A edição deste ano da Queima das Fitas do Porto, que teria o seu início no dia 3 de maio, foi cancelada devido ao novo coronavírus. O regresso daquele que é um dos maiores eventos da cidade dar-se-á apenas em 2021. O anúncio foi feito ao início da noite desta terça-feira (17).

Em comunicado, a Federação Académica do Porto (FAP) – responsável pela organização dos festejos – justifica o cancelamento com o “cenário de incerteza de quando poderá ser retomada a atividade letiva, de quais serão os novos calendários académicos”.

O presidente da FAP, Marcos Alves Teixeira, frisa que, até ao momento, “a organização da Queima das Fitas do Porto decorreu sempre dentro da normalidade, mas sempre acompanhada por uma avaliação de risco, quer do ponto de vista logístico quer do ponto de vista social”.

O risco, este ano, está na pandemia de COVID-19, causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2). “Com o agravamento da pandemia, agravou-se o cenário de preocupação social e todas as medidas anunciadas pelo Governo vão ao encontro de uma postura de isolamento social, evitando aglomerados de pessoas”, refere o comunicado assinado por Marcos Alves Teixeira.

Face ao aumento da incerteza e escassez de alternativas, a decisão foi mesmo cancelar o evento. “Agravou-se o grau de incerteza para cenários alternativos, por via de falta de hipóteses significativas para novos calendários académicos. Esgotou-se, por isto, o tempo para adiar a tomada de decisão”.

A FAP esclarece que o cancelamento foi decidido “com o apoio das suas Associações de Estudantes” e é “resultado de uma decisão ponderada, conjunta e tomada depois de esgotados todos os cenários de alternativa”.

Marcos Alves Teixeira confirma, ao JPN, o cancelamento de todas as atividades — desde as noites da Queima, à beira do Parque da Cidade, à Serenata e ao Cortejo.

No comunicado, o dirigente escrevia que, “mais do que a tristeza” da decisão, deveria prevalecer em cada estudante “o sentimento de dever cumprido”.

“O dever de sermos um exemplo, de sermos cuidadores de nós e dos outros e de sermos jovens sem medo de fazer o certo mesmo quando é o mais difícil. Esta decisão é o mote para dizermos presente quando mais precisam de nós”, enfatizava, apelando à necessidade de os estudantes da Academia do Porto ficarem em casa.

No texto, o presidente da FAP referia que a preocupação era “assegurar o regresso seguro a casa” dos estudantes em situação de mobilidade e, também, de todos aqueles que se encontrassem a estudar no país, mas fora da cidade de origem. A manutenção do “bem-estar” dos alunos que tivessem de permanecer nas residências estudantis também surgia destacada no comunicado. Por fim, o presidente da Federação apontava para uma mobilização de esforços que permitisse consolidar o ensino à distância “da forma mais inclusiva e alargada possível”.

Marcos Alves Teixeira estava este ano, pela primeira vez, à frente da organização da Queima das Fitas, já que é a primeira edição desde que o estudante de Farmácia foi eleito presidente da FAP – cargo anteriormente ocupado por João Pedro Videira.

Estudantes tentam reverter a decisão da FAP

Entre os estudantes, circula já uma petição, na internet, para agendar a Queima para o verão deste ano, em vez de a cancelar totalmente. Os signatários pedem que os festejos se realizem após a época de exames.

No texto da petição, sublinham que “seria uma injustiça privar os estudantes caloiros e finalistas das suas primeira e última queima, tendo este evento tanto peso” nas memórias académicas.

Ao JPN, o presidente da FAP diz que ainda não teve conhecimento da petição, mas avança que o adiamento ainda para este ano “não será possível, porque, como diz o comunicado, o evento da Queima das Fitas foi cancelado para 2020. Portanto, para 2020, compreende-se o ano todo”.

O dirigente salienta que “todos os cenários foram postos em cima da mesa”, porque, explica, “a decisão de adiar uma Queima das Fitas é tão ou mais importante do que a cancelar, porque exigem as duas muita responsabilidade.” E reforça que “não havia condições para garantir que um adiamento significaria um adiamento e não seria só um cancelamento adiado”.

Marcos Alves Teixeira volta a lembrar que, nesta altura, a prioridade tem sido gerir a forma como as instituições de ensino superior estão a lidar com a COVID-19. “Acompanhamos de perto os problemas”, assegura o presidente da FAP, reiterando que o trabalho passou por garantir que todas as regras de segurança estavam a ser cumpridas.

“É daí que vem o cancelamento da Queima das Fitas, e para já é nisso que estamos focados, porque achamos que é o mais importante”, remata.

Prejuízos não estão calculados

Questionado pelo JPN sobre os prejuízos resultantes desta decisão, Marcos Alves Teixeira afirma que é “um trabalho que ainda está a ser feito”. “Não temos noção do impacto total, mas a decisão foi tomada com muita responsabilidade”, garante.

O “clima de suspensão” por que passa agora a Academia do Porto – e o ensino superior em todo o país – servirá para preparar “o impacto que virá do facto de não haver Queima das Fitas”.

“A incerteza foi a base disto tudo”, completa.

Artigo editado por Filipa Silva.