Projetos novos como a Alambique encontram ainda mais barreiras. Os mais pequenos “nem tem tempo para se tornarem numa loja histórica por mais história que façam”, afirma Luís.

E o futuro da Alambique?

Luís Félix, que chegou a pensar em não voltar a abrir mais a loja, mudou de opinião assim que anunciou nas redes sociais que a Alambique iria fechar. Desde então, tem recebido mensagens de apoio e sugestões de possíveis locais que possam albergar a nova loja.

Para já, ainda não há morada nova, mas Luís primeiro quer fazer uma pausa. Sobre a hipótese de remodelar um novo local, admite que vai ser mais cauteloso: “Se valer a pena, sim, mas tenho que ter a certeza que não me voltam a fazer o mesmo. Eu fiz um investimento e um projeto a contar para dez anos. Nem para metade deu”, conta.

As rendas elevadas da cidade também dificultam a escolha de um novo lugar e, para além disso, o novo estabelecimento precisa de ter as dimensões suficientes para manter o conceito de café, loja e livraria.

A única garantia é de que o novo projeto não será igual ao anterior e que apenas o ambiente se manterá fiel. “Sempre disse que não abriria o mesmo negócio se fosse um ano mais tarde ou um ano mais cedo. Estamos constantemente a mudar. Não somos uma Starbucks”, finaliza.

Artigo editado por César Castro