Ao cabo de três semestres de trabalho em contentores (mais um do que o inicialmente previsto), os funcionários, docentes e os cerca de três mil estudantes da Faculdade de Economia do Porto (FEP) estão de regresso ao Edifício Principal da instituição.

O acesso faz-se para já pelas traseiras, onde há máquinas e operários a trabalharem, como aliás em toda a envolvente do edifício. É a terceira e última fase da obra, que deverá demorar ainda alguns meses.

E há mais duas intervenções autónomas a somar à equação: uma em curso (a recuperação do obelisco) e outra para arrancar “em breve” (cantina e cafetaria).

Dentro do edifício principal, que o JPN visitou há uma semana na companhia do diretor da FEP, José Varejão, tudo vai tomando o seu lugar e já se veem alunos a estudar. É a mesma FEP de corredores amplos e linhas retas, mas de cara lavada.

As diferenças veem-se sobretudo nos anfiteatros remodelados – com menos lugares, mas com um novo sistema que promete melhorar a circulação e o conforto dos alunos e onde já estão pendurados modernos ecrãs de videoprojeção; nas instalações sanitárias, na climatização, na iluminação, na sinalética e no equipamento informático disponível, o qual foi reforçado.

Ao JPN, o diretor da FEP admite que o ruído ainda se fará sentir, que a cafetaria não estará a funcionar no arranque das aulas e que o conjunto de obras em curso podia ter sido pensado de outro modo, mas, sublinha, cada decisão teve o seu tempo. A olhar para a frente, o responsável nota que a FEP tem agora melhores condições para se afirmar, nacional e internacionalmente, e assinala a compreensão demonstrada pela comunidade durante o processo.

Começava por lhe pedir um balanço das obras. O que é que está feito?

No exterior está em curso a terceira fase da obra, que só podia ocorrer depois de regressarmos ao Edifício Principal. [No Edifício] há ainda pequenas coisas a serem concluídas. Foi feita a intervenção no betão, no interior e no exterior, foram substituídas as caixilharias, que eram uma das fontes de degradação do edifício e também de desconforto interno. Foi reposto o sistema de aquecimento, instalado um sistema de AVAC, foi feita uma intervenção muito importante nas instalações sanitárias, porque as condições eram muito deficientes, os auditórios foram revistos, o chão da Biblioteca substituído… e uma outra coisa, que acho muito importante, que é a iluminação.
Em paralelo, a faculdade fez também um esforço grande de recuperar mobiliário, instalar sistemas de projeção e de som nas salas de aula. Em tudo isso, foi também aproveitado este momento para intervir. A intervenção na zona da cantina e na zona da cafetaria, que estava fora da obra, vai começar agora em breve e, portanto, essas áreas ficaram intocadas.

Com a cantina em obras e mudando a cafetaria de sítio, está em condições de garantir que no arranque das aulas haverá um espaço de refeições em funcionamento na faculdade?

A cantina da Faculdade de Engenharia é a cantina que está a servir as duas faculdades desde o início desta obra. Ela foi reforçada nesse sentido e é aqui ao lado. É esse plano que se vai manter até que, eventualmente, os Serviços de Ação Social tomem alguma outra decisão, que não sei se está previsto ser tomada. Relativamente ao bar, vai haver aqui um período, como houve aliás no início da obra, necessário para fazer a mudança da parte da frente, onde está instalado temporariamente, para o parque de trás, para libertar, precisamente, o parque da frente. Isso não lhe sei dizer quando é que vai acontecer. Vai ser em breve, mas não vai estar pronto, seguramente, no dia de início das aulas. Há um outro bar a funcionar, embora com uma capacidade limitada, no outro edifício, das Pós-Graduações. Esse está a funcionar normalmente. É um sacrifício ainda que vamos ter de fazer.

Muitos dirão que a faculdade não sofreu uma transfiguração total, mas os estudantes vão sentir diferenças? Se sim, em quê?

Eu penso que sim, que vão sentir muitas diferenças. Mas nunca essa. Estaria sempre fora de questão, por um lado, pela natureza do edifício e do seu estatuto [está classificado como monumento de interesse público] e, por outro lado, porque não era esse o objetivo da obra. O objetivo era recuperar o edífício, repondo condições de conforto e de trabalho, e isso eu acho que vai ser muito visível. Há uma diferença enorme nas instalações sanitárias. Outra diferença enorme está na iluminação, que vai fazer grande diferença do ponto de vista das condições de trabalho nos corredores, que é o local tradicional de estudo dos estudantes e onde queremos que seja o espaço de estudo. Nos auditórios também, sem dúvida, vão ver as diferenças.

Os alunos queixavam-se da falta de espaço nos auditórios…

Não era só a falta de espaço. As mesas saíam da fila da frente e não se passava se alguém estivesse sentado. O que foi feito, com o parecer favorável de todos os envolvidos na parte de Arquitetura, foi sacrificar a capacidade dos auditórios, promovendo um sistema diferente. Os assentos são praticamente iguais, mas maiores. As mesas é que abrem num sistema diferente, o que faz com que por um lado o aluno tenha mais espaço e mesmo quando estão sentados consegue-se circular entre as filas. Deixou de haver aquele problema de as pessoas se sentarem na ponta e depois não se conseguir passar para o meio.

