Prestes a arrancarem num rally com destino a Marrocos, que tem o objetivo de entregar bens essenciais àquela comunidade, “Sis On Wheels”, “Los Primos” e a repetente “Mano A Mano” são três das equipas que vão participar no Uniraid 2020. A edição deste ano convida académicos de toda a Península Ibérica a embarcar na aventura, de 15 a 23 deste mês, levando no mínimo 40 quilos em bens solidários.

Esta sexta-feira (14) é o dia de partida, do Porto, das três equipas referidas, com as quais o JPN esteve à conversa. A poucos dias de se lançarem nesta aventura, os jovens partilharam as expectativas e refletiram sobre a preparação prévia exigida. O objetivo principal da viagem é comum a todos: levar mantimentos às populações desfavorecidas de Marrocos.

Beatriz Cruz tem 23 anos, faz parte das “Sis On Wheels” e vai viajar num Peugeot 205 com 28 anos. A jovem ressalva a importância de “ir em mãos entregar estas coisas às crianças” como o grande propósito da viagem. “Nós vamos ter a certeza que as coisas vão chegar, porque vamos ser nós a entregar“, reforça a aluna de doutoramento da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP).

Já José Oliveira, de 22 anos, participa pelos “Los Primos“, vai viajar num Renault Super 5 e aponta que um dos grandes objetivos é “superar esta prova”. O sentimento de ter um desafio e ser capaz de o ultrapassar é, por isso, um dos preceitos para o estudante de Engenharia Eletrotécnica da FEUP. Finalizar a reabilitação do carro e conseguir o apoio de empresas foi uma das metas da viagem – que começou ainda em Portugal, muito antes da partida.

Tanto Beatriz como José conheceram o Uniraid através de João Costa, embaixador do projeto no Porto. O jovem, de 23 anos, já concorreu no ano passado e este ano vai voltar a fazer o rally, pelo grupo de equipas “Mano A Mano”.

Também João Costa acredita que o percurso começa ainda em Portugal e muito antes do dia de partida. “O Uniraid não são bem aqueles nove dias lá. O Uniraid são aqueles dez meses antes, ou três meses antes, e aí é que tu aprendes muito sobre as maneiras de trabalhar, sobre as pessoas em Portugal e as empresas”, reflete João.

O jovem está a trabalhar em engenharia electrotécnica, na FEUP, e fundou a “Mano A Mano” com o irmão, Márcio Costa, no ano passado. Neste momento, o projeto alberga três sub-equipas: a Master, a LED e a Junior. Segundo João, o rally do ano passado “correu bastante bem” e a missão da equipa passou por “incentivar outras pessoas e outras empresas”. Nesse sentido, surgiu a divisão em três carros que triplicou o desafio, mas também a solidariedade. Nesta edição, o jovem concorre com o colega Baltasar Aroso pela equipa LED.

Preparação

Os passos a dar antes do arranque passam por, em primeiro lugar, fazer uma inscrição no valor de 400 euros. Segue-se a procura de um carro com mais de 20 anos e menos de 1.300 de cilindrada e a subsequente recuperação ou melhoramento. Por último, é preciso recolher patrocínios, material de apoio e, o mais importante, bens solidários.

O Uniraid não se faz só de engenheiros ou conhecedores de mecânica, “é importante ter algum conhecimento, mas não é essencial”, conta a jovem. A parte elétrica do carro da dupla feminina foi feita pelas próprias, mas para a componente mecânica as jovens pediram ajuda. Prova disso é que João partilhou, com o JPN, ter ajudado outras equipas na manutenção mecânica dos carros.

Na lista de competências desejáveis entra, para Beatriz, a “força de vontade” e um “bom espírito de equipa e de entreajuda“. “Ninguém vai para competir, toda gente vai para ajudar“, remata como um dos motes do Uniraid.

Depois da preparação logística, vem a mental. A ansiedade parece ser o estado de espírito dos membros das três equipas. A dias de partir é preciso garantir que não falta nada e conciliar o Uniraid com as exigências da vida pessoal e profissional. A azáfama da preparação pode ser avassaladora, mas José brinca que já só quer “pôr o carro em Marrocos e descarregar o material solidário”.

Caminho

As “Sis On Wheels” vão carregar cerca de 132 quilos de material solidário. “Conseguimos muito mais material do que tínhamos capacidade para levar, que acabámos por distribuir por outras equipas que também vão (…) tudo o que nos deram vai chegar a Marrocos”, garante Beatriz.

Entre as três equipas, vão ser entregues bens como roupa, material escolar, material de higiene pessoal, brinquedos. Há ainda quem seja mais imaginativo e leve alguns powerbanks com leds embutidos para ajudar as crianças a conseguirem estudar à noite. “Caso não tenham energia carregam a powerbank na escola, e se não tiverem electricidade em casa conseguem estudar com aquela powerbank “, explica José.

A mala cheia de mantimentos solidários reduz a bagagem pessoal. No deserto, os desafios podem bater à porta a qualquer momento. Por isso, as equipas vão preparadas com, por exemplo, “pranchas para desatarraxar o carro, uma pá, cordas e cintas de reboque” bem como um “jerricã com combustível” caso surjam imprevistos, confirmam as “Sis On Wheels”.

Na orientação entra uma bússola, um mapa e o roadbook, que contém o percurso previamente acordado com o Governo marroquino e que vai guiar os participantes aos sítios mais carenciados.

Por último, não podem faltar alguns alimentos e água potável. Para João “entrando lá não se pensa em muito mais do que o básico”, assumindo que não há espaço para preocupações com telemóveis.

Destino

Muitos não sabem o que vão encontrar no destino, por ser a primeira vez num contexto deste género. É o caso de José, que confessa não estar a sentir “a parte solidária” por ainda não terem ido para o deserto e, por isso, ainda não terem contactado com as crianças carenciadas.

Até ao final de 2019, os “Mano A Mano” ainda estavam a “sofrer algumas repercussões positivas” da edição anterior. Para João “o mais importante não é ganhar, é chegar ao fim” e poder ajudar não só os locais, mas também inspirar e incentivar outras pessoas a contribuir. Depois da participação no ano passado, João conta estar mais familiarizado com a cultura local: “este ano já não vou ficar espantado se vir miúdos a atravessar a auto-estrada a correr”, explica.

Este ano, os “Los Primos” não vão ter tempo para desenvolver um outro projeto solidário que tinham em mente – a instalação de painéis solares em casas de crianças que não têm electricidade. Por isso, esperam voltar a participar em 2021.

Artigo editado por Filipa Silva.