Apesar do nome ser de trio, O Bom, o Mau e o Azevedo tem, na verdade, quatro elementos: Kinorm, na bateria, Martelo, no baixo, Varejão e… o Azevedo nas guitarras. O grupo portuense lançou em abril o seu primeiro disco, homónimo, em versão digital e em vinil, com a consciência de que “o formato de consumo de hoje é o online”, mas não esquecendo a “nostalgia do analógico”.

“É uma banda instrumental e nunca sentiu falta de mais coisa nenhuma. Para mim, é esse o gozo, da música falar por si”, explica Azevedo ao JPN, com Martelo a acrescentar: “É como o pessoal antigamente dizia: a guitarra até chora”.

O álbum conta com 11 faixas, que foram desenvolvidas e trabalhadas ao longo dos quatro anos, decorridos entre a formação da banda, em 2015, e o lançamento do disco em 2019.

Depois do frontman Azevedo ter chegado da Holanda, onde compôs músicas para um videojogo que nunca chegou a sair, mostrou as peças aos futuros membros da banda, que alinharam no projeto.

A estreia foi nas Lazy Sessions, no Jardim das Virtudes, e, à falta de nome para completar o cartaz, entraram num processo de brainstorming, com ideias como “Os Chamuças”, “Os Clichês Todos” e “Os Cowboys de Campanhã” em cima da mesa, até alguém ter atirado “O Bom, o Mau e o Azevedo” (numa brincadeira com o filme “O Bom, o Mau e o Vilão”, de Sergio Leone, 1966), com um cheiro a spaghetti western que refletia a sonoridade que têm. 

Desde então, “Os Azevedos”, na versão curta, têm percorrido o cenário musical mais underground da cidade em concerto. O disco “demorou o tempo que teve de demorar”, garante Azevedo. “Entretanto, tens uma vida, és pai, tens amigos, 20 bandas, imensas coisas. A vida começa a ter muitos níveis e muitas frentes”, elucida.

“É preciso amadurecer um bocadinho. Depois é muito fácil acontecerem coisas do género: a banda não estar consolidada e sai um membro, entra outro. Estes anos dão para criar reportório, amadurecê-lo e formar um disco. Um disco é uma obra de arte”, aponta o baterista Kinorm.

Dentro do imaginário de Dick Dale e do surf rock, o reportório dos O Bom, o Mau e o Azevedo, “muito duro ao vivo, porque é uma banda de rock”, ganha uma nova dimensão no álbum. Tocado com a “mesma energia”, existe, para o grupo, uma “sensibilidade diferente” no disco, livre dos “histerismos” de concerto, com uma sonoridade “mais lareira”.

Os músicos foram gravados um de cada vez e adicionaram-se elementos que acrescem à experiência do álbum, como shakers, moedas, e seis guitarras acústicas diferentes. “É um projeto um bocadinho mais ambicioso de produção musical”, justifica o guitarrista Azevedo.

Para Kinorm, apesar da “secção rítimica coesa”, “o protagonismo é das guitarras” e do “diálogo entre o Varejão e o Azevedo”.  

Com músicas como “Devil’s Island”, “Surfin’ with a Hammer” e “Porrada no Tendinha”, os músicos explicam que não dedicaram muito do seu tempo a pensar nos nomes, que ilustram ideias espontâneas e situações quotidianas.

“A “Porrada no Tendinha” é a [música] mais rápida que temos e a mais forte e isso reflete uma fase da nossa vida, em alturas diferentes, em que passamos por uma porrada interior em saídas à noite”, explica Martelo, que revela também onde fica a “Devil’s Island”, nome cunhado pelo guitarrista Varejão: no parque das traseiras do centro comercial STOP, no Heroísmo. “É assim um sítio muito escuro e quando sais do STOP à uma ou duas da manhã e está um cão lá ao fundo é Devil’s Island”.

A banda revelou que já tem concertos em vista para os próximos meses e que vão anunciar as datas em breve.

Artigo editado por Filipa Silva