Vários profissionais marcaram presença na III Jornada do Grupo de Intervenção Psicológica da Universidade do Porto (GIP.UP) e denunciaram que a vergonha associada aos problemas psicológicos é um dos principais estigmas que precisam ser combatidos. Durante a sessão de abertura do evento – que decorreu na passada sexta-feira (14) na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) – Sílvia João, coordenadora do GIP.UP, referiu que não devem existir reticências em pedir ajuda

A psicóloga alertou para a necessidade de serem criadas mais instituições de apoio mental. “Há uma falta de recursos face às necessidades da comunidade”, justificou. O psiquiatra Daniel Sampaio apontou também que “há muito pouca resposta nos cuidados primários de saúde”. “A psiquiatria é o parente pobre do Sistema Nacional de Saúde (SNS)”, completou ao observar a necessidade do Governo contratar mais psiquiatras.

Durante o evento, os profissionais de saúde lembraram que a maior parte das doenças mentais tem início entre os 15 e os 25 anos. Portanto, nesta fase da vida é fundamental ter acesso a estruturas de apoio psicológico, visto que os jovens se encontram mais suscetíveis à ansiedade e à depressão.

Para o Pró-Reitor da Universidade do Porto (UP), José Castro Lopes, que esteve presente nas jornadas, o normal é um estudante sofrer algum tipo de perturbação mental e “o anormal é um estudante não ter um problema de saúde mental”.

Os profissionais de saúde presentes no evento alertaram para o facto de o suicídio se estar a tornar na primeira causa de morte entre os jovens. Daniel Sampaio explicou que as pessoas que tiram a sua própria vida fazem-no porque “perderam todos os laços com outras pessoas e estão completamente isoladas”. O psiquiatra evidenciou que o diagnóstico correto tem que ser dado o mais cedo possível e é o factor chave para o tratamento.

Responsabilidade social das universidades

Segundo os presentes, é na faculdade que as pressões começam a crescer. “A procura de excelência é muito comum entre os estudantes, porque eles próprios sabem que a competição é feroz”, afirmou, durante o evento, a coordenadora do Grupo para a Promoção da Saúde Mental da U.Porto (GPSM UP), Adelaide Oliva Telles. A necessidade de ser o melhor leva à falta de tempo e à subsequente exaustão, acrescentou a psicóloga. 

Já Miguel Ricou, presidente do quadro de ética da Ordem dos Psicólogos Portugueses, apontou para o facto de vivermos numa sociedade em que não há espaço para erros e onde “ninguém nos ensina a fazer as coisas mal feitas”. Nesse sentido, os estudantes não têm tempo de errar porque são “alvo de expectativas de todos os lados – próprias, dos pais, dos pares”.

Segundo Adelaide Oliva Telles, as universidades têm o papel fundamental de preparar e auxiliar os alunos. “A universidade tem que ser mais do que transmissora de conhecimento, tem que ser uma escola para a vida. Tem que formar pessoas e ajudar a ganhar competências”, concluiu. 

O “reconhecimento das doenças mentais, como doenças mentais” faz parte da responsabilidade social das universidades como explicou a psicóloga Isabel Menezes. Através dos seus recursos, disse Adelaide Oliva Telles , as instituições de ensino superior têm de ser promotoras da saúde mental e têm que cuidar dos seus doentes. Caso contrário “não são escolas para a vida”, completou.

Artigo editado por Filipa Silva.