Mas esse sacrifício de espaço foi considerável?

Foi considerável, porque para conseguir esse espaço adicional foi preciso sacrificar filas que anteriormente existiam.

Mas continuam a poder receber aulas com muitos alunos?

Sim, sem dúvida. Há cadeiras com muitos alunos, mas também temos muitas turmas, por isso, essa questão penso que não se vai colocar. Além disso, fora da empreitada [a obra é da Reitoria], a faculdade fez um investimento grande na substituição dos estores, nos sistemas de projeção – todos os anfiteatros têm agora ecrãs -, em sistemas de som… portanto, há uma atualização de todas as infraestruturas de apoio ao funcionamento das aulas. Os alunos, os professores e quem cá trabalha, gradualmente, vai perceber que foi feita uma intervenção grande em nome da funcionalidade e do conforto.

A obra está, então, dividida em três fases e estamos no final da segunda. É assim?

Sim, a segunda é esta. A que diz respeito ao Edifício Principal. Está em processo de conclusão. Agora já foi possível fazer o regresso. Há pequenas reparações que podem mostrar-se necessárias. Depois há a terceira fase, que está a decorrer, que é repor o exterior. Quer o parque, quer a parte verde, quer toda a zona envolvente onde estiveram instalados os contentores.

E para quando está estimada a conclusão dessa intervenção?

Julgo que estava estimada para três ou quatro meses. Mas não sei exatamente quando é que começou a contar, porque entretanto houve partes da zona envolvente que começaram a ser feitas ainda com a segunda fase a decorrer.

Com obras a decorrerem no exterior, há o perigo de o ruído ter impacto sobre a atividade letiva?

Garantir que não vai haver ruído nem perturbações associadas a obras que ainda vão ocorrer, isso nunca irá acontecer. Não acontece em lado nenhum. Vamos tentar que o impacto seja o menor possível, mas não será zero, seguramente.

Teria sido possível organizar a obra de outra forma em vez de juntar várias empreitadas?

Pergunta-me se havia necessidade de ter três obras diferentes, que são a recuperação do obelisco e a intervenção na cantina e no bar [além da obra maior, que contemplou o edifício principal]. Se a questão é essa, enfim, a resposta é: necessidade, necessidade, não haveria. A necessidade surgiu porque o diagnóstico também foi feito separadamente.
Nós não tínhamos nenhuma indicação de que era preciso intervir no obelisco até se manifestar um problema de conservação já com este projeto de arquitetura aprovado. Já não foi adequado voltar atrás, até porque é uma intervenção que tem características particulares.
A cantina… Quando tomei posse, há cinco anos, o projeto inicial estava aprovado e deixava de fora a zona da cantina. Mas foi-se verificando que mantê-la onde ela estava, acabava por não ser uma solução muito eficiente. E por isso encontramos uma solução com os SASUP, que foi esta de partilhar a cantina de Engenharia, reforçando-a, e vamos resolver este problema, porque a nossa cantina estava aqui instalada provisoriamente desde que a faculdade para aqui veio, com condições que não eram as melhores. Portanto, se me pergunta: não teria sido melhor pensar nisto tudo desde o início? Talvez, mas estas coisas têm horizontes de decisão próprios. E, na altura em que foi tomada a decisão, foi nesse sentido e depois pareceu-nos que realmente era preferível aproveitar e fazer também essa intervenção. Daí estarmos agora a começá-la.

O que é que se revelou mais difícil neste período?

Uma obra desta dimensão é sempre complicada. Acompanhar a obra, ter a faculdade a funcionar noutro sítio sem interrupções – houve perturbações, mas não interrupções -, e não penalizar a atividade da faculdade, isso foi o mais difícil.
Há uma parte que podia ter sido difícil, que era não contar com a compreensão de todas as pessoas afetadas por este período de obra, apesar de tudo, longo. Mas acho, e não o digo só a si, que é uma característica que a FEP tem – professores, alunos, funcionários -, que é mobilizarem-se para questões que sejam importantes para a faculdade. Naturalmente, houve alturas mais difíceis – nós mudamos na primeira semana em que choveu fortemente no Inverno de 2017/2018, agora também estamos a mudar numa semana de muito calor, mas as pessoas compreendem e aceitaram os sacrifícios, com uma ou outra reclamação. E acho que gradualmente vão perceber que valeu a pena.

Que Faculdade de Economia resulta desta operação?

Acho que resulta exatamente o que se pretendia. Não tenho dúvida nenhuma de que a Faculdade de Economia é uma das boas escolas de Economia e Gestão do país. O que resulta desta obra é uma faculdade que, tendo a força que tem, tem agora condições para se desenvolver de forma muito positiva, porque resolveu um dos constrangimentos grandes que eram as instalações e as condições em que estava a funcionar. Temos agora as condições para nos abrirmos ao exterior, acolhermos cada vez mais estudantes internacionais e desenvolvermos o nosso projeto.

Até porque o mercado das escolas de Economia e Gestão é muito competitivo…

É, mas nós estamos preparados para ele.