Usar o telemóvel enquanto se conduz é ainda prática comum. “Intercetamos, todos os dias, muitas pessoas a manusear o telemóvel”, conta ao JPN um dos dois agentes Ribeiro que, em veículo descaracterizado, percorreram a cidade do Porto na tarde de quinta-feira, numa ação de fiscalização direcionada para o uso do telemóvel pelos condutores.

A operação “Phone Off” (em português: ‘telemóvel desligado’), da responsabilidade da divisão de trânsito da Polícia de Segurança Pública (PSP), decorreu de 6 de maio até este domingo. Nesse período, os agentes registaram 367 infrações por uso indevido do telemóvel durante a condução, o que corresponde a uma média de 52 autos por dia. Mais de 11.900 viaturas foram fiscalizadas.

“Manter uma conversa telefónica durante a condução possui efeitos tão nocivos como conduzir sob influência de álcool”, alerta a PSP.

A consulta das redes sociais, muitas vezes aliciada pelo trânsito, é, para o agente José Ribeiro, um dos maiores perigos. “A consulta de publicações vicia bastante e isso obriga mesmo o condutor a olhar de forma mais fixa para o ecrã”, observa.

Operação "Phone Off"

Operação “Phone Off” Foto: Rita Pais Santos

A lei prevê a proibição do manuseamento do telemóvel na condução, com coimas que vão dos 120 euros aos 600 euros. Permite, porém, a utilização de aparelhos dotados de um único auricular ou de microfone com sistema de alta voz.

Usar o telemóvel a conduzir? “Nunca! Tenho a carta desde 89 e é a primeira vez”

Entre agente Ribeiro e agente Ribeiro há já uma cumplicidade de muitos anos de trabalho juntos. “Entendemo-nos com o olhar”, conta o agente Francisco. O processo de autuar já é automático e funcionam de forma autónoma. Um deles aborda o condutor, o outro coloca as informações necessárias no sistema eletrónico, pelo meio liga-se a impressora e o terminal multibanco, e se um assinala a contraordenação, o segundo é testemunha.

Nem sempre são bem recebidos pelos condutores e garantem que as “desculpas” para a utilização do telemóvel são várias: um telefonema urgente de um familiar, a verificação das horas, uma rápida pesquisa no GPS. “Nós fazemos um seguimento do veículo e verificamos que não é o caso. Se fossemos a ‘perdoar’ toda a gente, mais valia não estarmos cá”, brinca o agente José Ribeiro.

O “azar” de terem sido apanhados na única vez em que tocaram no telemóvel ao volante também consta do discurso habitual. Ao JPN, um dos condutores garante “nunca” o ter feito. “Tenho a carta desde 89 e é a primeira vez”, revela o condutor de 49 anos.

Operação "Phone Off"

Operação “Phone Off” Foto: Rita Pais Santos

Em dias de chuva como este, passam-se as multas em bombas de gasolina e debaixo de viadutos. “A nossa vida é esta, andar a fazer piscinas pela cidade o dia todo”, aponta o agente Francisco Ribeiro, antes do agente José Ribeiro chamar a sua atenção para um dos veículos que circulava na faixa à direita.

Ricardo Oliveira, 35 anos, é o único condutor autuado com que o JPN falou que admite utilizar o telemóvel enquanto conduz regularmente – mas apenas no espaço de tempo em que o dispositivo se conecta ao sistema de alta voz do carro, pouco depois de carregar a bateria.

“Acho que a coima que eu levo não faz sentido. Não estava a mandar mensagens, não estava a manusear o telefone com o objetivo de ver alguma informação, estava apenas a proteger-me das multas ao sintonizar [o telemóvel] com o carro e mesmo assim fui multado. Tinha uma hipótese, que era encostar o carro na berma da autoestrada, mas achei que isso também daria problemas”, considera.

O condutor saúda as operações de fiscalização, mas nota falta de transparência na ação policial: “os parâmetros sob as quais [as ações de fiscalização] são feitas é que levantam questões. Acho que o rigor deve ser tido de uma forma constante. Não de se deve ser rigoroso em algumas coisas e noutras fechar os olhos”.

Na tarde em que o JPN esteve presente na ação de fiscalização, o veículo dos agentes Ribeiro autuou sete condutores por contraordenação pela utilização do telemóvel. Em 2018, foram assinaladas 39.276 contraordenações relativas ao uso do telemóvel na condução pela PSP e pela Guarda Nacional Republicana (GNR).

A GNR teve, aliás, no mesmo período da operação “Phone Off” uma ação semelhante no terreno, denominada “Smartphone, smartdrive“. De acordo com a Agência Lusa, os agentes registaram 649 infrações por uso indevido de telemóvel.

De 1 de janeiro a 30 de abril deste ano, a PSP registou um total de 4.998 acidentes, com 53 vítimas mortais (29 resultantes do acidente da Madeira de 17 de abril), 21 feridos graves e 5.888 feridos ligeiros.

Artigo editado por Filipa Silva