Surgiu em Wuhan, na China, em dezembro de 2019. Espalhou-se, de seguida, pelos países asiáticos, e chegou à Europa. Itália foi o epicentro europeu do novo vírus que, entretanto, já está em Portugal. São 78 casos confirmados até ao momento, a maioria dos quais no Norte do país. As ruas do Porto estão mais vazias. E os negócios? O JPN questionou os proprietários e funcionários de estabelecimentos asiáticos e italianos.

É hora de almoço. Num restaurante chinês, na baixa do Porto, almoçam apenas dois clientes. A proprietária do estabelecimento procura manter uma distância de dois metros e explica que não são só os clientes que têm medo. É impossível prever o estado de saúde dos clientes que lhe entram pela porta. “O negócio está mau, há muito medo”, desabafa.

Na Rua de Passos Manuel, Maria Rosa, funcionária do Restaurante Chinês, aproveita que o estabelecimento está vazio, para ir ao supermercado. Se antes se “trabalhava bem”, agora o negócio sofre pela falta de turistas e as reservas de grupo têm sido canceladas. Maria Rosa acredita que o estabelecimento é mais afetado por se tratar de um restaurante chinês. 

Entre a equipa, já se pondera o encerramento. “Estamos a consumir água, luz – gastos que não compensam. E o dinheiro não vindo… a coisa piora”, explica a colaboradora. Ainda assim, Maria Rosa não tem medo que os clientes “tragam o vírus” e critica o crescente alarmismo

No restaurante Li-Jin, na zona da Boavista, o negócio também “piorou significativamente”, apesar de estar mais afastado da baixa do Porto. “As pessoas parece que têm medo de sair à rua, mas acho que até fazem bem, com a propagação do vírus em Portugal”, explica Daniel Zheng, proprietário do restaurante.

A possibilidade de fechar portas e alimentar o negócio apenas com o serviço de take-away está em cima da mesa. A medida permitiria evitar despesas correntes e mão-de-obra desnecessária, esclarece o proprietário.  

O restaurante procura manter uma atitude não-alarmista, ao não utilizar luvas, nem máscaras. “Nós tentamos não mostrar medo aos clientes, para que não tenham medo de entrar aqui”, conta Daniel Zheng. 

Atravessada a ponte Luís I, no restaurante Yadoya, o negócio continua normal. Liron In, a proprietária, não tem sentido muitas diferenças, mas acredita que se deve ao facto de o restaurante se situar em Vila Nova de Gaia. 

Liron In admite a possibilidade de fechar o restaurante, se os dois filhos, que estão na escola, forem obrigados a regressar a casa. “Nós não podemos pensar em ganhar dinheiro, temos que pensar na família”, acrescenta. 

No restaurante japonês Mangá Sushi House, na rua de Cedofeita, não existem diferenças evidentes. No fim de semana passado, o estabelecimento contou até com casa cheia. Na tentativa de adotar uma atitude preventiva, os funcionários foram às farmácias à procura de máscaras, mas não obtiveram sucesso. “Álcool é mais fácil encontrar e usamos sempre, para desinfetar as mãos, superfícies e utensílios”, esclarece Joceline, chefe da cozinha. 

Já Ricardo Teixeira, proprietário do Kyoto na Baixa – outro restaurante japonês – relembra que as medidas aconselhadas para a contenção da COVID-19 já são inerentes às práticas de higiene e segurança na restauração.

Uma vez que recebem maioritariamente clientes locais, o proprietário do estabelecimento afirma que, por ali, as baixas no turismo não se fazem sentir. Por enquanto, tudo se mantém igual: “as pessoas continuam a vir jantar fora e a frequentar os restaurantes”, esclarece. 

Apesar de ainda não se terem deparado com falhas no abastecimento de matérias-primas, Ricardo Teixeira adianta que já foram alertados para essa possibilidade por alguns fornecedores. 

No restaurante italiano Nonna Piazza também não existem limitações ao nível dos fornecedores, apesar de estes serem, essencialmente, portugueses e italianos. Ainda sem sobressaltos, a decisão do proprietário Luís Gonçalves foi colocar “um líquido para limpar as mãos junto das caixas, para as pessoas que trabalham com o cliente e trabalham com dinheiro”, a fim de evitar qualquer tipo de contágio

Se nos restaurantes não se verifica o uso de máscara e luvas, o mesmo não se pode dizer relativamente a algumas lojas de proprietários chineses. Nestes locais, é frequente encontrar cartazes que apelam ao uso da máscara no trabalho, ainda que a Direção-Geral da Saúde (DGS) desaconselhe o uso deste tipo de proteções.

Os trabalhadores queixam-se da falta de clientes e reparam que as ruas estão mais vazias. Na rua de Cedofeita, o dono de uma destas lojas lamenta a quebra do negócio já desde o fim de semana. Por enquanto, mantém as portas abertas

Artigo editado por Filipa Silva.

Este artigo integra uma edição especial preparada sob a coordenação editorial de Pedro Rios aquando da sua passagem pela redação do JPN como Editor por um Dia.