“É tempo de ouvir o planeta”. A mensagem foi repetida na abertura da National Geographic Summit que decorreu na segunda-feira na Casa da Música do Porto e que este ano se centrou sobre uma questão: “Planeta ou Plástico?”.

À semelhança dos anos anteriores, a National Geographic Summit Junior antecedeu a sessão oficial. Dezenas de crianças foram recebidas na Casa da Música para um programa pedagógico de consciencialização, do qual saíram nomeadas como “guardiões da Terra e da Humanidade”. O título visa responsabilizar a nova geração pela preservação e defesa do planeta que vai herdar, tendo o poder de fazer a mudança.

A sessão da tarde contou com a presença da diretora-geral do National Geographic da Europa e África, Deborah Armstrong, do vice-presidente da Câmara do Porto, Filipe Araújo, e de um auditório lotado. Deborah Armstrong alertou para a urgência da sensibilização: “hoje é realmente sobre esperança, tanto como é sobre consciencialização”. Filipe Araújo assegurou, por sua parte, que “o município do Porto há muito que optou pela escolha do Planeta”. “O papel do Porto é esse, o de liderar pelo exemplo”, disse, garantindo que a cidade já tem há alguns anos “a economia circular na agenda política”.

Brian Skerry, fotojornalista subaquático da National Geographic, foi um dos principais oradores e trouxe a mesma mensagem para as crianças e os adultos: “todos conseguem atingir os seus sonhos, mas todos têm de trabalhar para isso”. O fotógrafo veio à conferência para mostrar a marca negativa que o ser humano deixa sobre os oceanos. A água compõe 88% da biosfera, o que, para Skerry, ilustra a necessidade de proteger este meio do qual tantas espécies dependem.

Brian Skerry foi um dos principais oradores.

Brian Skerry foi um dos principais oradores. Foto: Catarina Moscoso

A primeira vez que o fotojornalista se apercebeu dos problemas ambientais foi há cerca de 10 anos, quando acompanhava uma população de focas harpa. O aumento das temperaturas levou a uma fragilização do gelo com a diminuição da espessura, o que fez com que focas recém-nascidas caíssem à água prematuramente, resultando na sua morte.

Desde então, Brian já trabalhou com vários animais em perigo, desde tubarões perseguidos pelas suas barbatanas dorsais a tartarugas presas em plástico flutuante. Segundo o fotógrafo, o ser humano responde muito bem à sensibilização por imagens e, portanto, compreender os problemas com que estamos a lidar faz parte da solução. Dentro desta solução estão também a aquacultura e as reservas marinhas que, de acordo com Skerry, podem resultar na recuperação de biodiversidade marítima.

A bióloga e exploradora portuguesa do National Geographic Raquel Gaspar veio falar às crianças sobre as pradarias marinhas. Não são nada mais do que prados subaquáticos, onde a flora também floresce. A importância deste habitat no combate às alterações climáticas reside na captação e armazenamento de carbono que as raízes fazem, atuando como “um bunker subterrâneo”, disse a bióloga.

Raquel Gaspar falou sobre pradarias marinhas na National Geographic Summit.

Raquel Gaspar falou sobre pradarias marinhas na National Geographic Summit. Foto: Catarina Moscoso

Ana Milhazes é um exemplo de como é possível produzir praticamente lixo nenhum. Consigo, levou alguns objetos para mostrar às crianças como pode ser simples adotar comportamentos sustentáveis.

O mais importante é o frasco onde coloca o lixo que não é capaz de reciclar ou decompor. Este frasco, que permanece quase vazio desde julho de 2017, contém apenas cerdas de escovas de dentes, lentes de contacto, um autocolante de viagem de avião e as etiquetas de roupa com instruções – tudo lixo não reciclável que Ana não consegue evitar.

Lucy Hawkes é uma bióloga britânica que estuda os padrões migratórios de animais, nomeadamente do atum rabilho, a libelinha e o ganso de cabeça listrada. A especialista, que gosta de ver o mundo pelos olhos dos animais que estuda, trouxe à conferência algumas preocupações. Como Brian Skerry, a cientista abordou a caça intensiva de alguns animais, especialmente do atum rabilho, que devido ao seu valor no mercado está em risco de extinção.

Lucy Hawkes é bióloga e também passou pelo ational Geographic Summit.

Lucy Hawkes é bióloga e também passou pelo ational Geographic Summit. Foto: Catarina Moscoso

Esta edição do National Geographic contou também com a participação de Paula Sobral, investigadora marítima, que explicou a origem das ilhas de lixo flutuante e o processo de formação dos microplásticos. A sessão da tarde terminou com a participação de Jamie Butterworth sobre a economia circular, seguido de Claire Sancelot, outro testemunho de um estilo de vida minimalista e de zero desperdício.

No fim do National Geographic Summit Junior os oradores deixaram, cada um, mensagens ao futuro do nosso planeta: Brian desafiou as crianças a encontrar algo que adorem e a lutar pelos seus sonhos, Raquel pediu que chateassem “os grandes” e Ana Milhazes sugeriu que fizessem já uma mudança no próprio dia.

Artigo editado por Filipa Silva