A propagação do COVID-19 deixou a Universidade do Porto (UP) em alerta. Os estudantes a realizar Erasmus em Itália foram contactados pela instituição, como a Direção-Geral da Saúde (DGS) recomendou, mas nenhum quer para já voltar. O JPN falou com duas jovens portuguesas que estão atualmente em Itália.

Sendo a Itália e a China os únicos países que têm instituições de ensino superior fechadas devido ao vírus, a Universidade do Porto está “em contacto direto com os estudantes que estão a participar em períodos de mobilidade internacional” nesses países, informa a UP em resposta ao JPN.


Coronavírus no mundo
Até ao momento, estão confirmadas 2.810 mortes no planeta em resultado do coronavírus. A esmagadora maioria foi registada na China (mais de 2.750). Seguem-se o Irão (26) e Itália (14). No país europeu, todas as vítimas tinham idades avançadas e quadros clínicos com condições de saúde com complicações anteriores. De acordo com os dados da Universidade Johns Hopkins, há 82.550 casos de coronavírus registados no mundo.

A instituição contactou os 125 estudantes que estão (ou vão estar) em Itália durante o segundo semestre do presente ano letivo, “relembrando os contactos de emergência consular disponíveis para qualquer viajante português, bem como os contactos de emergência da U.Porto disponíveis 24h/dia para todos os estudantes em mobilidade internacional”, acrescenta a UP.

A universidade disponibiliza ainda “apoio e informações necessárias em caso de regresso, sem qualquer tipo de penalização para o estudante em questão”. Até agora, nenhum estudante quis regressar a Portugal.

“Pressão enorme” para regressar

O JPN falou com duas estudantes a realizar mobilidade em Itália, este semestre. Leonor Meneses trocou a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) pelo Politécnico de Milão por uns meses e admite sentir “uma pressão enorme” por parte dos pais para regressar a Portugal. A estudante de 21 anos considera “compreensível”, mas não acha que voltar seja “vantajoso de momento”, visto que já perdeu três semanas de aulas e supõe que teria de “ficar em quarentena uns dias” por regressar de Milão.

O Politécnico de Milão, que tem suspensas as atividades letivas, contactou a estudante para informar que “caso as aulas não recomeçassem no dia 2 de março, arranjariam alternativas para os alunos frequentarem os cursos a partir de casa”, conta Leonor. Também os eventos de receção da Erasmus Student Network (ESN) de Milão foram cancelados.

A estudante portuguesa não tenciona, para já, realizar exames médicos, mas tem ficado em casa. Conta ainda que notou “menos movimento” quando foi ao supermercado, mas está “tudo normal”, pela sua perceção. “As pessoas não andam de máscara sequer”, refere.

Itália também foi o país que Rita Caetano escolheu para viver a experiência Erasmus e estagiar fora de Portugal. A estudante de Farmácia está a fazer o estágio do último ano do curso em Bolonha.

“A situação vai estabilizar e o alarmismo é maior do que a realidade”, conta. Também Rita Caetano não tenciona fazer exames a não ser que se “sinta mal ou com sintomas”. Tanto as aulas como os estágios foram suspensos até ao final da semana.

Como não há casos confirmados em Bolonha, os estudantes que decidiram ficar têm aproveitado para “sair de casa (…), porque esta semana não há aulas”. Mas também há quem já tenha decidido voltar às origens. “Tenho dois colegas portugueses que conheci, que já voltaram a Portugal e não pretendem regressar. E outras pessoas que também voltaram aos seus países só durante esta semana”, partilha a estudante de 23 anos, natural de São João da Madeira.

Tanto Rita Caetano como Leonor Meneses encontram-se bem e já manifestaram junto da UP que não desejam voltar a Portugal.

UP cria grupo de trabalho

A U.Porto assegura ao JPN que a toda a comunidade académica chegou “informação sobre o vírus, consciencializando para as medidas a tomar e quais os pontos de apoio em caso de sintomas”.

Foi ainda constituída “uma task-force de responsáveis universitários e especialistas em saúde pública da U.Porto para delinear planos de contingência em caso de emergência médica”.

Na UP, o segundo semestre iniciou-se com 886 estudantes internacionais, dos quais 68 são italianos. Embora não existam “recomendações para que os estudantes que viajaram ou têm viagem marcada, desistam obrigatoriamente dos seus períodos de mobilidade internacional” a Universidade do Porto garantiu que “todos os estudantes recém-chegados à U.Porto foram informados sobre os procedimentos recomendados pela Direção-Geral da Saúde (DGS)”.

O JPN contactou também a ESN Porto, uma rede internacional que presta apoio à comunidade Erasmus. Até ao momento, a organização, liderada atualmente por Flávio Freitas, não recebeu qualquer pedido de ajuda ou de esclarecimento motivado pelo COVID-19.

Artigo editado por Filipa Silva