O mundo está em alerta com a propagação do novo coronavírus, com casos confirmados a aumentar a cada minuto. Dois meses depois da confirmação do primeiro caso em Wuhan, na China, os casos de doentes de COVID-19 ultrapassaram a barreira dos 100 mil em mais de 100 países durante este fim-de-semana. Atualmente são 122, entre os quais está Portugal que soma já 59 casos confirmados.

O novo coronavírus foi declarado pandemia pela Organização Mundial de Saúde (OMS) esta quarta-feira (11). Contudo, ainda esta semana o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, referiu que seria “a primeira pandemia no mundo a ser controlada” e que “não estamos à mercê do coronavírus”.

De facto, apesar de o número de casos aumentar de dia para dia, com ele aumentam também os casos de doentes recuperados. A taxa de mortalidade de 3,4% adiantada pela OMS há uma semana mantém-se, ainda que com uma assumida margem de erro, pois é calculada a partir dos casos reportados à organização e prevê-se que haja mais por identificar.

A partir do mesmo processo é possível calcular uma taxa de recuperação, cruzando o número declarado de casos confirmados com o de casos solucionados. Dos casos confirmados até agora, cerca de 56% dos infetados já recuperou da COVID-19.

A China, onde a nova forma de coronavírus foi descoberta, é o país com maior número de pessoas infetadas a nível mundial – quase 81 mil casos – mas cerca de 75% dos doentes está já recuperado e teve alta médica, segundo a OMS. Dos confirmados, cerca de 23% está ativo de momento e apenas 3,9% (3.162 indivíduos) dos casos resultou em morte.

Com um ritmo noticioso difícil de acompanhar e números em atualização constante pode ser desafiante ter uma noção real do alcance deste vírus. O JPN comparou os nove países com mais casos confirmados de COVID-19 – China, Itália, Coreia do Sul, Irão, França, Alemanha, Espanha, Estados Unidos e Japão – com o caso português, em quatro vertentes: doentes confirmados, ativos, recuperados e mortes.

Fonte: Johns Hopkins University

Como combater a COVID-19

Nas diretrizes da Direção-Geral da Saúde (DGS) para o novo coronavírus, poucas são as recomendações de tratamento – apenas que deve ser “sintomático e de suporte de órgãos”. A maioria das indicações prende-se com os métodos de prevenção e controlo de propagação da doença.

Conhecer o inimigo

O novo coronavírus é o sétimo deste tipo conhecido até à data – da mesma família dos que provocaram os surtos de SARS em 2003 e de MERS em 2012, responsáveis em conjunto pela morte de cerca de mil e 600 pessoas. À descoberta desta família de vírus, em 1986, foi-lhes dado o nome latim “corona” por se assemelharem à coroa solar em vista microscópica.

O coronavírus provoca a doença COVID-19 (acrónimo de coronavirus disease e o ano da deteção), apelidado assim pela OMS para melhor compreensão. O nome real do vírus é SARS-CoV-2.

Em declarações ao JPN, o ex-presidente da Associação Nacional de Saúde Pública, Mário Jorge Santos, explica que “a esmagadora maioria dos casos em Portugal e no mundo são situações muito frustes [passageiros]”. Ou seja, os infetados são pessoas saudáveis e apresentam sintomas de doença muito parecidos a uma simples gripe – febre, tosse e dificuldade em respirar são os mais comuns. Nestes casos, “o vírus parece curar espontaneamente em 14, 20 dias” e os infetados “não precisam de qualquer tipo de medicação”, completa o médico. Estes doentes são isolados nos hospitais para impedir a disseminação do vírus.

Já para os infetados com historial clínico o caso é diferente. A COVID-19 provocou até ao momento 4.373 mortes em todo o mundo. Segundo o médico de saúde pública, “as pessoas falecem do desequilíbrio das doenças que já possuem e não propriamente da pneumonia” induzida pelo coronavírus. Nestes casos mais graves, os doentes são reencaminhados para unidades de cuidados intensivos de forma a receberem suporte ventilatório, também em isolamento.

“Porque a situação clínica dos casos graves é muito diversa não há um tratamento específico” que possa ser ativado de momento para se combater o novo coronavírus, explica Mário Jorge Santos.

Medicação específica não deve durar “menos de 18 meses”

O médico especialista em Saúde Pública refere ainda que o tratamento não pode ser mais que gestão dos sintomas sentidos pois “esta doença emergiu no final de dezembro e o conhecimento científico demora tempo a ser produzido”. “Não perspetivo que haja uma vacina produzida, segura e eficaz em menos de 18 meses”, reflete o médico.

Mário Jorge Santos considera que “ainda estamos muito no início da busca de soluções terapêuticas para a infeção pelo corona [COVID-19]”, embora julgue “promissores” os ensaios clínicos que estão a ser efetuados nos laboratórios chineses para testar a eficácia de medicamentos antirretrovirais que possam combater este novo vírus.

Contudo, Mário Jorge Santos considera que, nesta fase da pandemia, “a principal prioridade na investigação científica para ser útil é a pesquisa de testes que nos permitam perceber a imunidade ao vírus”. Isto porque não se conhece ainda forma de perceber se o organismo de um indivíduo que recupera do vírus – ou seja, que depois de infetado é testado negativo – se torna imune a ele. “Na maioria das doenças virais, a pessoa cura-se e a partir daí fica imune”, garante o médico.

No caso do novo coronavírus, já houve casos “isolados” de reincidência, mas “não há forma de saber” se os organismos dos indivíduos não se tornaram imunes ao COVID-19 ou se sofreram um novo contágio depois da alta médica. “Se o vírus estiver lá, nós identificamos”, diz Mário Jorge Santos, garantindo que “quando [os resultados] são negativos são negativos”.

Artigo editado por Filipa Silva.

Este artigo integra uma edição especial preparada sob a coordenação editorial de Pedro Rios aquando da sua passagem pela redação do JPN como Editor por um Dia.