Para o presidente da Área Metropolitana do Porto (AMP), Eduardo Vítor Rodrigues, o Programa de Apoio à Redução do Tarifário dos Transportes Públicos (PART) veio resolver dois problemas: “o problema da assinatura mensal do Andante e o problema do zonamento Andante”. A AMP tinha um sistema intermodal nada metropolitano”, comentou o também presidente da Câmara Municipal de Vila Nova de Gaia, na cerimónia de assinatura do contrato que formaliza a entrada em vigor do passe único no Porto já no próximo mês, que teve lugar na estação de metro de São Bento, esta sexta-feira.

O autarca recordou, a propósito, a decisão do Conselho Metropolitano do Porto de passar a abranger na rede Andante os 17 municípios e os 29 operadores da área.

O presidente da AMP considera que a anterior rede de transportes tinha um “zonamento desarticulado”, “desatualizado” e “desorganizado”, com uma “heterogeneidade de preços”, e trouxe consequências: a perda consecutiva de passageiros, que se espera combater com os novos preços e maior alcance da rede Andante.

No discurso, Eduardo Vítor Rodrigues relembrou ainda que cerca de 65% das deslocações na AMP ainda são feitas em automóvel e que o transporte público representa “uma parcela exígua” na mobilidade diária dos residentes. Comparando o Grande Porto com outras cidades europeias, como Barcelona, Oslo e Roma, o presidente da Câmara de Gaia não teve dúvidas: “os nossos números são, claramente, os piores de utilização de transporte público, ou os piores números de sobreutilização de veículo individual”.

O presidente da AMP ofereceu ainda um passe único ao primeiro-ministro, António Costa. O PART, garantiu Eduardo Vítor Rodrigues, “não foi um número político. Foi um momento de trabalho e o trabalho quando surte efeito irrita quem não acreditou desde o início”.

Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da AMP, fala na cerimónia sobre o programa.

Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da AMP, fala na cerimónia sobre o programa. Rita Pais Santos

O futuro é sustentável e por isso, na sua intervenção, o ministro do Ambiente e da Transição Energética, João Pedro Matos Fernandes, afirmou que o programa é “a mais importante medida no transporte desde que há memória”. O ministro do Ambiente mostrou-se grato pelo “sim” dos autarcas à proposta que contribui para a descarbonização das cidades e considerou o combate às alterações climáticas como “a mais urgente luta das nossas gerações”.

Rui Moreira, que abriu a cerimónia, terminou o discurso com a expressão: “batize-se o bebé!”, sendo o “bebé” o programa dos passes únicos. O presidente da Câmara do Porto aludiu à ideia de batismo para lançar algumas acusações: os “pais” do projeto, garante Moreira, são o Estado e as áreas metropolitanas do Porto e Lisboa, mas “que agora muita gente queira ser madrinha ou padrinho” não o admira.

Segundo o presidente portuense, o parto “não foi nem prematuro, nem tardio, foi no tempo certo”, contrariando as críticas de eleitoralismo dirigidas ao Governo.

O autarca realçou ainda que “tratar igual o que é diferente não é justiça nem equidade”, mas sim “tratar diferente o que é diferente”, referindo-se às críticas relativas às diferenças de investimento do Estado através do PART no Porto/Lisboa e no resto do país.

Destas diferenças falou o primeiro-ministro, António Costa. O líder do Governo fechou a cerimónia, com uma mensagem que reforçava a medida “amiga” da coesão territorial. “Esta medida não se destina só às áreas metropolitanas de Lisboa e Porto”. Apesar da ideia ter surgido no seio das duas principais regiões, António Costa afirmou que “o Governo deu o passo que devia ter dado” e alargou a medida a todo o país.

PART no resto do país em maio

Entre 1 de abril e 15 de maio, “todas as CIM [Comunidades Intermunicipais] do país vão ter medidas ajustadas à sua realidade para redução do tarifário ou aumento da oferta de transporte público”, comprometeu-se o primeiro-ministro.

António Costa e João Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética.

António Costa e João Matos Fernandes, ministro do Ambiente e da Transição Energética. Foto: Rita Pais Santos

“O grande desafio que nós temos, enquanto humanidade, é procurar mitigar os efeitos das alterações climáticas”, afirmou ainda António Costa, ilustrando a necessidade de medidas que renovem o setor dos transportes: “26% dos gases com efeitos de estufa do planeta são emitidos a partir dos sistemas de mobilidades”.

As poupanças conseguidas através dos passes sociais (que podem atingir dezenas de euros por pessoa) tornam o PART, de acordo com o governante, num programa que contribui para o aumento do poder de consumo, que ajuda também a economia portuguesa, assim como a diminuição das importações de petróleo e o estímulo da indústria de produção de material circulante – 700 novos autocarros estão a ser adquiridos, a “esmagadora maioria”, garantiu António Costa, “é produzida em território nacional”.

O passe único da Área Metropolitana do Porto entra em vigor na segunda-feira, 1 de abril.

Artigo atualizado por Filipa Silva