Todas as sextas-feiras do mês de março, às 21h30, na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto, vai poder assistir a nove documentários que, por várias razões, não puderam ser exibidos, sobretudo, por motivos políticos.

A luta pelos direitos da comunidade negra nos Estados Unidos, as condições de vida em instituições de tratamento psiquiátrico e a apropriação e os estereótipos associados a Los Angeles, são algumas das temáticas presentes nos filmes.

O ciclo organizado pelo núcleo de cinema documental KINO-DOC vai apresentar obras cinematográficas dirigidas por cineastas de diferentes partes do mundo.

6 de março: África subsariana sobre olhares europeus

O documentário “Les Statues Meurent Aussi”, de 1953, é o filme que abre o ciclo de cinema. Dirigido por Alain Resnais, Chris Marker e Ghislain Cloquet, a obra centra-se na arte africana e na forma como esta foi afetada pela colonização. Com duração de 30 minutos, o filme foi exibido uma vez no seu ano de lançamento, tendo sido censurado nos 11 anos seguintes.

Catembe” (1965) é a obra que se segue na primeira sexta-feira de março. Originalmente com 80 minutos, é atualmente o filme português com mais cortes impostos pela censura, com 103 alterações. A obra do moçambicano Faria de Almeida tenta contar, em 48 minutos, o quotidiano da vida em Maputo – antigamente chamada de Lourenço Marques.

Em 1974, foi lançado o documentário francês “Idi Amin: A Self-Portrait”, que tem como protagonista o antigo ditador militar do Uganda, Idi Amin. O filme, com duração de 1h30, mostra o ex-presidente no auge da governação. Dirigido pelo cineasta de origem suíça Barbet Schroeder, a película foi dividida em duas versões: uma para o Uganda e outra para o resto do mundo.

Amin recusou a exibição da versão internacional do filme, fazendo reféns cerca de 200 cidadãos franceses, até que o realizador cedeu e cortou certas cenas. A versão internacional da obra foi proibida até 1979, ano em que Idi Amin saiu do poder

13 de março: conflitos que afetaram a sociedade norte-americana

Let There Be Light” é o documentário de 1980 que foi encomendado, e mais tarde banido, pelo governo dos Estados Unidos da América (EUA), com o objetivo de perpetuar a ideia do soldado americano como herói. Ao longo de 58 minutos, John Huston seguiu o percurso de um grupo de veteranos regressados da guerra, que sofrem de stress pós-traumático.

A curta-metragem “Now” (1965) do cubano Santiago Álvarez reflete, ao longo de seis minutos, sobre o racismo nos Estados Unidos da América.

O último documentário da noite “Le 17e Parallèle: La Guerre Du Peuple” tem por base a Guerra do Vietname. Acompanhado de alguns colegas vietnamitas, o cineasta holandês Joris Ivens retratou a resistência dos camponeses da aldeia Vinh Linh, situada no norte do Vietname, durante os bombardeamentos dos EUA. A obra de 1968, com duração de 1h52, foi banida em vários pontos do mundo.

20 de março: diferentes olhares sobre instituições psiquiátricas

O primeiro filme da noite é “Titicut Follies”, realizado pelo americano Frederick Wiseman, em 1967. Com uma câmara à mão, ao longo de 1h24, o cineasta capta a realidade dos pacientes presos no Hospital Estadual de Bridgewater, em Massachusetts, nos Estados Unidos da América. A obra cinematográfica mostra a humilhação, maus tratos e a nudez imposta aos prisioneiros.

Em 1968, o filme foi acusado em tribunal de violar a privacidade e dignidade dos reclusos. A obra tornou-se o primeiro filme a ser banido nos EUA por motivos de obscenidade e segurança nacional. Apenas 23 anos depois (1991) é que voltou a circular.

Warrendale” (1967) acompanha durante sete semanas as vidas de 12 crianças com distúrbios emocionais à medida que estas recebem novos tratamentos experimentais no centro de acolhimento de Warrandale, em Toronto, Canadá.

Originalmente o documentário ia passar na CBC, estação de televisão pública do Canadá, contudo como o realizador Allan King recusou a cortar os palavrões que estão presentes no filme, o diretor da estação proibiu a sua exibição. Apesar do filme, de 1h40, não ter sido projetado no Canadá, acabou por circular por cinemas internacionais.

27 março: A caraterização de Los Angeles no cinema

Los Angeles Plays Itself” (2003) é o filme que encerra o ciclo de cinema na Casa Comum da Reitoria da Universidade do Porto. Ao longo de 2h49, o cineasta americano Thom Andersen explora a forma como Los Angeles, na Califórnia, foi explorada e retratada em Hollywood. O documentário é preenchido de clipes de outros filmes que demonstram a apropriação da cidade pela indústria do cinema americano.

O filme só foi lançado comercialmente em 2014. Até então, a obra cinematográfica circulou clandestinamente em VHS, DVD-R e em ficheiros de partilha ilegal.

A entrada no Ciclo de Cinema/Documentários Proibidos é livre.

Artigo editado por Filipa Silva