No Common Language” é o novo espetáculo do Teatro Universitário do Porto (TUP) que chega esta sexta-feira (13) à Mala Voadora (Rua do Almada, nº277), sob a direção de Susana Oliveira. A peça é uma criação inspirada no manifesto feminista da filósofa Donna Haraway, escrito em 1985, cujo nome “Manifesto Cyborg serve para levantar as questões de transgressão de fronteiras e de preconceitos sociais.

O que é um cyborg? É a pergunta levantada pela peça. Para o TUP, este “ser” não partilha uma origem comum, nem luta por uma linguagem comum. A proposta foi deixada pela direção anterior, de Sara Jones, Daniela Braga, Orlando Castro e António Pacheco, que propuseram à encenadora Susana Oliveira a realização de uma peça de teatro que fugisse ao teatro clássico e trouxesse perspetivas sobre assuntos que aflingem a sociedade moderna.

”Eu não tenho propriamente uma preocupação social ou de intervenção panfletária com este trabalho. Nós tivemos várias sessões de debate, de leitura e releitura do manifesto, que na verdade é um artigo académico e bastante intrincado em alguns momentos, porque mistura conceitos de áreas muito diferentes, da sociologia, da política, da teoria da linguagem, das teorias da comunicação”, explica Susana Oliveira, em entrevista ao JPN, à margem do ensaio de imprensa da peça.

O foco do trabalho, de acordo com a encenadora, foi a linguagem e de que forma é que esta pode definir as artes cénicas: “De que forma se podem cruzar, de que forma se podem contaminar”. A sinopse da peça traz alguns dos conceitos que podem ser refletidos pela audiência, como a fusão de linguagens, a negação da unidade e a discussão de possibilidades para a transgressão dos processos de criação.

A peça acaba aproximando-se mais de uma autorreflexão sobre o teatro e a linguagem do que o que Donna Haraway originalmente propõe, como diz Susana Oliveira: “Onde é que está a fronteira do teatro? As fronteiras em termos do trabalho contemporâneo são muito diluídas. As linguagens juntas formam esse objeto artístico, com a linguagem de vídeo, de som”, exemplifica.

Este é mais um espetáculo ao qual o TUP teve de adaptar-se, privado que está de um espaço de apresentação dos seus trabalhos – daí a peça ser apresentada na Mala Voadora, como no ano passado foi no UPTEC Pink. O grupo de teatro, que já passa dos 70 anos de existência, um dos mais antigos do Porto, queixa-se de falta de apoio da reitoria e das condições precárias em que vive. “Tínhamos uma instalação onde tínhamos de facto um auditório e podíamos apresentar e agora fomos transferidos para outras instalações que não têm esse espaço. Essa inconsistência traz-nos certas fragilidades e, às vezes, perder público é uma delas. Quando começamos a fazer de uma casa a nossa casa, já temos que mudar para outra”, lamenta Inês Pinheiro Torres, da direção.

A responsável também aborda os problemas que têm nas instalações, como a falta de água potável e internet: “Nós queremos fazer teatro e queremos estar a trabalhar o que nos juntamos para fazer. E acabamos por perder muito tempo com outras coisas que não deviam ser uma preocupação. Precisavamos de um apoio maior da reitoria nesse caso, ao nível das instalações”, afirma ao JPN.

No início de 2020, o TUP volta a iniciar o seu curso de interpretação. As inscrições, que fecharam no final de novembro, vão passar agora por um processo de seleção. Depois, o grupo deve estar preparado para iniciar outro projeto teatral que culminará com uma apresentação final similar à deste ano.

A nova peça do TUP, “No Common Language”, lançada esta sexta-feira na Mala Voadora conta com a interpretação de Margarida Silvestre, Patrícia Xará e Susana Figueira Henriques e vai decorrer até quinta-feira, dia 19 de dezembro. O espetáculo tem a duração de aproximadamente 1h10 e custa cinco euros para o público geral, quatro para estudantes e três para sócios do teatro e podem ser adquiridos por email ou na receção do teatro.

Artigo editado por Filipa Silva