No dia em que Juan Guaidó tenta levar a cabo um golpe de Estado para derrubar Nicolas Maduro, reunimos alguns números, em cinco planos, que ajudam a compreender o panorama socioeconómico atual da Venezuela.

1. Economia

O salário mínimo na Venezuela está atualmente nos 40.000 bolívares soberanos, qualquer coisa como 6,9 euros.

O valor que entrou em vigor a 16 de abril representa mais do dobro do que era o rendimento estabelecido no início do ano (18.000 bolívares soberanos, cerca de 3,10 euros pelo câmbio atual), mas os aumentos sucessivos – 27 desde que Nicolás Maduro assumiu o poder – não têm sido suficientes para devolver aos venezuelanos o poder de compra

Pouco mais de dois quilos de carne chegarão para esgotar o valor.

Nisto tem fulcral importância a colossal inflação que o país enfrenta. Atualmente ronda os 2.000.000%, mas o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a taxa atinja, este ano, os 10.000.000%. Em 2018, foi de 1.698.488,2%.

Só no mês de dezembro do ano passado houve um aumento de 123% no preço dos alimentos, 167% no dos transportes, 178% nos equipamentos para o lar e 197% para restaurantes e hotéis.

2. Segurança

A insegurança, como veremos mais abaixo, é um dos principais motivos pelos quais os venezuelanos estão a abandonar o país. Segundo o Observatório Venezuelano para a Violência, 23.047 pessoas morreram de forma violenta na Venezuela em 2018.

A taxa de homicídio é de 81,4 por cada 100 mil habitantes, o que representa uma redução em relação ao ano anterior, continuando, contudo, a Venezuela a ser o país mais violento da América Latina, ultrapassando Honduras e El Salvador.

O mesmo relatório, relativo a 2018, aponta para 7.523 como o número de mortes por “resistência à autoridade”, ou seja, mortes por ação dos corpos policiais e militares, um aumento em relação a 2017.

3. Pobreza e carência alimentar

Onze quilos foi o peso que 64% da população (cerca de três em cada cinco) perdeu em 2017 por falta de acesso a alimentos. A conclusão é da Encovi (Encuesta sobre Condiciones de Vida en Venezuela), que estudou mais de seis mil famílias no país. 78% dos entrevistados afirmaram não conseguir muitos dos alimentos básicos.

Dez foi o número de pontos que cresceu a pobreza multidimensional nos últimos três anos (entre 2015 e 2018) na Venezuela, segundo a Encovi, no estudo relativo a 2018.

A pobreza “alcançou metade dos agregados familiares (51%), enquanto que 80% dos agregados familiares apresenta risco de insegurança alimentar, visto que 90% da população não tem rendimentos suficientes para comprar alimentos”, lê-se no relatório.

As Nações Unidas apontam também para o problema garantindo que, neste momento, sete milhões de venezuelanos precisam de ajuda humanitária, o que equivale a um quarto da população. Estimam ainda que 3,7 milhões tenham sofrido de má nutrição em 2018.

4. Saúde

A ONU alerta também para a questão da Saúde no país ao garantir que 2,8 milhões de pessoas precisam de assistência médica. A falta de acesso a medicamentos e a cuidados médicos é apontado por várias organizações internacionais.

E há doenças com registos alarmantes como os 400 mil casos de malária, em 2017, que representam um aumento de 79% em relação ao ano anterior, ou os 9.300 casos de sarampo identificados pela Human Rights Watch,

5. Emigração

Nestas condições, são muitos os que abandonam o território venezuelano. O Representante Especial da ONU junto das agências que acompanham os refugiados e as migrações, Eduardo Stein, referiu-se à emigração atual como “sem paralelo na história moderna da região”.

A organização estima que haja 3,7 milhões de venezuelanos a viverem fora do país – quatro em cada cinco terão saído depois de 2015. No ano passado, terão sido cerca de 5.000 por dia. Se esse ritmo se mantiver, as Nações Unidas apontam para 5 milhões de venezuelanos a viverem fora do território no final deste ano.

73,6% das pessoas que abandonaram a Venezuela em 2018 tinham entre os 20 e os 39 anos e mais de metade (59,2%) tinham estudos universitários. As principais motivações são a insegurança (72,3%), o desespero pelo que acontece no país (70,8%), fome (63,1%), altos níveis de stress (62,9%), incerteza em relação ao futuro (58,8%) e falta de medicamentos para tratamento médico (56,3%).

83,6% dos emigrantes foram à procura de locais mais seguros e 31,2% viram-se forçados a sair. 87,3% tinham um trabalho antes de abandonar o país. Os resultados são relativos a 2018 e pertencem ao estudo sobre a Mobilidade Humana Venezuelana.

Artigo editado por Filipa Silva