Prolongamento do quebra-mar exterior em 300 metros e aprofundamento do canal de acesso, do anteporto e da bacia de rotação do Porto de Leixões. Estas foram as mudanças anunciadas pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, esta quarta-feira, em Matosinhos.

De acordo com a Câmara de Matosinhos, “o investimento, no valor de 147 milhões de euros, permitirá melhorar as condições de segurança e navegabilidade da barra e viabilizar a entrada de navios de maior dimensão”. A conclusão da obra está prevista para 2023. Embora a economia seja, segundo o Governo, a justificação para a concretização das obras, nem todos são a favor. Os surfistas que frequentam a praia de Matosinhos mostram-se preocupados com o facto de a extensão do molhe poder vir a retirar parte da ondulação da praia.

Rodrigo Silveira tem 45 anos e é advogado. Pratica surf há 30 anos.

Rodrigo Silveira tem 45 anos e é advogado. Pratica surf há 30 anos. Foto: Sara Pires

Rodrigo Silveira tem 45 anos e pratica surf há 30. Ao JPN, o advogado diz ter um “mixed feeling” em relação às alterações que vão ser feitas no quebra-mar. “Por um lado, compreendo que há razões económicas para isso, como a questão de facilitar a entrada dos barcos para o Porto de Leixões“, afirma. No entanto, o surfista considera que o projeto é também uma “pena”. “É uma praia urbana, como há poucas no país, com uma grande extensão de areal e magnífica para a aprendizagem de surf”, diz.

António Mafra é mais radical: “Não devia ser construído nada”, afirma. O treinador de surf considera que “só quando houver uma tempestade muito grande” é que, talvez, exista ondulação suficiente para a prática do desporto. Já Nuno Mendes, técnico de sistemas informáticos, é da opinião que as ondas vão “continuar a entrar”, apesar do prolongamento do quebra-mar. “Há ondas que entram mesmo quando o mar está mais pequeno”, justifica o surfista há já 30 anos.

A praia de Matosinhos é uma das mais procuradas por surfistas iniciantes.

A praia de Matosinhos é uma das mais procuradas por surfistas iniciantes. Foto: Ricardo Rodrigues

Nem só a perda de ondulação e a consequente diminuição de surfistas na praia de Matosinhos são uma preocupação. Pedro Silva, de 44 anos, diz que as obras vão ter “reflexos” na atração turística da zona. O comerciante pratica surf há 15 anos nesta praia e refere que a mudança de local, para a prática do desporto, não é uma opção porque noutras praias as “dificuldades de acesso” são “maiores” e o “número de escolas” é “reduzido”.

Em contrapartida, na apresentação dos novos investimentos para o Porto de Leixões, a ministra do Mar sublinhou que, caso haja alterações na ondulação, o Governo tem compensações planeadas. Uma delas é, precisamente, a relocalização das atividades de surf para outras praias do concelho de Matosinhos. Se essa mudança de local tiver que acontecer, o Governo prevê cerca de dois milhões de euros para compensações financeiras.

Hugo Pais tem 42 anos e é gestor. Pratica surf há cerca de 5 anos.

Hugo Pais tem 42 anos e é gestor. Pratica surf há cerca de 5 anos. Foto: Sara Pires

Criar condições para que as escolas de surf possam ter a sua atividade durante todo o ano, da mesma forma que têm na praia de Matosinhos, é a proposta de Hugo Pais. O gestor, de 42 anos, diz que é “fundamental arranjar soluções para equilibrar os interesses económicos e os interesses da região de Matosinhos”. O surfista defende que as pessoas deveriam ter sido ouvidas antes de a obra avançar. “A praia de Matosinhos é das praias da Europa mais procuradas para aprendizagem do surf. O que vão fazer ao quebra-mar vai destruir essa bandeira de Matosinhos”, remata.

A empreitada integra a Estratégia para o Aumento da Competitividade da Rede de Portos Comerciais do Continente-Horizonte 2026.

Artigo editado por César Castro