Mais de metade (50,5%) dos portugueses são favoráveis à eutanásia e 64% defendem um referendo. Estes são os principais resultados do estudo “Atitudes Face à Eutanásia na População Portuguesa“, produzido pelo Laboratório de Psicologia do Instituto Egas Moniz, que foi apresentado na tarde desta terça-feira (18), numa conferência naquele instituto e também contou com um debate.

De uma amostra de quase 1.700 indivíduos – com uma média de idades de 42 anos e maioritariamente habitantes urbanos a maioria (63,7%) defendeu a necessidade de um referendo à despenalização à eutanásia. Porém, Jorge Cardoso, coordenador do estudo e docente naquela instituição, revelou em declarações ao JPN que “o grupo não considera a amostra representativa da realidade nacional“, tendo em conta a faixa etária e localização geográfica dos inquiridos.

Em relação à despenalização da eutanásia em si, o inquérito apresentava cinco cenários de escolha. O mais votado, com 68% de adesão, foi o da eutanásia passiva, ou seja, o método de morte antecipada em que os cuidados prestados ao doente são cessados com a antevisão da sua morte. Já a eutanásia ativa, em que o doente morre pela administração de uma substância letal, teve 59% do apoio por parte dos inquiridos.

Um terceiro cenário representava uma situação de eutanásia a doentes com demência, mas que teriam assinado previamente, em lucidez, um consentimento da morte – uma versão avançada da Diretiva Antecipada de Vontade, vulgo testamento vital, já em prática. Metade dos inquiridos (51%) considerou também esta hipótese favorável.

O facto de estes três cenários terem tido bastante mais adesão revela, segundo Jorge Cardoso, uma “primazia pelo respeito à autodeterminação” nos inquiridos, sob o tema da eutanásia.

Esta tendência confirma-se também na situação inversa: o quarto cenário dizia respeito a casos em que é a família a pedir a morte de um doente inconsciente e teve apenas 28% dos votos. O cenário com menos adesão (apenas 18%) ilustra um doente que pede eutanásia sob intenso sofrimento psicológico, sem ter uma doença diagnosticada. “Denota-se uma valorização do sofrimento físico sobre o psicológico” na amostra do inquérito, refletiu Jorge Cardoso.

O mesmo estudo aponta que, através dos dados recolhidos, foi possível estabelecer um perfil dos inquiridos que votaram contra a despenalização da eutanásia: são maioritariamente mais velhos, com menor grau de escolaridade, religiosos e que revelam ter um estado de saúde diminuído e também pouca informação relativamente à eutanásia.

Por outro lado, o perfil dos inquiridos a favor da eutanásia revelou-se mais jovem, com elevado grau de escolaridade, formação e estado de saúde, e a maioria não se identifica com uma religião.

Artigo editado por Filipa Silva.