O barulho das máquinas e a correria dos empregados não deixam enganar. Estamos num café, histórico por sinal, um dos mais movimentados do centro do Porto, umbilicalmente ligado aos seus estudantes. Já muito se falou de política no Café Piolho, hoje não será exceção. E com casa cheia.

Depois das 21h30, está prestes a começar mais uma sessão das “Conversas de Café”, iniciativa que o Bloco de Esquerda decidiu reeditar este ano, depois de terem sido ali criadas há 20 anos, na sequência da primeira candidatura do partido a umas eleições legislativas, por iniciativa do então cabeça de lista pelo Porto, Miguel Portas, e do mandatário da candidatura, o jornalista, escritor e poeta Manuel António Pina, ambos entretanto desaparecidos.

Estas conversas surgiram da necessidade de conceção de “um espaço de discussão que fugisse aos modelos mais formatados das campanhas, para criar uma forma mais aberta e informal de estabelecer um diálogo com a cidade”, explica José Soeiro, cabeça de lista do Bloco de Esquerda no Porto, ao JPN.

“Sem nostalgia”, garante o deputado bloquista, a ideia é “aprender com pessoas que não são necessariamente do Bloco de Esquerda, mas que têm vontade e disponibilidade de construir um pensamento” com o partido. O bispo das Forças Armadas D. Januário Torgal Ferreira ou o escritor Afonso Cruz foram alguns dos que passaram pelo Piolho no âmbito da iniciativa.

À terceira sessão – sempre à terça-feira, a partir das 21h30 – debateu-se “Vida, morte e autodeterminação”. Um debate sobre o “direito a poder ter uma morte digna” que contou com Ana Maria Brito Jorge, o médico e candidato bloquista Bruno Maia e o historiador e professor Manuel Loff como oradores.

Pedro Lamares

Pedro Lamares Foto: Alexandre Matos

Pedro Lamares, que assumiu a moderação dos debates, considera a iniciativa como uma alternativa à forma “setorizada” como a política é feita em Portugal. O ator e apresentador, que é também mandatário do Bloco de Esquerda, destacou “a democratização do diálogo e a possibilidade de as pessoas darem, de facto, uma opinião pessoal e de o fazerem de uma forma elevada, ouvindo-se umas às outras, dialogando, debatendo”.

Fernando Mota

Fernando Mota Foto: Alexandre Matos

Fernando Mota, 67 anos, voz ativa do público durante a conversa, corrobora a ideia ao afirmar que “a vantagem das tertúlias é que se pode discutir abertamente, todos falam e todos são ouvidos” e afirma haver uma “força perfeitamente igualitária” entre oradores e assistência.

A quarta e última sessão tem lugar esta terça, dia 30 de setembro, e pretende discutir o tema “Direitos Humanos: questões incómodas”. A encerrar o ciclo de oradores convidados, o público poderá contar com a presença da eurodeputada bloquista Marisa Matias, com a professora e ativista Beatriz Gomes Dias e ainda com a atriz e ativista Maria Gil.

Artigo editado por Filipa Silva