Os dias do Facebook como rede focada na partilha aberta de conteúdos estão a chegar ao fim. Pelo menos, é o que pretende Mark Zuckerberg, fundador da rede social, de acordo com a nota que publicou no início de março naquele espaço.

Zuckerberg manifestou a vontade de redirecionar o Facebook para a busca de maior privacidade nas comunicações, através de encriptação de mensagens (à semelhança do que acontece no Whatsapp). As ideias apresentadas vão contra o que foi a política de partilha da rede social, que procurou sempre novas formas de facilitar a partilha e as conexões entre utilizadores.

Na nota extensa deixada na sua página pessoal, Zuckerberg reconhece que o público pode ter dificuldade em acreditar na mudança do Facebook para uma plataforma focada na privacidade. “Atualmente, não temos uma forte reputação em construir serviços que protejam a privacidade”. A reputação da maior rede social do mundo ficou manchada por casos como, por exemplo, a venda de dados de utilizadores.

Mark Zuckerberg enumera seis princípios para a construção do futuro mais privado das plataformas: interações privadas, encriptação, redução de permanência, segurança, interoperabilidade e armazenamento seguro. A encriptação end-to-end é utilizada no Whatsapp e outras aplicações de mensagens, mas não no Facebook Messenger, exceto se ativada para uma conversa específica.

Apesar de favorecer a privacidade dos utilizadores, a encriptação é também vista como um problema, com as empresas a enfrentarem vários casos em tribunal e pressões de Governos que pretendem aceder a conversas para fins como o combate ao terrorismo.

O novo rumo que o detentor do Facebook, Instagram, Whatsapp e Messenger parece querer tomar vai ao encontro do que tem sido a tendência dos utilizadores para procurar redes com contacto e partilha mais privada. As ideias são, no entanto, vagas no que diz respeito à partilha de informação dos utilizadores entre aplicações. Até porque um dos princípios, a interoperabilidade, diz respeito à possibilidade de os utilizadores terem conversas sem que todos os lados utilizem a mesma aplicação. A ideia de fundir as várias redes já tinha sido, aliás, apresentada no início deste ano.

No entanto, fica por responder a forma como o Facebook vai continuar a ganhar dinheiro, caso avance com a encriptação da informação. A fatia maior das receitas da rede social é a publicidade, sendo que o Facebook aproveita os dados que tem dos utilizadores para exibir publicidades mais adequadas a cada usuário.

A situação levanta suspeitas sobre se Zuckerberg pretende uma rede que dê aos utilizadores mais privacidade, como é o caso do serviço de mensagens Telegram, que preserva a anonimidade dos utilizadores, ou se apenas vai direcionar as redes sociais que detém para um contexto de interações mais privadas, mantendo a partilha de dados pessoais.

Artigo editado por César Castro