2011, 2015, 2017… três. Estive em três edições das Universíadas. Em 2013 não fui, porque nessa edição não houve taekwondo.

Em 2011, já tinha ouvido falar bastante da competição, porque um dos meus colegas de treino tinha ido a duas Universíadas e a descrição era incrível! Quando lá cheguei, foi isso que vi. Nunca tínhamos estado num evento com tanta gente, com tantas modalidades diferentes. E é incrível: estar numa vila em que toda a gente é atleta, toda a gente tem o mesmo objetivo, realidades muito diferentes, mas muito iguais. Foi muito bom.

Nápoles quase a começar

A 3 de julho, quarta-feira, começa a 30ª edição das Universíadas de Verão, que este ano vai ter lugar em Nápoles, na Itália. O maior evento multidesportivo do mundo, depois dos jogos olímpicos, vai voltar a contar com a participação de Portugal, que desta vez levará uma comitiva de 72 atletas.

A competição prolonga-se até 14 de julho.

Em 2011, foi na China, em Shenzhen. Lembro-me de ter sentido muito calor, muita humidade. Acho que foi das primeiras vezes em que estive num sítio com tanta humidade. Lembro-me desse choque. Depois, da organização. Tudo perfeito. Os autocarros tinham de sair às 09h00, saíam às 09h00, não era às 09h01 sequer. Tinham uma coisa semelhante à FIL, em Lisboa, para o judo, o taekwondo, a esgrima. Tínhamos três pavilhões gigantes só para o taekwondo. Não é normal, não é? Normalmente faz-se tudo num. Ali, tínhamos um para treinos, um para aquecimento e para competição e outro só para competição. Lembro-me que aquilo era completamente abismal.

Rui Bragança combateu em três universíadas: 2011, 2015 e 2017.

Rui Bragança combateu em três universíadas: 2011, 2015 e 2017. Foto: FADU

Fiquei em quinto lugar, à porta das medalhas, com um atleta australiano. Na altura, eu tinha acabado de ser vice-campeão do mundo. As expectativas que tinham de mim eram altas, mas para mim eram uma das primeiras Universíadas, era uma competição muito grande, muito importante no taekwondo – valia 20 pontos extra! – e, então, sabia que ia estar lá toda a gente. Apesar de ter querido uma medalha, mesmo assim a competição foi muito boa.

Gwangjiu, na Coreia do Sul, em 2015… Aí estou já num momento completamente diferente. Já tinha sido campeão da Europa, também. Estava num bom momento competitivo. Tinha tido os Jogos Europeus, depois fui à Austrália e segui direto para as Universíadas e a competição também me correu muito bem.

O torneio começou de uma forma um pouco estranha. O primeiro combate foi muito apertado, mas depois disso as coisas começaram a correr melhor. Cheguei à final e aí é que não correu tão bem, contra um atleta do Cazaquistão, mas mesmo assim foi uma competição incrível.

Não sei se me parou a digestão ou algo do género, mas sei que no fim do combate vomitei, o que não é normal. Mas mesmo durante o combate não estava bem. Lembro-me que não me sentia com tanta energia quanto isso e as distâncias… tudo isso não estava tão bem afinado quanto nos combates anteriores.

Rui Bragança, à esquerda, em Gwangjiu, na Coreia, onde foi medalha de prata.

Estava num dos momentos mais altos da minha carreira. Com o apuramento olímpico muito bem encaminhado. Tinha ganho os Jogos Europeus. Tinha vários pódios nas competições internacionais, estava muito bem.

Aquela era mais uma competição, apesar de ser importante, mas era uma a pensar no apuramento olímpico.

Olhei para o copo completamente cheio! Claro que vamos olhar para os combates outra vez para aprender, mas é mais fácil aprender com as derrotas do que com as vitórias. De nenhuma forma, a prata foi um mau resultado. Na verdade, tinha acabado de passar um mês fora de casa… Jogos Europeus, depois Austrália e daí direto para as Universíadas… em três ou quatro semanas fazer três competições, conseguir uma medalha de ouro, uma de prata e um quinto lugar é muito muito bom.

O ambiente foi muito bom também. A vila é que era mais estranha do que a da China. Os chineses tinham investido mesmo muito. Na Coreia, construíram apartamentos para serem vendidos a famílias depois das Universíadas e as coisas estavam um pouco mais estranhas, porque não tinham sido desenhadas para ser uma aldeia universitária. Lembro-me que era um bocadinho diferente, mas ainda assim muito boas. O taekwondo com pavilhão cheio. Ao nível da comitiva portuguesa, também já tínhamos alguma experiência em cima, pudemos desfrutar mais.

É muito bom. Primeiro, porque são todos estudantes universitários. Toda a gente da mesma idade, toda a gente a passar pelas mesmas experiências. Depois, nas universíadas, tanto há modalidades como o taekwondo, que é bastante importante, onde se decidem pontos para o ranking olímpico, como há outras onde se está bastante mais descansado, as pessoas estão lá mais relaxadas. É muito giro ver. É como uns Jogos Olímpicos, mas com menos pressão. E, exatamente por isso, dá para desfrutar mais.

Terceira participação, segunda medalha. Só falhou o último combate a Rui Bragança, em Taipei.

Terceira participação, segunda medalha. Só falhou o último combate a Rui Bragança, em Taipei. Foto: FADU

Em 2017, foi também uma competição incrível. Depois dos Jogos Olímpicos [do Rio de Janeiro, em 2016] mudei de categoria. Fui para os -68 quilos. As coisas acabaram por mostrar que não devia ter feito essa mudança. Pelo menos, que devia ter feito essa mudança de forma diferente. Então, voltei para os -58 quilos e a minha primeira competição foram as universíadas. Foi um voltar às sensações antigas, aos pódios, foi muito bom. Naquele dia faltou vencer o atleta do Irão na final, mas mesmo assim as coisas correram muito bem.

O atleta do Irão… não estava a contar que ele fosse tão rápido. Ele era mais baixo do que eu. Já contava que ele tivesse alguma velocidade, mas não contava que ele fosse tão rápido. Fui surpreendido logo no início, tentei dar a volta, mas já não foi possível. Mas ganhei a prata, não deixou de ser muito bom.

Lembro-me nas primeiras Universíadas de, no último dia, haver uma espécie de feira, numa avenida no meio da vila, em que quase todos os atletas tinham os equipamentos cá fora, estendidos, para trocarem com as pessoas. Foi muito divertido ver isso.

Sem dúvida alguma que recomendaria. Para qualquer estudante, será uma ótima experiência e para qualquer atleta que tenha nos seus planos ser atleta olímpico é, efetivamente, uma grande preparação. Para os Jogos Olímpicos, para estar habituado à vida na aldeia, estar com outros atletas de outras modalidades, essas rotinas fazem diferença. É um estágio para a vida olímpica.