O FC Famalicão tentou defender, este domingo, a liderança do campeonato no Dragão, mas à oitava jornada acabou por sofrer a primeira derrota na liga perante o FC Porto (3-0), que assim ascendeu ao topo da tabela onde divide o primeiro lugar com o Benfica.

Num jogo em que alguns pesos pesados ficaram de fora por opção de Sérgio Conceição (Marega nem no banco esteve), a resposta dos dragões foi autoritária. Quanto ao Famalicão, espera-se que uma equipa que tem provado ter um futebol de qualidade não se deixe afetar por um momento menos positivo.

Sérgio Conceição sem contemplações 

Insatisfeito com a exibição, mas sobretudo com o resultado comprometedor da Liga Europa frente ao Rangers, Sérgio Conceição fez várias (e surpreendentes) alterações. Alex Telles, tido como um dos indiscutíveis do FC Porto, foi relegado para o banco por Manafá, Corona subiu para extremo, deixou a lateral direita para o adaptado MBemba e Otávio alinhou no apoio ao ponta de lança Soares. A dupla Zé Luís-Marega foi, assim, desfeita por completo e o maliano nem no banco se sentou.

Sérgio Conceição fez alguma alterações importantes na equipa.

Sérgio Conceição fez alguma alterações importantes na equipa. Foto: FC Porto/Facebook

Do lado do Famalicão,  praticamente não houve novidades. Alguma imprensa chegou a especular sobre a possibilidade do duplo-pivot Guga e Pedro Gonçalves ser desfeito para a entrada de Racic (médio mais combativo). Ainda assim, em equipa que ganha, (quase) não se mexe e João Pedro Sousa foi fiel à identidade da equipa. Anderson, o melhor marcador da equipa e um verdadeiro suplente de luxo, teve a sua oportunidade no Dragão. De Famalicão vieram 2.500 pessoas para ver o “Fama” defender a liderança.

Boa entrada, mas este também não era um adversário qualquer

Por muito desconfiada que a plateia do Dragão estivesse, rapidamente se empolgou com a entrada do FC Porto. O primeiro sinal foi dado logo no primeiro minuto, quando Soares cabeceou à figura de Defendi. Ainda dentro dos primeiros 15 minutos, Danilo e Uribe (por duas vezes), de meia distância, ameaçaram muito a baliza do Famalicão. Os remates do colombiano à passagem dos quatro e 14 minutos, obrigaram o guarda-redes famalicense a duas defesas monumentais.

Famalicão chegou ao Dragão na condição de líder do campeonato.

Famalicão chegou ao Dragão na condição de líder do campeonato. Foto: FC Famalicão/Facebook

Corona e Luis Diaz estavam a desequilibrar muito e Otávio aparecia, mas quando a equipa atacava. Não se pense que estava a ser um massacre absoluto. O Famalicão, fiel a si próprio, dividia o jogo em alguns momentos e esperava pelo erro de um adversário que, apesar de estar a jogar bem, também mostrava alguma intranquilidade. Aos 19 minutos, por exemplo, na melhor ocasião do Famalicão na primeira parte, Fábio Martins obrigou Marchesín a uma grande defesa.

As bancadas estavam empolgadas, porque percebiam que, apesar de o adversário ser bom, o FC Porto estava bem mais empreendedor do que em jogos anteriores, mas faltava o golo. A partir dos 20 minutos, o FC Porto começou a ficar mais tranquilo a defender (aos 30 minutos, Marchesín defendeu um bom remate de Lameiras), mas, se antes falhara a finalização, agora começava a falhar no último passe. Luis Díaz e Corona chegavam facilmente a zonas de perigo, mas os centrais do Famalicão, Patrick William e Pérez, diga-se, estavam imperiais.

Os últimos quinze minutos da primeira parte foram bem mais calmos do que os primeiros trinta, o que interessava ao Famalicão. Depois de um início muito prometedor, um eventual 0-0 ao intervalo seria muito cruel para o FC Porto, mas tal não se confirmou. Já sobre o minuto 45, Otávio intercetou um passe muito arriscado de Patrick William, conduziu o contra-ataque e deixou Corona assistir para a finalização de Luis Díaz. Um justo prémio para um trio que, com tanta mobilidade, fez estragos na primeira parte. A realidade não foi cruel para o FC Porto, mas foi um pouco para o FC Famalicão, que estava obrigado a arriscar mais na segunda parte.

