Combativo, agressivo e jogado “na raça”. Estes são apenas alguns adjetivos que descrevem habitualmente um dérbi da Invicta, especialmente quando é jogado no Estádio do Bessa. Este domingo, não foi exceção, muito embora o ímpeto inicial se tenha diluído ao longo do jogo. Os dragões entraram com unhas e dentes bem afiados e marcaram cedo. Um golo que bastou para segurar os azuis e brancos no segundo lugar do campeonato.

O FC Porto não entrava para este encontro no melhor dos momentos. Resultados fracos e exibições pálidas, tanto a nível interno como europeu, têm gerado alguma insatisfação no seio dos adeptos. A equipa orientada por Sérgio Conceição viu a liderança da Liga esfumar-se nos Barreiros, enfrentando um duro teste à sua criatividade ofensiva frente a um Boavista defensivamente sólido, que tinha sofrido apenas mais um golo que os azuis e brancos no campeonato até ao momento.

Os axadrezados, apesar de uma derrota algo surpreendente no Bonfim, frente a um Vitória de Setúbal que ainda só marcou por três vezes em 11 partidas para a Liga, procuravam bater o seu rival pela primeira vez desde o retorno à Primeira Liga.

Sérgio Conceição alterou parte do seu onze habitual nesta partida e não teve receio de estrear três elementos em jogos para a Liga.

Após quatro jogos de ausência, Marega voltou ao onze titular dos dragões na frente de ataque, juntamente com Fábio Silva, a mais recente promessa portista que assim se estreava como titular na equipa principal do FC Porto. O meio-campo também deu lugar à estreia de Loum no lugar do mexicano Matheus Uribe, um dos elementos excluídos da lista de convocados à última da hora, juntamente com Luís Diaz, Marchesín e Saravia, devido a uma saída noturna não autorizada na véspera. Também na baliza, Diogo Costa teve a sua primeira experiência como titular no campeonato.

Marega voltou ao onze titular do FC Porto.

Marega voltou ao onze titular do FC Porto. Foto: FC Porto/Facebook

O Boavista apresentou o seu esquema habitual de três centrais, de forma a tentar retirar profundidade ao jogo do FC Porto. Destaque ainda para o regresso de Bracali às redes axadrezadas no lugar de Hélton Leite, que tinha atuado no Bonfim.

Vantagem madrugadora

Os azuis e brancos entraram de modo autoritário no encontro. Ainda não tinham passado 10 minutos e já o FC Porto passava para a frente. Livre para o conjunto portista marcado de forma curta, Marcano deu sequência ao lance, fazendo a bola chegar à área axadrezada. Após alívio da defesa contrária, Alex Telles recebe a bola à entrada da área e desfere um grande remate que vai colocado ao ângulo inferior esquerdo da baliza de Bracali. Os músculos ainda começavam a aquecer e já o FC Porto vencia por 0-1.

Destaque ainda para o festejo coletivo estimulado pelo brasileiro juntamente com todo o banco, demonstrando união do grupo e sacudindo (psicologicamente) o momento menos bom vivido pelos dragões.

Equilíbrio em todas as frentes

Apesar do golo madrugador dos dragões, o jogo seguia equilibrado, com ambas as equipas defensivamente estáveis, sem grandes oportunidades de golo. O Boavista permanecia compacto à espera do erro dos dragões para sair em transição, esticando quase sempre o jogo para os seus extremos, com os quais procurava ganhar terreno em velocidade.

Por sua vez, o FC Porto procurava muito o jogo pelos corredores, principalmente do lado direito. A referência ofensiva, ao longo de toda a primeira metade, foi Marega. Os azuis e brancos abusavam das movimentações e da presença física do maliano para desequilibrar, através da profundidade, o bloco médio-baixo dos axadrezados, algo extremamente recorrente no modelo tático de Sérgio Conceição.

A verdade é que o tempo foi passando e o jogo foi para intervalo sem grandes situações de golo dignas de menção, para além do golo de antologia de Alex Telles. Um ou outro desvio falhado na sequência de cruzamentos por parte de ambas as equipas foi tudo o que houve para contar.

Assertividade no reatamento

A segunda parte arrancou com perigo criado pelo FC Porto. Marega apanhou-se num dois para um e serviu Fábio Silva, que correu até à baliza contrária e atirou por cima, devido à pressão exercida por um dos centrais dos axadrezados. Os dragões entravam melhor no encontro, procurando jogar um futebol mais curto e apoiado, evitando assim as bolas longas que se perdiam repetidamente nas costas da recuada defesa boavisteira.

Mexer para animar

O cronómetro ia correndo e tudo se mantinha igual. O FC Porto confortável com a vantagem mínima, a controlar as operações, mas sem arriscar muito, enquanto o caudal ofensivo dos boavisteiros era quase nulo. Lito Vidigal foi o primeiro a mexer, fazendo entrar Yusupha, um segundo ponta de lança. O objetivo era colocar pressão na linha defensiva dos dragões, por meio de mais um elemento ofensivo em campo.

Sérgio Conceição respondeu com a troca de Fábio Silva por Zé Luís e de Manafá por Nakajima, passando Corona para a lateral direita. Até ao último quarto de hora, os únicos acontecimentos de realçar foram dois cabeceamentos portistas na sequência de bolas paradas, uma para fora, outra para uma grande intervenção de Bracali.

Oportunidade flagrante para fechar

A um minuto dos 90, o FC Porto dispôs de uma soberana oportunidade para fechar as contas. Zé Luís isolou-se perante Bracali, tirou um adversário do caminho antes de atirar ao poste da baliza boavisteira. Tudo podia ter acabado aí, mas os axadrezados não se deram por vencidos e arriscaram tudo para chegar ao empate. Porém, o marcador não mais mexeu até ao final e os dragões saíram a sorrir do dérbi da Invicta.

No final da partida, Sérgio Conceição mostrou-se orgulhoso da exibição “madura” da sua equipa, sublinhando a capacidade que os dragões tiveram de controlar o jogo, acrescentando que ficaram a dever a si próprios mais um golo.

Realçou também a combatividade e agressividade dos boavisteiros, remetendo para o futebol direto que os axadrezados praticam. Sobre a saída noturna de Luís Diaz, Marchesín, Uribe e Saravia, o treinador azul e branco manteve o discurso usado na véspera referindo que “não há jogadores intocáveis”. Destacou ainda a boa estreia a titular de Loum, reconhecendo os bons índices de trabalho que tem vindo a demonstrar nos treinos.

Do lado do conjunto da casa, Lito Vidigal reconheceu que faltou alguma velocidade no jogo do Boavista, especialmente na segunda parte, e também algum critério no último terço no momento de definir o lance. Por outro lado, prezou os seus jogadores pela “coragem em tentar ganhar”, realçando a capacidade de “jogar de igual para igual com qualidade” frente a um adversário que “não é uma equipa qualquer”, acrescentando que um empate “também seria justo”. O treinador dos axadrezados destacou ainda a mentalidade positiva do Boavista, referindo que é uma equipa que está em crescendo e em busca da sua identidade.

Na sequência deste resultado, o FC Porto acumula 28 pontos e mantém a perseguição ao líder Benfica (30 pontos) no topo da classificação. Os axadrezados, por sua vez, caem para o 7º posto com 15 pontos. Na próxima jornada, que só se disputa no final do mês, o Boavista abre a ronda nos Açores com o Santa Clara, com o FC Porto a encerrar a jornada no Dragão diante do Paços de Ferreira.

Artigo editado por Filipa Silva