Todos os dias somos confrontados com dilemas relativos ao meio ambiente e à economia em que vivemos. Com o uso de substâncias químicas nos processos de produção e a contaminação das águas e do ar, a indústria têxtil e do vestuário está entre as atividades mais poluidoras desde o século XX.

A necessidade de alterar mentalidades e formas de agir levou a moda a tornar-se mais sustentável, com os consumidores a adotar hábitos de consumo mais conscientes e as marcas a regerem-se pelo modelo circular. Assim, cada uma das partes do modelo de negócio deve mudar, uma vez que todas têm um papel importante a desempenhar. Com a economia circular a poder gerar milhões de poupança para as empresas, a implementação deste tipo de estratégia vai representar um estímulo à criatividade na redução de custos e à fomentação da criação de emprego.

A mais recente marca a adotar esta estratégia de moda circular foi a C&A. O novo programa de recolha de roupa “We take it back” vai permitir que os consumidores portugueses e espanhóis possam entregar peças de roupa que já não usem nas lojas, para que estas ganhem uma nova utilidade. Um conceito que já vigora nos espaços da marca em países como a Bélgica, o Luxemburgo, a Holanda, a Suíça ou a Alemanha e que agora chega a 32 lojas em Portugal e 84 em Espanha.

Depois da recolha, os artigos são transportados para as fábricas de processamento e cada peça de roupa é classificada à mão de acordo com a sua melhor opção de uso. As peças ganham um novo destino, podendo estas ser reutilizadas ou recicladas, consoante o estado em que cada uma se encontre. Uma pequena parte dos artigos inutilizáveis podem servir para produzir fibras recuperadas, que servirão de fio para fabricar novos tecidos.

De acordo com a insígnia, cerca de 60% dos artigos recolhidos são redistribuídos como produtos em segunda mão. Os restantes seguem, regra geral, para reciclagem, convertendo-se em novos artigos: os têxteis absorventes, por exemplo, são utilizados para fabricar panos de limpeza, ao passo que os botões e fechos são separados para uso na indústria metalúrgica. Até o pó que resulta do processo de reciclagem mecânica é prensado em briquetes para a indústria de papelão.

A marca holandesa é a criadora da coleção #WearTheChange, que contém produtos do programa “We Take it Back” e artigos com certificado Cradle-to-Cradle, ou sejaprodutos produzidos de forma natural com nutrientes biológicos, concebidos para serem reutilizados, transformados em novos produtos ou convertidos em adubo de forma segura. 

Marcas que seguem o mesmo rumo

A H&M investe também numa iniciativa global com vista à construção de um futuro sustentável baseado na recolha de têxteis. Os clientes podem deixar o seu saco de roupas usadas na caixa de reciclagem disponível em cada loja. Todos os têxteis são bem-vindos, seja de qualquer marca ou em qualquer estado, ou até meias sem par, t-shirts gastas e lençóis antigos. Os materiais são depois enviados para a unidade de reciclagem mais próxima, onde são separados manualmente.

Por cada saco de têxteis que o cliente entregar, irá receber um voucher que poderá usar na sua próxima compra. O objetivo é mais uma vez transformar os têxteis em novas coleções ou em meros panos de limpeza. Por outro lado, as roupas entregues em bom estado podem ser vendidas como artigos em segunda mão. A reciclagem é também um dos objetivos fazendo com que os têxteis usados ganhem uma nova vida, podendo ser transformados em fibras têxteis ou usados no fabrico de materiais de isolamento ou amortecimento para a indústria automóvel.

E no Porto…

A uma escala menor, mas com o mesmo propósito, vão surgindo no Porto marcas igualmente preocupadas com a sustentabilidade. A Kraxe Wien é eco-friendly e cria mochilas 
práticas para o dia-
a-dia. São produzidas em Portugal e
 feitas em vinil, através de tela e algodão, o que as torna resistentes ao frio, ao calor, à água, à abrasão e aos fungos. A Kraxe Wien também aposta forte no comércio justo, evitando intermediários desnecessários e assim um elevado preço para o consumidor.

As mochilas da Kraxe Wien são eco-friendly porque trabalham com materiais de qualidade, reduzindo ao máximo 
o impacto no meio ambiente. Foto: Kraxe Wien

A Näz é também uma marca de roupa amiga do ambiente porque reutiliza excedentes de
 outras fábricas 
têxteis para 
fazer as suas 
coleções, como vestidos,
 macacões,
 camisas, calções
 e t-shirts. Já a Walkest criou uma linha de calçado artesanal que, além de recorrer a artesãos com mais de 50 anos de experiência, planta duas árvores por cada par de botas que vende. A Marita Moreno cria peças com algodão 100% orgânico, cortiça certificada, burel e borracha.

A marca Forever is Boring faz questão de se afastar do fast fashion e 
do consumo desenfreado que inunda os mercados e,
 por isso, cada peça que produzem tem uma edição limitada, exclusiva e numerada. Por fim, a Natura Pura é uma marca ecológica de roupa e acessórios para bebé que utiliza algodão 100% biológico sem tingimentos. Para além de não usarem produtos químicos, a marca orgulha-se de ter sido 
a primeira empresa têxtil portuguesa certificada com o rótulo ecológico europeu.

Artigo editado por César Castro