Líder bem amarrado

Obrigado a fazer pela vida, o FC Famalicão assumiu a posse de bola no início da segunda parte, mas pela frente tinha uma equipa que, em vantagem, se defendia bastante bem e procurava matar o jogo no momento certo. Mesmo com mais bola do que na primeira parte, o FC Famalicão não estava a conseguir reagir à estratégia montada por Sérgio Conceição.

Os minutos iam passando e o FC Porto, à semelhança do que foi acontecendo na primeira parte, estava a ser perdulário e Corona o principal protagonista. Aos 47 e aos 57 minutos, o mexicano esteve pertíssimo de um golo que abrilhantaria a sua boa exibição, mas o perigoso 1-0 mantinha-se.

Para mudar o rumo dos acontecimentos, aos 63 minutos, João Pedro Sousa refrescou a frente de ataque e o reforçou o meio-campo com as entradas de Schiapasse e Racic. O treinador tentou, não arriscando muito é certo, mas o tempo ia passando e o FC Famalicão, apesar de mostrar qualidade a espaços, parecia sentir-se impotente no jogo. Os pontos, estavam, no entanto à distância de um golo.

Dois matadores e estocada final

Bem mais confiante do que o adversário, o FC Porto aumentou para 2-0 a vantagem à passagem do minuto 72. Tiquinho Soares conduziu e finalizou, com classe, um contra-ataque em que também teve alguma sorte no último ressalto. Há quem possa chamar egoísta a Soares pelo lance que dá um grande golpe no Famalicao, mas um avançado e vive de golos. Soares procurou e foi feliz.

A partir do 2-0, assistiu-se a um jogo de descrença por parte do Famalicão, perante um FC Porto tão sóbrio, bem organizado e rápido a contra-atacar. Com o jogo controlado, Sérgio Conceição limitou-se a refrescar a equipa, dando minutos a Alex Telles (já não estava habituado a estar no banco), Nakajima e Fábio Silva. As substituições mexeram com o jogo porque quem entrou estava com fome de bola.

Aos 88 minutos, em mais um lace em que o Famalicão decidiu arriscar sair a jogar, Fábio Silva rouba a bola a Defendi e, para delírio da plateia, marcou o 3-0. A partir deste momento, o FC Porto limitou-se a gerir a vantagem e garantir uma saborosa, importante e, sobretudo, justa vitória. Com este resultado, o FC Porto divide a liderança do campeonato com o Benfica.

Conceição satisfeito

Sérgio Conceição mostrou-se agradado com a exibição da equipa, considerou a vitória “justa” e analisou a preparação para este jogo: “Cabia-nos a nós defrontarmos o líder do campeonato, fazer um bom jogo, e isso passaria por estudar bem o adversário, não é por acaso que estava na frente ao fim da sétima jornada. Tínhamos de perceber como joga o Famalicão, uma equipa muito bem trabalhada, com uma primeira fase de construção a ter um peso grande. O nosso processo defensivo, um ou outro pormenor foi fundamental para ganharmos”, afirmou.

A pressão, referiu, foi fundamental. “O Famalicão mete cinco ou seis jogadores na primeira fase de construção, para sair com sucesso e depois explorar outras zonas do campo onde podia criar problemas. Foi o trabalho coletivo que veio ao de cima, aliando o nosso bom jogo com bola ao processo defensivo”, analisou ainda o técnico portista.

«Fomos totalmente dominados»

João pedro Sousa começou a sua conferência por realçar o apoio dos 2.500 adeptos que se deslocaram de Famalicão ao Porto. Quanto ao resultado, o treinador famalicense mostrou-se resignado: “Foi um jogo extremamente complicado para nós, nunca conseguimos controlar, fomos totalmente dominados. [O FC Porto] alterou a sua forma de defender, pressionou bastante e nunca conseguimos encontrar soluções para sair”, declarou aos jornalistas. “Estiveram muito fortes desde o início até ao fim”, rematou.

O treinador fez ainda de frisar o papel dos adeptos no clube: “Faz parte do ADN do Famalicão. Fazem falta mais equipas com esta dinâmica no futebol português”.

O FC Porto e o Benfica lideram a liga com 21 pontos, mais do que o FC Famalicão, que está agora na terceira posição. Na próxima jornada, o FC Porto desloca-se à Madeira para defrontar o Marítimo e o FC Famalicão recebe o Gil Vicente.

Artigo editado por Filipa Silva