Subimos ao 4º andar, onde tudo acontece no nº 178 da Rua de Passos Manuel. O corredor do Maus Hábitos já transborda de agitação, com público a aguardar de bilhete na mão. Esperam para ver Conan Osíris, de regresso ao Porto, para novo concerto, o primeiro depois da aventura na Eurovisão. A hora do concerto aproxima-se e o público começa a entrar.

A iluminação escura, característica da sala, contrasta com a luz rúbea dos holofotes. A música ambiente ajuda a criar um ambiente de nervosismo entre os fãs, que anseiam a chegada do artista. Por entre conversas, assobios e gritos, as luzes apagam-se. É hora de começar o espetáculo. São 22h45. “O rapaz do futuro” e o bailarino João Moreira, que o acompanha, sobem ao palco.

A cabeça sobe, suavemente, e o olhar começa a encontrar-se com o do público. O som inconfundível dá início àquela que é a primeira música, a capella.

Conan começa a cantar, ainda de luzes apagadas. O público entusiasma-se em uníssono e as luzes acendem-se. As roupas dos artistas não passam despercebidas e fulguram no bréu da sala.

Tiago, nome verdadeiro de Conan Osíris, apela a todos para se sentirem livres durante o concerto, que se deixem levar pelo corpo – “body positive”, refere – e enche a sala de boas energias.

João Moreira acompanhou, como sempre, Conan Osíris.

João Moreira acompanhou, como sempre, Conan Osíris. Foto: Salomé Santos

O público pulsa com a voz de Conan à medida que este avança no repertório. João Moreira não passa despercebido. Adorado pela plateia, todos admiram a dança única e expressiva do bailarino. A sala de espetáculos encontra-se numa maré de boa disposição e irreverência.

Conan Osíris, vencedor da edição deste ano do Festival da Canção em Portugal, não conseguiu passar à final da Eurovisão, mas o facto não lhe roubou a energia contagiante e a paixão pela música.

O concerto continuou eletrizante. O ritmo incomparável, as palmas a acompanharem a batida e os corpos a moverem-se sem parar. A interação com o público é constante.

Em comunhão com o público, Conan vive o momento e partilha emoções e desabafos. Com seriedade, mas desprovido de tabus revela que já duvidou do ser humano. Nem sempre viu “magia e brilho” no outro. Agora, tem esperança num futuro melhor e em pessoas melhores.

“Borrego”, “100 paciência”, “Cartomancia”, “Barcos”, “Coruja”, “Titanique”, “Nada Nada Nada Nada” e a popular “Adoro Bolos” foram algumas das músicas que o artista interpretou.

Conan e João Moreira em palco.

Conan e João Moreira em palco. Foto: Salomé Santos

Numa das pausas, o artista falou da sua presença no Festival Super Bock Super Rock a 19 de julho próximo – o concerto no Maus Hábitos está, aliás, integrado no Road to SBSR, programa que colocou na estrada 25 concertos em jeito de warm up para o festival do Meco.

Quero ver a Lana Del Rey a cantar sobre panquecas e a ter pessoas a dançar com isso”, disse em tom de brincadeira sobre uma das cabeças de cartaz do SBSR antes de começar a cantar uma música da artista, adaptada ao seu estilo próprio. O público acompanhou.

Num momento intimista com o público, o artista convidou algumas pessoas a subirem ao palco para dançarem “Celulitite”, enquanto se misturava no meio da plateia.

O público foi convidado a subir ao palco.

O público foi convidado a subir ao palco. Foto: Salomé Santos

A tão esperada música, vencedora do Festival da Canção, chegou depois. O artista não está entusiasmado para a interpretar e diz, ironicamente, que vai cantar uma canção que nunca cantou.

O público entende o sarcasmo do artista. O concerto continua e a sala vibra e canta “Telemóveis” a uma só voz.

Conan Osíris lamenta que o concerto esteja a chegar ao fim e diz que se sente sempre muito bem recebido no Porto. “O meu lugar é aqui!”, atira à plateia.

A última canção, “Amália”, começa a tocar. O artista agradeceu ao público. Para fechar o espetáculo da forma mais genuína possível, Conan avisa que vai cantar mais uma música e pede a todos os presentes que a dediquem a alguém.

Em tom de brincadeira, o artista apela ao lado mais “asneirento” dos portuenses. Assim, toda a sala liberta uma energia forte e canta a canção final, “QMD”.

O concerto, num ambiente íntimo e livre de preconceitos, agitou as paredes do Maus Hábitos. Os limites físicos não condicionaram a abertura e liberdade que o concerto proporcionou. A atmosfera estendeu-se para além do corpóreo e o resultado foi um espetáculo em que a música, dança e a aceitação se uniram para proporcionar uma noite inesquecível.

Artigo editado por Filipa Silva