A pandemia de COVID-19 – e o isolamento social que ela obriga – leva as pessoas a ficarem mais por casa e a fazerem apenas as deslocações mais importantes. Ao JPN, Luís Simões, da direção do Sindicato dos Jornalistas (SJ), aponta que o facto de os jornais não estarem no lote de “bens indispensáveis” poderá levar a quebras nas vendas, que “se vão verificar, certamente“. No entanto, João Palmeiro, presidente da Associação Portuguesa de Imprensa (APImprensa), afirma que “o que sempre aconteceu até hoje foi que, nestas circunstâncias, as pessoas compraram mais jornais porque queriam estar informadas”.

Apesar de ainda ser cedo para afirmar que o online vai passar a ter uma presença mais forte na vida de todos, João Palmeiro indica que “há uma tendência normal para que assim seja”. Porém, não acha possível “dizer que uma coisa vai substituir a outra completamente”.

Da mesma forma, Luís Simões também considera que a circulação digital é passível de aumentar, já que as pessoas, estando em casa, “provavelmente estarão mais na disposição de dedicar mais tempo à leitura e aí acredito que possam entrar mais em sites [de notícias]”.

O site da Associação Portuguesa para o Controlo de Tiragem e Circulação (APCT) revela os dados de circulação paga de jornais, em imprensa e no digital. No entanto, os números mais recentes são de dezembro de 2019, pelo que ainda não existem dados atuais que confirmem se está, de facto, a existir uma quebra nas tiragens de jornais e revistas, ou se, por outro lado, a circulação digital está a aumentar. Os dados do primeiro trimestre deste ano – janeiro, fevereiro e março – apenas estarão disponíveis no final de maio.

Consequências negativas que requerem “medidas urgentes”

João Palmeiro considera que o impacto da COVID-19 terá consequências negativas no setor de imprensa escrita, nomeadamente, ao nível da publicidade e “sobretudo nos jornais mais locais e regionais, porque esses vivem muito da publicidade e comércio local”. “Com um número de clientes mais reduzido, naturalmente, a publicidade pode ser suspensa”, acrescenta. Seja no papel, seja no digital, a publicidade é, nos jornais, “uma fonte de rendimento e financiamento das edições muito importante”, conclui.

A Associação Portuguesa de Imprensa e a Associação de Imprensa de Inspiração Cristã enviaram, esta segunda-feira, um comunicado ao Governo onde pedem medidas de apoio que consideram “indispensáveis e urgentes”, “dada a enorme quebra da publicidade comercial derivada do cancelamento e abrandamento da atividade económica causada pela pandemia” da COVID-19.

No comunicado enviado pelas duas associações lê-se ainda que a “manutenção da edição e distribuição de jornais e revistas – bem como a edição online das respetivas publicações, será muito difícil se não forem tomadas imediatamente medidas de apoio”.

Entre algumas das medidas pedidas estão, por exemplo, a suspensão ou devolução do IVA da venda do papel e da impressão e o pagamento de todos os portes de distribuição postal das publicações periódicas destinadas a assinantes. O objetivo do comunicado conjunto enviado ao Governo é que as publicações periódicas cumpram a “missão de informar os seus leitores neste momento absolutamente de emergência nacional”.

As possíveis quebras de negócio na imprensa são um fator de preocupação generalizado: “temo que será não só muito complicado para a Global Media [que se encontra numa situação financeira delicada], como para a generalidade do setor”, adianta Luís Simões, do Sindicato de Jornalistas. “As receitas que podem ir buscar mensalmente ao online podem não ser suficientes. O setor já não está saudável e acho que a crise será generalizada”, afirma.

O papel do jornalismo em tempos de crise

O Estado “não pode deixar de usar a imprensa para comunicar com as pessoas”, é uma das mensagens que o presidente da Associação Portuguesa de Imprensa deixa. Em situações como esta, a imprensa é, de facto, “um elemento de confiança necessário e indispensável para que as pessoas saibam exatamente o que têm de fazer e como ultrapassar as dificuldades”, completa.

Luís Simões também destaca o papel do jornalismo nas circunstâncias atuais: “esta pode ser uma das coisas boas desta pandemia – as pessoas começam a achar determinante lerem informação e jornais credíveis. Acho que isso pode ser uma das lições desta crise”, conclui o vogal da direção da SJ. 

Artigo editado por Filipa Silva.