“O grande objetivo desta consulta é promover a saúde, a satisfação e o bem-estar sexual”, explicou ao JPN Pedro Nobre, diretor do Programa Doutoral em Sexualidade Humana e um dos coordenadores da nova Consulta de Saúde Sexual, disponibilizada a partir deste mês pelos Serviços de Ação Social da Universidade do Porto (SASUP). A apresentação decorreu na última sexta-feira.

Para o professor e investigador, a saúde sexual é um chapéu muito amplo: nele “cabem questões como dificuldades, disfunções e insatisfações sexuais; questões que tenham a ver com a identidade de género; e a orientação sexual”. Por isso, tudo aquilo que esteja ligado à sexualidade “entra neste chapéu mais vasto a que chamamos saúde sexual – que não precisa de ser vista apenas como a existência de um problema”.

“Muitas vezes, tem a ver também com questões de insatisfação, falta de bem-estar, desconhecimento, mitos sexuais ou preconceitos”, disse, à margem do II Seminário Internacional deste programa doutoral, que teve lugar na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto (FPCEUP).

Assim, esclarece Pedro Nobre, o propósito desta nova especialidade “não é fazer rastreio ou avaliação sobre doenças sexualmente transmissíveis – para isso, há, felizmente, outros meios”. Conceição Nogueira, codiretora do Programa Doutoral em Sexualidade Humana e também coordenadora da consulta, concorda e reforça: “Isto é mesmo uma intervenção psicológica e psicoterapêutica. Todas as pessoas são formadas em Psicologia”.

Questionada pelo JPN sobre a diferença destas consultas face às que já existem no Serviço Nacional de Saúde, ou no serviço de Psicologia dos SASUP, Conceição Nogueira sublinha a formação mais direcionada dos profissionais da nova consulta em questões LGBTQIA+ (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transgénero/Transexuais, Intersexo e Assexuais): “Não é seguro que ser psicólogo ou psicóloga, por si só, sem formação especializada, dê resultado num bom psicoterapeuta afirmativo – neste caso, e também nas questões de Sexologia. É preciso formação”.

Valências diferentes para casos diferentes

Quem procurar este atendimento – aberto a toda a comunidade UP – pode optar por duas valências distintas: a de Sexologia Clínica, orientada para as questões associadas a dificuldades sexuais e de bem-estar sexual; e a de Género e Sexualidades, que se debruça sobre questões de género e LGBTQIA+.

Horários

Género e Sexualidades
Segunda e terça-feira de manhã (10h-13h) e quinta-feira à tarde (14h-17h)

Sexologia Clínica
Quarta, quinta, e sexta-feira de manhã (10h-13h)

Duração da consulta: 50 minutos

Sobre esta última, Conceição Nogueira diz que a consulta serve para apoiar “pessoas que, de alguma maneira, podem sentir-se menos bem devido a um conjunto de experiências que as suas sexualidades não normativas provocam – não por causa da sexualidade, mas pela convivência: ou com a família, ou na faculdade. Não estamos a dizer que as pessoas têm problemas. Estamos a falar de pessoas que poderão precisar de algum suporte para poder lidar com as violências externas.”

Aqui, afirma a professora e investigadora, procura-se ajudar estas pessoas: “Não é para estigmatização, pelo contrário, é para autoafirmação”. E remata com a ideia de que esta especialidade não surge porque as pessoas da comunidade LGBTQIA+ precisem dela. “Pelo contrário”, refere Conceição Nogueira, “é uma intervenção afirmativa e não patologizante de maneira nenhuma – é anti-patologizante”.

Marcação das consultas já é possível, mas por telefone

A nova consulta dos SASUP já aparece listada na página da instituição, mas não está ainda contemplada no formulário de pedido de consulta. Apesar disso, garante Conceição Nogueira, “as pessoas já podem começar a solicitar” a Consulta de Saúde Sexual, aconselhando a que os interessados o façam por telefone.

“Já houve, pelo menos, uma consulta marcada. Pode haver canais que não estejam a funcionar na perfeição, mas a ideia é que aperfeiçoemos tudo isso e, sobretudo, tenhamos uma forma de divulgação mais forte e global em toda a Universidade”, acrescenta Pedro Nobre.

Os constrangimentos na marcação deverão ser resolvidos nas próximas semanas, assegura Pedro Nobre, acrescentando que a comunicação deste serviço conhecerá novidades também nos próximos dias. “A Reitoria vai fazer uma campanha de sensibilização para esta consulta e, provavelmente, na próxima semana ou duas, todos esses pequenos percalços serão resolvidos”.

Ao contrário da maioria das especialidades médicas dos SASUP, as consultas de Saúde Sexual serão pagas. Ao JPN, Conceição Nogueira justifica com o facto de as pessoas envolvidas no projeto “não terem contrato com a universidade; na prática, estão a dar o seu trabalho àquela causa”. Ainda assim, salienta, “é um preço bastante mais baixo do que o praticado numa situação mais privada, apesar de as pessoas serem bastante especializadas”, concluiu.

Artigo atualizado às 17h05 do dia 23 de setembro de 2019 com os horários de funcionamento das consultas.

Artigo editado por Filipa Silva