O Estádio Nacional do Jamor, em Oeiras, Lisboa, é a primeira construção com base na arquitetura paisagista em Portugal. O arquiteto responsável, Francisco Caldeira Cabral, foi o pioneiro desta tendência nas edificações portuguesas – que são retratadas no documentário “Tudo é paisagem”, de Duarte Natário. Atualmente, o Jamor é o local predefinido para a final da Taça de Portugal.
Lançado em abril do ano passado, “Tudo é paisagem” aborda a história da arquitetura paisagista em Portugal nos últimos 70 anos. Duarte Natário – também arquiteto paisagista – apontou ao JPN que o desenho do Jamor “marcou um início de uma forma de fazer e de trabalhar na paisagem”, numa época em que a arquitetura paisagista não era um estilo muito usual no país.
Segundo Duarte Natário, um dos princípios deste tipo de arquitetura é analisar cuidadosamente “o terreno e o local onde a obra está inserida e adequá-la à paisagem, sem impor“. À data da projeção (1937), Francisco Caldeira Cabral – considerado o “pai do ensino da arquitetura paisagista em Portugal” – teve esse princípio em linha de pensamento e foi, também, beber à arquitetura grega, que tem por base o “respeito e enquadramento na paisagem”.
Dessa forma, Caldeira Cabral rejeitou, desde cedo, a ideia de construir o estádio no Vale do Jamor, já que este ia acabar por interferir no curso do Rio com o mesmo nome do vale. Nesse sentido, a construção do campo desportivo passou para a encosta e preservou o estado natural do rio.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-45), Francisco Caldeira Cabral acabou por ser afastado do projeto do Jamor por ter convidado o alemão Konrad Wiesner, colega do arquiteto, a auxiliá-lo no desenho. Apesar disso, Duarte Natário lembrou ao JPN que o atual Estádio do Jamor manteve as influências paisagistas de Caldeira Cabral.
Natural de Lisboa, Francisco Caldeira Cabral aventurou-se durante o liceu e foi estudar para Berlim, na Alemanha, onde contactou com outras culturas. O arquiteto acabou por regressar à terra natal, devido a uma pneumonia, onde terminou o curso de engenharia agrónoma do Instituto Superior de Agronomia, em 1936.
Além do Estádio Nacional, no documentário “Tudo é paisagem” figuram algumas infraestruturas como a Fundação Calouste Gulbenkian, o Estádio Municipal de Braga e o Alto Douro Vinhateiro.
Estádio Nacional do Jamor: O ícone arquitetónico da época salazarista
A necessidade de reforçar o papel do desporto na educação da juventude portuguesa, levou a que fosse construído o primeiro estádio desportivo em Portugal. O edifício foi inaugurado a 10 de junho de 1944 e nomeado de Estádio Nacional até 1987.
A inauguração do estádio ficou marcada pelo dérbi Benfica-Sporting, em que os leões venceram por três bolas a duas. Desde então, o estádio foi também palco internacional de outras competições como a final da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1967, marcada pela vitória dos escoceses Celtic aos italianos do Inter de Milão (2-1).
Além disso, o Estádio do Jamor recebe, todos os anos, a final da Taça de Portugal. A final deste ano, a 24 de maio, vai ser disputada com um clássico entre o Sport Lisboa e Benfica (SLB) e o Futebol Clube do Porto (FCP). O último clássico entre o SLB e o FCP disputado naquele campo desportivo foi há 16 anos, do qual o Benfica se sagrou campeão por duas bola a uma. Esta vai ser a décima vez em que os rivais vão disputar aquela taça.
Artigo editado por Filipa Silva.
