Vinte e três canções, três encores e quase duas horas de concerto depois, os Ornatos Violeta justificaram o culto que lhes é prestado por tantas gerações distintas. Crónica do segundo dia de Marés Vivas.

Já se sabia que o segundo dia do MEO Marés Vivas estaria esgotado e que os grandes responsáveis pela enchente eram os Ornatos Violeta. A banda comemora, este ano, o vigésimo aniversário do segundo disco, “O Monstro Precisa de Amigos“, e o evento recebeu a única atuação na região Norte.

Editado a 22 de Novembro de 1999, o segundo e último álbum de originais dos Ornatos Violeta, superou as expectativas criadas pelo disco de estreia, “Cão!”. Vinte anos depois, os espectadores do Marés Vivas aguardavam ansiosamente pelo quinteto no Palco MEO. Ainda tiveram de esperar algum tempo, pois o dia era longo e recheado de concertos.

O festival arrancou em tom de celebração do rock português com The Lazy Faithful, no Palco Santa Casa. O espetáculo serviu de promoção ao mais recente álbum, “Nice Price”. Mais tarde, no mesmo espaço, foi a vez de João Só apresentar o melhor da sua discografia. A meio da tarde, o Bloco Moche deu alguma variedade musical com o hip-hop de Valas.

The Lazy Faithful Foto: Joana Nogueira

O clima eletrizante prosseguiu para o Palco MEO, com Don Broco. A banda britânica estreou-se em palcos portugueses e conquistou, rapidamente, o público do Marés Vivas.

Don Broco Foto: Joana Nogueira

Carlão foi o próximo a entrar no palco principal do evento. O ex-vocalista da banda Da Weasel celebrou o seu aniversário no Marés Vivas. O alinhamento conteve um pouco de todos os capítulos da carreira do artista, desde o projeto mais recente, “Entretenimento?”, até ao regresso à banda original, através de temas como “Re-Tratamento”.

Carlão

Carlão Foto: Joana Nogueira

À espera de uma “das maiores bandas de Portugal”

Por muitos concertos que este segundo dia do Marés Vivas oferecesse, os presentes ansiavam apenas por um: Ornatos Violeta. Paula Erminda, 32 anos, veio de propósito ao festival para presenciar o regresso da banda. “As canções marcaram-me a mim e à minha geração”, explicou ao JPN.

Carlos Lapa, 54 anos, comprou o passe geral, mas realça Ornatos como o “maior destaque desta edição“. As expetativas estavam altas para ouvir “das melhores bandas de Portugal”.

Os mais novos também mobilizaram-se para a celebração de “O Monstro Precisa de Amigos”. Lena Gomes, 17 anos, “estava ansiosa” para ouvir temas de que é fã desde pequena. Os pais passaram-lhe o gosto por Ornatos Violeta e é a inclusão da banda no cartaz do Marés Vivas que “justifica o preço do bilhete” para a jovem.

Faltava pouco para o grande momento da noite, mas antes era a vez dos suecos Mando Diao. O conjunto conseguiu tocar o rock que o caracteriza durante, aproximadamente, um quarto de hora. Pouco depois, uma falha técnica obrigou à paragem do espetáculo durante quase uma hora.

Mando Diao Foto: Joana Nogueira

Os Mando Diao não quiseram desistir e desceram ao fosso para tocar uma canção em acústico com a audiência. Um momento bonito que deu mais alento à banda sueca quando o problema foi resolvido e puderam atuar, de novo.

Um momento difícil de descrever

Chegada a meia-noite, o Marés Vivas não teve de esperar mais. Ornatos Violeta voltam a estar vivos e entraram em palco para a primeira de várias ovações do público. “E salta Manel e salta Manel, Olé!”, gritavam os fãs para o vocalista Manel Cruz, ainda sem se ter tocado qualquer canção.

Ornatos Violeta Foto: Joana Nogueira/JPN

 

O que se seguiu é difícil de descrever com palavras. O espetáculo vivido no palco principal é um daqueles momentos raros no mundo da música, em que um concerto reúne todas as condições para se tornar numa ocasião apoteótica que parece mais sonho que realidade.

Os Ornatos começaram com “Um Crime À Minha Porta”, do primeiro álbum, “Cão!”, uma escolha inesperada, contudo bem recebida. Depois, os temas como “Tanque” e “Para de Olhar Para Mim” que a plateia sabia de cor.

Ornatos Violeta Foto: Joana Nogueira/JPN

A declamação da parte final do poema de “Ouvi Dizer” ficou a cargo de Carlão, regressando ao Palco MEO para cantar “Casa (Vem Fazer De Conta)” dos Da Weasel, com o apoio dos Ornatos. Uma surpresa para celebrar outra banda que marcou o início do século XXI, em Portugal.

O concerto prosseguiu com outros temas icónicos como “Chaga” e “O.M.E.M.”. Aplausos atrás de aplausos, muitos olhares tanto gratos como incrédulos de Manel Cruz para o mar que cercava o palco principal, uma simbiose total entre banda e fãs. Por isso, foi fácil o pedido para o público contar até três e introduzir a canção final, “Capitão Romance“.

No entanto, a noite estava longe de acabar. Os Ornatos Violeta regressaram ao palco para tocar “Devagar” e “Gone Daddy Gone”, esta uma homenagem a Violent Femmes, “a melhor banda do mundo” para Manel Cruz. O “Fim da Canção” sinalizava o término do encore e mais uma despedida do Palco MEO… mas não durou muito.

Os fãs incansáveis celebraram mais um regresso de Ornatos ao palco principal, desta feita para Manel Cruz cantar “Raquel“, o tema final de “Cão!”. Podia-se pensar que, depois deste bónus, o concerto ia acabar, porém os Ornatos tinham uma última surpresa. O terceiro e derradeiro regresso levou o quinteto a tocar “Dias de Fé”, uma das primeiras músicas compostas pelo grupo de amigos que, naquela noite, eram figuras míticas a atuar para os seus devotos.

O público gritava por mais, porém, desta vez, o espetáculo tinha mesmo chegado ao fim. 23 canções, três encores e quase duas horas de concerto depois, os Ornatos Violeta justificaram o culto que lhes é prestado por tantas gerações distintas.

A noite prolongou-se pela madrugada, com as atuações de Eva RapDiva e DJ Oder. Este domingo, o MEO Marés Vivas chega ao fim. O terceiro e último dia tem como cabeças de cartaz Sting e HMB.

Artigo editado por Filipa Silva