Com um caso de COVID-19 confirmado, na Universidade do Porto (UP) a vida académica prossegue, ainda que com restrições. Mesmo assim, o caráter silencioso da epidemia e a mobilidade inerente ao contexto universitário geram preocupação de propagação entre estudantes.

Estágios e praxe suspensos, teses adiadas, atividades extra-curriculares canceladas, serviços académicos a funcionar à porta fechada e cadeiras tornadas virtuais fazem parte do cenário vivido por estes dias na UP, a segunda maior instituição de ensino superior do país, que envolve cerca de 32 mil pessoas.

Há quem escolha ficar em casa, há quem aguarde a suspensão das aulas e, ainda, há quem queira apenas continuar os estudos com normalidade.

Liliana Giesteira é estudante de Ciências da Nutrição da Universidade do Porto e movimenta-se pelo pólo da Asprela diariamente. Foto: Inês Moura Pinto

Liliana Giesteira, que tem aulas na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e por vezes almoça na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP), pondera faltar.

A estudante de Ciências da Nutrição demonstra algum receio em utilizar os transportes públicos para chegar à faculdade e admite ter reforçado os hábitos de higiene. “Tento lavar mais as mãos, estar um pouco mais afastada das pessoas, se por vezes alguém tiver algum sintoma eu tento não manter tanto contacto com essa pessoa”, partilha a aluna que passou a ter aulas virtuais depois da FMUP ter cancelado atividades letivas.

Também as portas do complexo ICBAS/FFUP encontram-se fechadas depois da confirmação de um caso de contágio numa estudante da Faculdade de Farmácia. A circulação de estudantes de cursos partilhados com o ICBAS noutras faculdades é, por isso, motivo de inquietação entre a comunidade académica da UP.

Sofia Sousa é estudante de Bioquímica, curso da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) que é partilhado com o ICBAS, e encontrava-se a fazer duas unidades curriculares no complexo encerrado e um estágio curricular no Laboratório de Terapias Celulares do ICBAS, também suspenso. Ainda não sabe o que se segue. Leu numa notícia que a Universidade do Porto pondera alargar o ano letivo, mas não lhe foram comunicadas certezas, por enquanto, sobre as cadeiras e o estágio que ficam por fazer.

A estudante concorda com o encerramento das instalações “até um certo ponto”. Pertencendo a duas faculdades, alerta para a facilidade de contágio: “eu não estou de quarentena, estou sem aulas, mas não sou obrigada a ficar em casa. Se eu estiver contagiada e não souber, estou a ir a cafés, continuo a fazer a minha vida normal. Portanto, posso estar a contaminar outras pessoas sem sequer saber. [o procedimento da UP] É eficiente? Talvez. Mas não a 100%”. Não tem mais cadeiras na FCUP, mas confessa ter colegas de Bioquímica, também “considerados indivíduos de risco 1”, que “esta semana estão a ir à FCUP com outros alunos e docentes”.

As medidas preventivas da UP traduzem-se na suspensão de todas as aulas dos estudantes do ICBAS, da FFUP e de Medicina na FMUP. A este grupo acresce os estudantes de outras faculdades que se encontravam a realizar unidades curriculares e estágios nestas instalações.

Beatriz Batista, 22 anos, também estuda Ciências da Nutrição na UP e há uma semana frequentava a Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto. Foto: Inês Moura Pinto

Beatriz Batista, estudante de Ciências da Nutrição, teve aulas na FFUP na última semana. As unidades curriculares lecionadas em Farmácia passaram para a FEUP devido ao COVID-19. Como não recebeu qualquer recomendação para se isolar, continua a ir às aulas normalmente. A estudante por vezes almoçava na cantina da FMUP e frequentava as salas de estudo noturnas da FEUP.

Segundo o comunicado emitido na terça-feira (10), as restantes instalações da UP vão continuar em funcionamento regular, “incluindo aquelas que são frequentadas por membros da FFUP e ICBAS”, esclarece a Task-Force da UP ao JPN.

A mesma fonte adianta que “os professores e alunos que não foram identificados como contacto próximo [da estudante infetada] não estão confinados a isolamento, pelo que podem prosseguir com a sua atividade normal, incluindo assistir/dar aulas que não sejam nos edifícios do ICBAS/FFUP”. Da parte da Universidade do Porto foram feitas recomendações de “autovigilância de sintomas” e “restrição dos contactos sociais”.

Murillo Prestes Villa não é estudante da UP mas trabalha no INESC TEC, na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto. Desloca-se também até ao Instituto Superior de Engenharia do Porto (ISEP) ao final do dia para o mestrado. Foto: Inês Moura Pinto

O coronavírus não se fica apenas pela Universidade do Porto. Murillo Prestes Villa estuda no ISEP, mas também se movimenta nas instalações da UP. Passa a maior parte do dia no instituto de investigação INESC TEC, na FEUP, almoça na FMUP e tem aulas de mestrado no ISEP. Não recebeu o plano de contingência da UP, mas tem o cuidado de partilhar o gel desinfetante que os colegas de trabalho levam.

Questionados sobre o eventual fecho de todas as instalações da UP, seguindo o exemplo de outras universidades, as opiniões dos estudantes ouvidos pelo JPN divergem.

No comunicado que divulgou esta terça-feira, a instituição considera que “não há razões de saúde pública que justifiquem, à data, a suspensão de atividades ou o encerramento de instalações das Universidades” devido ao novo coronavírus.

A UP garante que “permanecerá atenta” à evolução do surto e às orientações que esta quarta-feira sairem da reunião do Conselho Nacional de Saúde Pública.

Artigo editado por Filipa Silva

Este artigo integra uma edição especial preparada sob a coordenação editorial de Pedro Rios aquando da sua passagem pela redação do JPN como Editor por um Dia.