A Casa do Cinema Manoel de Oliveira (CCMO) abriu, finalmente, as portas ao público, esta segunda-feira, quatro anos após a morte do cineasta portuense, que faleceu em abril de 2015 aos 106 anos.

Para além de apresentar sessões diárias de filmes do realizador, a CCMO propõe ainda, através de várias exposições, uma viagem pela obra e vida de Manoel de Oliveira.

A exposição temporária, que abriu esta segunda-feira e se prolonga por um ano na CCMO, explora a filmografia do cineasta, centrando-se no tema “A casa” e apresenta um conjunto de materiais cinematográficos pertencentes ao seu acervo, como guiões, prémios, fotografias, entre outros.

Em conversa com o JPN, a presidente do Conselho de Administração da Fundação de Serralves, Ana Pinho, declarou que este projeto focar-se-á, também, noutros cineastas, noutras mundividências e que a sua programação irá além da exibição de filmes. Os portuenses poderão também contar com exposições temporárias, ciclos de cinema e outras atividades de serviço educativo que vão “acrescentar bastante à atratividade de Serralves e da cidade”, sublinhou.

A responsável salienta ainda a importância de apoiar o cinema nacional: “Esse é também o nosso objetivo. É precisamente, partindo deste nome [Manoel de Oliveira], chamar à atenção para a importância de apoiar não só outros nomes, mais ou menos emergentes, mas o cinema em geral”, concluiu.

Oliveira não inventou o cinema, “mas revolucionou-o”

A Casa do Cinema Manoel de Oliveira, cujo projeto é assinado pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira, resulta de um acordo celebrado entre o aclamado realizador e a Fundação de Serralves em 2013. António Preto, doutorado na Universidade Paris-Diderot com uma tese sobre a relação entre cinema e literatura na obra de Manoel de Oliveira, assume a direção da noa entidade.

A cerimónia de inauguração arrancou, em pleno dia de São João, com a projeção de dois filmes: “Um dia na vida de Manoel de Oliveira”, de Gilles Jacob e “Manoel de Oliveira”, de Valéria Loiseleux. Pelos jardins de Serralves, o ambiente sonoro compôs-se com a voz do cineasta, depoimentos de quem o conheceu, excertos de discursos seus e algumas cenas da vasta filmografia.

Manoel de Oliveira foi ainda recordado através do excerto de um texto de Augustina Bessa-Luís, recitado pela neta da escritora, Lourença Baldaque. Neste, autora de “Fanny Owen” recorda o “homem belo, ligeiro” que o poeta José Régio levou até à sua tertúlia e que consigo trabalhava numa pequena história bibliográfica.

Agustina Bessa-Luís e Manoel de Oliveira foram amigos de longa data.

Agustina Bessa-Luís e Manoel de Oliveira foram amigos de longa data. Foto: Francisca Gomes

Bessa-Luís descreve o “refugiado na arte do filme” que sempre “teve o conhecimento muito exato do valor humano e do essencial desse mesmo valor” e alerta para o que considerou o maior erro que podemos cometer – achar que o realizador queria atingir a perfeição, esquecendo que este fazia filmes por “amar o imprevisto, o desconhecido de cada trabalho”.

Visitas guiadas à CCMO

  • 14 de Julho às 12h00 com António Preto
  • 29 de Setembro às 12h00 com Regina Guimarães
  • 13 de Outubro às 12h00 com Nuno Grande
  • 27 de Outubro às 12h00 com Ricardo Vieira Lisboa

Foi através de uma citação de Santo Agostinho que, Manuel Casimiro Oliveira, simplificou a forma como a existência do seu pai se eternizou: embora inacessível ao toque e ao olhar, o seu ser perpetua-se na obra: “os mortos não são ausentes, estão invisíveis, têm os olhos cheios de luz, fixos nos nossos cheios de lágrimas. Não vemos Manoel de Oliveira, mas ele está connosco neste dia de nervosismo e alegria, pois inauguramos a sua casa de cinema, e aqui e por muitos desses lugares pelo mundo fora, Manoel de Oliveira, de facto, estará sempre connosco através dos seus filmes”.

O filho do cineasta disse ainda que “Oliveira não inventou o cinema, mas revolucionou, de modo muito próprio, a maneira de o fazer”.

“O nosso mais reconhecido cineasta”

Também o Presidente da República marcou presença na inauguração do edifício que, na verdade, acaba por transcender a sua esfera física e palpável, relembrando não só a supremacia das obras de Manoel Oliveira, mas também “a obra que não chegou a ser filmada” e que neste lugar encontra vestígios.

Fachada da Casa do Cinema Manoel Oliveira.

Fachada da Casa do Cinema Manoel Oliveira. Foto: Fundação de Serralves

É como o “nosso e mais reconhecido cineasta” que Marcelo Rebelo de Sousa recordou Manoel de Oliveira. O sentimento é de saudade, mas também de uma infinda “gratidão suprema, não só por ter existido, não apenas por ter sido quem foi, mas por ter querido destinar a sua posteridade com uma visão que ultrapassa o génio da sua obra”.

Marcelo considerou ainda que, finalmente, se faz justiça com a inauguração da Casa do Cinema de Manoel de Oliveira, “justiça com o nosso maior e mais reconhecido cineasta, justiça ao nosso cinema” e, ainda, “justiça ao Porto, cidade-berço do cinema português”.

A ministra da Cultura, Graça Fonseca, também esteve presente na cerimónia e mostrou-se expectante quanto aos resultados do projeto, uma “casa de memórias” que classificou como local de “reflexão“ e “partilha”.

A CCMO estará aberta todos os dias com os mesmos horários do Museu de Serralves (10h00-19h00 à semana e 10h00-20h00 aos fins de semana). Os bilhetes variam entre os 12 euros (CCMO + Parque) e os 18 euros (acesso a todos os espaços de Serralves – Museu, Casa, Parque e CCMO).

Artigo editado por Filipa Silva