Quase duas horas de concerto, 22 canções e adrenalina em estado puro. Em noite de Halloween, no primeiro de dois concertos que os Ornatos Violeta deram no renovado Pavilhão Rosa Mota, para assinalar os 20 anos do já mítico álbum “O Monstro Precisa de Amigos”, houve até tempo para Manel Cruz, sem se disfarçar de padre, “casar” Paulo e Alexandra, que disse que sim a um pedido que lhe foi dirigido do palco do concerto. Depois de um verão com alguns concertos de celebração, o regresso dos bons filhos à cidade-mãe aconteceu na inauguração do Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota e com a sala cheia.

O palco foi colocado ao centro, com menos de dois metros a separarem-no das grades de segurança que balizavam a primeira fila. O preto era a cor dominante entre a multidão que esgotou muito rapidamente o concerto e “obrigou” à marcação de uma segunda data. Ao som de “Gone Daddy Gone”, dos Violent Femmes, tema que os Ornatos tocaram no Marés Vivas, em julho, as luzes apagaram-se e os protagonistas chegaram pontualmente ao seu “habitat natural”, o palco que, esta noite, assumia um formato de 360º. Manel Cruz e Peixe foram, sem surpresa, os mais aplaudidos no momento em que pisaram o palco pela primeira vez, mas o calor da receção chegou para todos.

Sem pedir licença

“Boa noite!”. Muito simples a primeira abordagem da banda personificada na voz de Manel Cruz e, do nada, já se ouve o dedilhado na guitarra de Peixe. “O amor foi entrando” no Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota, porque “Como afundar” foi a primeira canção com que os Ornatos contagiaram de tranquilidade, mas também nostalgia a sala. Os primeiros telemóveis já transformavam o palco no centro de uma bela noite estrelada de verão, tal o calor que se fazia sentir.

O conhecido olhar cortante de Manel Cruz atingia as primeiras filas e as canções iam-se seguindo sem deixar que o público descansasse um segundo. O alinhamento que os Ornatos trouxeram para este concerto confundia, no bom sentido, os sentimentos do público. A surpresa era constante e justificava-se com mudanças súbitas de estado de espírito consoante as canções.

Apesar disso foi notório, desde a primeira até à sexta canção, um crescendo de intensidade. Sem show-offs, essa primeira sequência passou pelas enérgicas “Tanque” e “Pára de olhar para mim”, mas também pela balada “Para nunca mais mentir”. Foi precisamente esta a canção que antecedeu o primeiro momento de fusão total entre público e banda da noite. “Ouvi dizer que o nosso amor acabou” foram as palavras que cortaram um «mini-silêncio» muito rápido que antecedeu a canção “Ouvi dizer”. O público provou que esta não é uma “estúpida canção” que só Manel Cruz ouvira, é sim um símbolo dos Ornatos Violeta que ali foi cantado em uníssono pela sua cidade.

Descolem os pés do chão

Desde “Ouvi Dizer” até à primeira despedida dos Ornatos Violeta (só à terceira foi de vez), a palavra adrenalina era a que melhor definia o ambiente no Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota. A viagem começou numa “Nuvem” mágica, mas o trovão que mexeu a plateia deu-se na transição entre duas das mais queridas e eletrizantes músicas dos Ornatos: “O.M.E.M” e uma “Chaga” que só lembrou que ninguém quer um fim. Já há muito que Manel Cruz e Kinhörm tinham tirado a camisola, sem querer poupar o corpo nestas duas grandes malhas.

A tão esperada “Capitão Romance” foi tocada a seguir a mais uma balada: “Devagar”. E, mais uma vez, o alinhamento dava as voltas ao público que, além de ver, agarrou o concerto.  A banda ainda tinha para oferecer “Dia Mau”, “Tempo de nascer”, “Dama do Sinal” e “Fim da canção”, que fechou o primeiro ato. De “O Monstro Precisa de Amigos”, já estava tudo tocado, mas muito mais queria o público. Mais de uma hora passou a voar, mas muitas surpresas ainda viriam nos dois encores que faltavam.

Manel Cruz fez as honras

Na hora do esperado regresso da banda ao palco, outro protagonista pediu e conseguiu lá chegar. A noite foi especialmente memorável para Paulo que, com os Ornatos Violeta como testemunhas, viu Alexandra aceitar um pedido de casamento.

Depois do momento inesperado, o palco foi devolvido aos protagonistas da noite.  Ainda não satisfeito, o público pedia um tema que os Ornatos não tinham tocado, por exemplo, no Marés Vivas. A resposta deu-a Manel Cruz na segunda vez que voltou ao palco: “O Peixe foi só mijar”, disse para gáudio da multidão. A tão esperada “Punk Moda Funk” ouviu-se, cantou-se e sentiu-se. Foi, sem dúvida, um dos momentos altos de uma noite que fechou com “Dias de Fé”. Manel Cruz e a banda haviam de regressar para fechar em definitivo o concerto com “Raquel”.

Não terá havido uma única pessoa que se tenha arrependido do dia em que nasceu o Super Bock Arena – Pavilhão Rosa Mota. De volta ao Porto, os Ornatos Violeta rebentaram a casa e deixaram a fasquia muito alta para o futuro da nova casa de espetáculos do Porto.

Artigo editado por Filipa Silva